
BATUQUE
NO RIO GRANDE DO SUL
R-466-K-M-E-M
Retrocedendo no tempo, na geografia, cultura
e religiosidade na Africa, mesclando a atualidade poderemos com mais facilidade
entender a religião dos orixás, macumbas, xangôs, e claro o batuque do sul do
país brasileiro, bem como alguns países latinos.
Então teríamos na altura do Golfo de Benin,
onde encontraremos ao Sul os Bantos, que cultuavam além dos Orixás os espíritos
dos antepassados mortos, considerando que em Benguela, na Angola, existia um
culto chamado de "orodere" semelhante ao conhecido
"espiritismo", se compararmos hoje, a religião que cultua Orixás e
espíritos de antepassados é a Umbanda, com seus pretos-velhos, caboclos e
Orixás.
Já ao Norte encontramos , os negros
Sudaneses, que cultuavam os Orixás como os meios de ligação entre os homens e o
Deus maior, Olorum, características da Nação, Batuque.
Para o Rio Grande do Sul desceram os negros
da Costa da Guiné ou Nigéria, com suas Nações: Jeje, Ijexá, Oyó e Nagô.
Óbvio que nos navios, a escolha de ficar
juntos aos demais de sua tribo, família ou amigos, não pertencia aos negros,
estes eram misturados, havendo assim uma união de nações, destacando-se suas
peculiaridades.
Nascendo assim outras nações: Jeje-Ijexá,
Jeje-Oyó, Jeje-Nagô, e assim por diante.
Esta questão já está
dimensionada desde os anos 50, nas pesquisas etnográficas de Roger Bastide
sobre a Religião Africana no Rio Grande do Sul.
São consideradas religiões
Afro-Brasileiras, todas as religiões que tiveram origem nas religiões
africanas, que foram trazidas para o Brasil pelos escravos.
Batuque, Candomblé,
Catimbó, Culto aos Egungun, Culto de Ifá, Jurema sagrada, Quibanda, Macumba
,Tambor-de-Mina, Umbanda Xangô do Nordeste, Xambá.
As Religiões
Afro-Brasileiras são relacionadas com a Religião Yorubá e outras Religiões
africanas, e diferentes das Religiões Afro-Caribenhas como a Santeria e o Vodu.
Documentos centenários mostram que na
cidade onde moro, Rio Grande foi através do porto a entrada oficial de negros
no Estado, principalmente escravos nativos da
Costa da Mina.
Faço uma “a parte” sobre
um célebre negro importante no batuque, ”Príncipe Custódio“
“....Por qual motivo o exilado escolheu o Brasil, não se
sabe. Talvez por haver aqui grande número de descendentes dos escravos nativos
da Costa da Mina - os chamados "pretos-mina" - ou outra qualquer
razão.
A sua
chegada ao país foi assinalada como tendo acontecido em 1864, dois anos depois
de ter deixado Ajudá. Inicialmente, fixou-se em Rio Grande.
Mais
tarde, foi para o interior de Bagé, onde ficou conhecido por manter viva a
tradição religiosa do seu povo - com a prática do que agora se conhece como
Batuque - além de mostrar conhecimentos das propriedades curativas da flora
medicinal brasileira, atendendo a muita gente doente que o procurava, tratando
de minorar-lhes os males por meio de ervas e rezas dos ritos africanos.”
..continuo... mas não
apenas os pretos minas, mas uma grande quantidade de
negros livres, na maioria nordestinos, podendo observar que existe algumas
semelhanças entre o Batuque e o Xangô de Pernambuco, onde os rituais aos orixás
são em verdade os mais ligados a antiguidade bem como os sacerdotes são os que
mais procuram seguir ritos organizados, fortalecendo a casta sacerdotal.
O Batuque é um culto
afro-brasileiro, por que não dizer afro-gaúcho, com influência sudanesa, onde
são cultuados entre 12 a 16 Orixás.
Os Orixás são espíritos
naturais, a própria encarnação da natureza, que se utilizam dos filhos-de-Santo
para se manifestar na terra, trazendo suas características sob influência da
Mãe Natureza.
No Batuque, os rituais são
exclusivamente aos Orixás.
Algumas regras são
unanimidade, como podemos observar até nas lendas dos orixás, dentre elas
observa-se que o orixá Bará é sempre o
homenageado antes de qualquer outro, e encontra-se seu assentamento em
todos os barracos.
