quarta-feira, 9 de março de 2022

Conhecimento Merecido


"CONHECIMENTO MERECIDO"

R-20-120318
A preservação do culto aos orixás e sua qualidade depende muito da maneira que é feita a transmissão do conhecimento ao longo do tempo.
O método adotado no passado e o de hoje para manter intacta a liturgia, leis, regras deixam a desejar na medida que muitos interesses se formaram ao longo da estrada.A qualidade portanto, acaba sofrendo os agulhaços de consequência social, política e religiosa predominante ao longo dos séculos.
As religiões mais fortes ou mais ricas, seria melhor colocar assim, e refiro-me rica em valores materiais, pois como poderemos em pleno juízo medir a verdade alheia? Por em dúvida a religiosidade dos nossos irmãos e o valor de outras crenças? Não, não podemos e não vamos lançar julgamento.
Nos interessa exclusivamente manter a nossa religião o mais coesa possível.
Mas a maneira com que ela vai se manter depende de como vai ser transmitida.
Na antiguidade o conhecimento só podia ser passado de maneira oral, não por determinação dos orixás, mas por limite cultural, desta maneira somente alguns tinham o conhecimento e detinham os preceitos mais fundamentais. A cultura era limitada, ler e escrever não é para muitos, portanto a cabala, os símbolos se difundiram a modo de perpetuar os ensinamentos, no entanto dificultava quem não tinha interesse real ou não era apto.
O fator socioeconômico teve influência predominante na violação dos segredos básicos e elementais. Quem podia pagava para . Quem ensinava só passava o que o dinheiro pagava, e escondia o resto, muitas vezes levando para o túmulo.
A mistura de ritos, costumes, deturpações das regras, linguagem e até mesmo no caráter de determinadas entidades foram maculadas por tradições mais fortes e poderosas principalmente politicamente.
O meio social em que estavam presentes os antigos babas foram corrompidos quando do auge da escravidão de corpos.
Nos navios negreiros misturaram-se as raízes e para sobreviver melhor foi uni-las, mesmo que o preço de perder a essência fosse pago a gotas de sangue.
O pior ainda estava por vir, quando alguns com desculpas de estudos começaram a cavar fundo para manipular as raízes e usando a desculpa do modernismo, adaptação, e tantas coisa mais alteraram o curso do rio.
Observa-se também que pelo fato do conhecimento só poder ser passado de maneira oral,e reafirmo que não foi por determinação dos orixás, mas sim e principalmente por limite cultural, principalmente pelos que trouxeram a religião para o Brasil, aconteceu um apelo até por sobrevivência, e em pior da hipótese não ser perdido de vez a liturgia, o legado dos antepassados, muitos que detinham o conhecimento passaram a “vende-lo”.
Daí não houve o repasse do conhecimento por quem tinha para quem merecia, mas sim de quem tinha em dose dupla, ou seja, tinha o conhecimento e necessidades básicas materiais, escolhendo então quem pudesse pagar.
Deveria ter sido no passado e deve ser no presente, o repasse do conhecimento ao escolhido, por suas qualidades ou por orientação dos orixás quando determinado no jogo de Ifá. Infelizmente é mais comum o conhecimento, embora parcial, ser passado não pelo merecimento ou por ordem dos orixás, mas sim pelo poder financeiro.
O sacerdócio não pode ser negociado, ele esta comprometido com o carma do indivíduo que usará seu livre arbítrio para consuma-lo ou não.
O importante é deixar bem esclarecidos que o dom, o destino, predestinação, não podem ser negociados com objetivo único de tirar vantagens, ou por mero capricho da vaidade. Vocação sacerdotal é coisa séria. 
O fato de fazer o "SANTO" não habilita a pessoa a ser "PAI " ou " MÃE " - de -santo, ou imediatamente ocupar um lugar de destaque na casa.
Sou a favor da evolução pois é uma lei natural, no entanto certos preceitos no tocante as religiões tem que ser preservados correndo o risco de o mistério ser exposto e encontrar barreiras absurdas que as fazem perder a engrenagem a que estão organizadas.
Com o passar do tempo não se admite mais que o conhecimento seja apenas passado de maneira oral.
É importante o bate-papo para aprofundar e personalizar o ensinamento, mas utilizar os meios existentes para a divulgação, orientação significa muito mais que expor o conhecimento, na realidade tem seu valor elevado para o conhecimento ser propagado, desmistificado, deixando apenas ritos importantes e sacramentais a disposição daqueles que fazem por merecer ao longo de uma jornada de 3 dekas.
Mas o critério tem que ser mantido : "SEGREDO PASSADO POR QUEM TEM, PARA QUEM O MERECE RECEBER."
Ou jafusi Inanga.
07/02/1993



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