O candomblé, onde existe
mais mistura de entidades e orixás chamam de Exú o que no Batuque é Bará, no
entanto existe pontos que o diferenciam desde o seu assentamento, ebós, finalidades
e elementos de ligação, já que no Batuque Bará tem a mesma posição dos demais
orixás, com suas atribuições específicas, talvez a única situação idêntica seja
que tanto no batuque como no candomblé ele seja sempre o primeiro a ser
chamado, homenageado e claro responsável pela ligação entre o mundo material e
espiritual.
Como sempre faço questão
de salientar e até para mostrar a não necessidade de estar atrelado a igreja
católica, embora atualmente com algumas mudanças, políticas é claro, (não
precisa ter comprovado 2 milagres para ser consagrado santo...), mas que
exerciam influência, como creditar a alguns
orixás mais poder que a outros.
Não existe um orixá mais
importante do que o outro, eles simplesmente se completam cada um com
determinadas funções dentro do culto.
Temos então uma relação
que praticamente é unanimidade:
Estes Orixás são:
–
Bará.
–
Ogum.
–
Oiá-Iansã.
–
Xangô.
–
Odé- Otim.
–
Oba.
–
Omulu-Obaluaiê.
–
Nanã.
–
Ossaim.
–
Odé.
–
Oxum.
–
Oxumarê
–
Iemanjá.
–
Oxalá.
–
Erês.
Poderíamos dividir essas entidades também
como do mel e do dendê.
Mas o que é mais importante é que em cada
entidade existe várias outras agrupadas, subgrupos identificados em alguns
Orixás com o primeiro nome, seguido de um segundo, como por exemplo:
Bará: Bará Legba, Bará Lodê, Bará Lanã,
Bará Adaqui e Bará Agelú...
Ogum: Ogum Avagã, Ogum Onira, Ogum Olobedé
e Ogum Adiolá...
Iansã: Iansã, Oiá Timboá e Oiá Dirã...
Xangô: Xangô Agandjú de Ibedji, Xangô
Agandjú e Xangô Agogô...
Obaluaiê: Xapanã Jubeteí, Belujá, Sapatá
Oxum: Oxum Pandá de Ibedji, Oxum Pandá,
Oxum Demun, Oxum Olobá e Oxum Docô...
Iemanjá: Iemanjá Bocí, Iemanjá Bomí e Nanã
Borocum
Oxalá: Oxalá Obocum, Oxalá Olocum, Oxalá
Dacum, Oxalá Jobocum e Oxalá de Orumiláia...
Estes segundos nomes dos Orixás identifica
a atuação deles no contato com o humano desde sua manifestação como sua forma
de atuação.
Existe ainda um
terceiro nome que cada Orixá identifica no jogo de Búzios, este nome passa a
ser a identificação secreta, que cabe apenas ao Pai-de-Santo, ao filho e ao
Orixá obviamente, ficando o Orixá com três nomes: como por exemplo Iansã
Obilaia Bola, este terceiro é o segredo.
Os Orixás que não possuem a subdivisão, o
segredo passa a ser o segundo nome, exemplo: Ossanha Egué.
Assim como nomes, cada Orixá tem seu tipo
de ebó, ave, seu tipo de animal de quatro patas e seu tipo de oferenda, vinculado
ao sua atividade no contexto funcional e social.
Todo ser humano nasce sob a influência de
um Orixá, e em sua vida terá as vibrações e a proteção deste Orixá que está
naturalmente vinculado e rege seu destino, com características individuais, em
que o Orixá exige sua dedicação, onde este poderá ser um simples colaborador
nos cultos, ou até mesmo se tornar um Babalorixá ou Iyalorixá.
O batuque é uma religião onde se cultuam
vários Orixás, e seus nomes são oriundos de várias partes da África, e suas
forças estão em parte dentro dos terreiros, onde permanecem seus assentamentos
e na maior parte na natureza: rios, lagos, matas, mar, pedreiras, cachoeiras
etc., onde também invocamos as vibrações de nossos Orixás.
No Batuque também temos a parte dos
rituais destinados ao culto dos Eguns.
Este é um ritual cheio de magia e segredos
onde poucos sacerdotes têm o completo domínio.
A casa dos Eguns, espíritos dos mortos que
na maioria foram iniciados no culto, tendo portanto conhecimento, fica separada dos orixás, onde são feitos diversas
obrigações em determinadas datas e quando morre alguém ligado ao terreiro, este
local é denominado Balê.
Aos Eguns também são oferecidos
sacrifícios de animais, e comidas diversas que fazem parte somente deste ritual,
não podendo ser usados em outras ocasiões.
Os Eguns, assim como os Orixás, tem suas
rezas próprias, feitos na linguagem yorubá, e em dias de obrigações recebem
toques ao som de tambores frouxos e sem o acompanhamento de agê, instrumento
feito com uma cabaça inteira trançada com cordão e contas diversas, esse ritual
não é muito comum no Batuque e sim mais no candomblé ou em casa que chamam de
“cruzada”, tendo o acesso limitado a olhares outros.
Cada nação, cada casa tem rituais
diferentes para este tipo de obrigação.
No Rio Grande do Sul o batuque, os templos
terreiros são quase que em sua totalidade vinculados as casas de moradia.
É destinado um cômodo, geralmente na parte
da frente da construção onde são colocados os assentamentos dos Orixás.
Neste local são feitos todos os
fundamentos de matanças e trabalhos determinados, oferendas para os Orixás, e o
local é considerado sagrado, pessoas vestidas de preto, mulheres em dias de
menstruação não entram, também o estado febril tanto de homens como de mulheres.
Junto à esta parte da casa, chamada de
quarto de Santo ou Peji, há o salão onde são realizadas as festas para os
Orixás.
O estado do Rio Grande do Sul foi e ainda
é o maior responsável pela exportação dos rituais africanos para outros países
da América do Sul, entre eles Uruguai, Paraguai e Argentina, que também
procuram seguir a maneira de cultuar os Orixás, e a construção dos templos
seguem exemplos dos seus sacerdotes.
Dentro de uma Casa de Religião encontramos
uma verdadeira família, como as de padrão convencional.
Em primeiro lugar encontramos o Pai ou
Mãe-de-Santo, posição máxima, esta pessoa que através das ordens do seu Orixá
de cabeça, organiza e aconselha a vida religiosa e muitas vezes material de
seus filhos-de-santo, que são irmãos entre si, os irmãos-de-santo do Pai ou da
Mãe, são os tios e assim por diante, como em nossa família.
Todos os Orixás são montados com
ferramentas, Okutás,otás,pedras. etc., e permanecem dentro da mesma casa, com
exceção do Bará Lodê e do Ogum Avagã, que tem seus assentamentos numa casa
separada, ficando à frente do templo onde recebem suas oferendas e
sacrifícios.Muito embora essa prática esteja também sendo alterada eas
entidades manipuladas ficam juntas com as demais dentro do peji.
A casa dos Eguns também tem lugar
definido, é uma construção separada da casa principal, na parte dos fundos do
terreiro, onde são feitos diversos rituais.
Em caso de falecimento do Babalorixá ou
Iyalorixá, dono do terreiro, fica a critério da família o destino do templo, geralmente
não tendo um familiar que possa suceder o morto o templo é fechado.
Na maioria dos casos na morte de um
sacerdote, todas as obrigações são despachadas num ritual especifico chamado de
Axexê, por este motivo é muito difícil encontrar ilês com mais de 60 anos, são
muito poucos os sacerdotes que destinam seus axés à um sucessor, para dar
prosseguimento à raiz.
O babalorixá ou Iyalorixá tem a
responsabilidade de formar novos sacerdotes, que darão continuidade aos
rituais. Para isto é preciso preparar novos filhos de santo, que durante um
certo período de tempo aprenderão todos os rituais para preservação dos cultos.
O sacerdote chefe deve passar aos futuros
Pais ou Mães de Santo, todos os segredos referente aos rituais tais como: uso
das folhas folhas sagradas, execução de trabalhos e oferendas, interpretação do
jogo de búzios, e até mesmo como preparar um novo sacerdote.
Geralmente o futuro sacerdote já nasce no
meio religioso, onde conviverá acompanhando todos os diversos rituais que darão
suporte a seus afazeres dentro do culto, e terá pleno conhecimento de todos os
tipos de situações que enfrentará em seu futuro templo.
O tempo de aprendizado é longo, não se
forma um verdadeiro sacerdote de Orixás com menos de sete anos de feitura, e os
ensinamentos são passados de acordo com a evolução da capacidade de aprendizado
que o noviço tem, já que os ensinamentos são feitos oralmente, não há livros
para ensinar os rituais, a melhor maneira de aprender tudo é conviver desde
cedo dentro dos terreiros.
O Orixá sem ser em festas ou obrigações
(rituais) que veremos a seguir, se comunica com seus fiéis através do Ifá ,no
jogo de Búzios, utilizando as mãos e intuição de um pai ou mãe-de-santo.
O jogo de Búzios é a principal, eficaz e
mais rápida ferramenta, de sabermos sobre o mundo, necessidades de homens e dos
próprios Orixás, a fim de melhorar o andamento das coisas.
Toda pessoa ao nascer recebe um Orixá na
cabeça, outro no corpo, este casamento de Orixás, da cabeça com o corpo,
denominamos de Adjuntó, e em alguns casos nas pernas, pés e assim por diante,
este Orixá é visualizado quando é jogado os búzios pelo Pai-de-Santo, que
também ficará sabendo, normalmente neste jogo, se esta pessoa necessitará fazer
alguma obrigação religiosa ou apenas um simples trabalho, não tendo que se
comprometer mais a fundo com a Religião.
A principal característica do ritual do
Batuque é o fato do iniciado não poder saber em hipótese alguma que foi
possuído pelo seu Orixa, sob pena de ficar louco.
Cada Babalorixá ou Iyalorixá tem autonomia
na prática de seus rituais, não existem nomenclaturas de cargos como tem no
Candomblé, exercem plenos poderes em seus ilês. Os filhos de santo se revezam
nos cumprimentos das obrigações.
No mínimo uma vez por ano são feitos
homenagens com toques para os Orixás, mas as festas grandes são de quatro em
quatro anos. Chamamos de festa grande a obrigação que tem ebó, ou seja quando
há sacrifícios de animais de quatro patas aos Orixás, cabritos, cabras,
carneiros, porcos, ovelhas, acompanhados de aves como galos, galinhas e pombos.
Mas este ritual também depende de cada
Zelador.
Normal hoje em dia não executar matanças
por qualquer motivação.
Esta obrigação serve para homenagear o
Orixá "dono da casa" e dos filhos que ainda não possuem seu próprio
templo.
A data é geralmente a mesma que aquele
sacerdote teve assentado seu Orixá, a data de sua feitura. As festas têm um
ciclo ritual longo, que antigamente duravam 32,21 dias de obrigações, hoje diante das
dificuldades duram no máximo 16.
O começo de tudo são as limpezas de corpo
e da casa, para descarregar totalmente o ambiente e as pessoas, de toda e
qualquer negatividade; em seguida são preparados as oferendas e sacrifícios ao
Bará.
A partir deste momento, os iniciados já
ficam confinados ao templo, esquecendo então o cotidiano e passam a viver para
os Orixás por inteiro até o final dos rituais.
No dia do serão ,dia da obrigação de
matança, todos Orixás recebem sacrifícios de animais.
Os cabritos e aves são preparados com
diversos temperos e servidos a todos que participarem dos rituais, tudo é
aproveitado, inclusive o couro dos animais, que sevem para fazer os tambores
usados nos dias de toques.
No dia da festa o salão é enfeitado com as
cores dos Orixás homenageados.
A abertura se dá com a chamada Xirê, feita
pelo sacerdote em frente ao peji usando
a sineta ,adjá, saudando todos Orixás.
Ao som dos tambores, as pessoas formam uma
roda de dança em louvor aos Orixás, a cada um com coreografias especiais de
acordo com suas características.
No final das cerimônias são distribuídos
os mercados, bandejas contendo todo tipo de culinária dos Orixás como: acarajé,
axoxó , farofa de aves, carnes de cabritos cozidas ou assadas, frutas, fatias
de bolos etc., que podem ser consumidas no local e ou comer em casa.
Durante a semana são feitos outros rituais
de fundamentos para os Orixás, inclusive a matança de peixe, que para os
batuqueiros significa fartura e prosperidade, os peixes oferecidos são da
qualidade da região seguindo as regras de cada orixá .
No sábado seguinte é feito o encerramento
das obrigações, com mesa de Ibejes e toque, novamente em homenagem aos Orixás,
neste dia são distribuídos mercados com iguarias e o peixe frito, significando
a divisão da fartura e prosperidade com os participantes das homenagens aos
Orixás.
Após o encerramento, o sacerdote leva os
filhos que estavam de obrigações ao passeio.
água, à igreja, ao mercado público.
O passeio faz parte do cumprimento dos
rituais.
Após o passeio todos estão liberados para
seguirem normalmente o cotidiano de suas vidas.
Que o PAI ilumine e esclareça.
Ou
jafusi Inanga.
CONTATO
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