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sexta-feira, 3 de junho de 2011

Lenda dos Orixás Odús

LENDA dos ORIXÁS









ODÚS

A UNIÃO FAZ A FORÇA

Um certo casal, apesar de se amarem muito, viviam brigando por absoluta falta de compreensão.
A desarmonia superava o amor e a convivência já era insuportável, por este motivo, foram procurar um babalaô em busca de orientação.
No jogo, surgiu EJIOKO, que determinou um sacrifício composto de um casal de pombos brancos, fitas de várias cores, ori da costa, 2 carangueijos, 200 búzios.
Como o casal não possuísse recursos suficientes, foi preciso que a mulher preparasse muito mingau de acaçá, para o marido vender no mercado para obter dinheiro para o material do ebó.
Oferecido o ebó, o que só foi possível pelo trabalho conjunto do casal, voltou a reinar a paz e a compreensão entre os dois, que continuaram a trabalhar da forma que fizeram para obter o dinheiro do sacrifício.


ADULTÉRIO ENGANOSO

Ifá e o Male eram amigos.
Um dia Male disse a Ifá:
-Vou procurar uma mulher grávida, se ela concordar, será instalada em minha casa, pra que não tenha contato com mais ninguém. Se esta mulher parir uma menina, eu a criarei para que seja minha esposa: sou muito ciumento para casar-me com uma mulher de cuja inocência não tenha absoluta certeza. Indo ao mercado, ele encontrou uma mulher grávida, que concordou em colaborar com seus planos.
Passado algum tempo a mulher deu a luz uma linda menina, para alegria do Male, que ficou muito contente e logo pôs-se a pensar:
-Como poderei evitar que olhos masculinos vejam esta menina, até o dia em que possa desposa-la?
Decidiu então construir uma casa dentro de sua própria casa e ali instalar mãe e filha.
Nenhum homem, nem mesmo ele, tinha acesso a menina, que cresceu rapidamente.
Quando a jovem completou dez anos, sua mãe abandonou a casa, deixando-a sozinha.
Enquanto isso, Ifá contava os anos de idade da menina. Um dia, achando que ela já deveria estar suficientemente grande, foi visitar Male e chegando a sua casa, entrou saudando-o cordialmente.
Depois da visita, Ifá pôs-se a pensar: Como é que pode?
O Male contratou uma mulher grávida que pariu uma menina, esta menina jamais viu ou foi vista por qualquer pessoa do sexo masculino!
Nem mesmo, o rei de nosso pais, viu a criança.
Mas eu vou tentar vê-la!
Munindo-se de seus instrumentos adivinhatórios, fez a consulta, surgindo OBARA MEJI, que lhe recomendou que tomasse uma caixa, acaçá, um galo, azeite de dendê e fizesse uma oferenda a Légba.
Feito isto, teria que entrar na casa de Male e tranca-la por dentro com a chave.
Ifá preparou tudo e foi a casa do amigo. Lá chagando saudou-o, entrando no quarto do amigo, disse: “amanhã partirei em viagem, gostaria de confiar-lhe a caixa de meu tesouro. Minha mulher preferida lhe entregará a caixa, para que você a guarde em lugar tão seguro que nenhum homem possa encontrá-la.
Como não?disse o Male. “Não somos amigos? Quando partirás?
-Dentro de três dias e só voltarei daqui a três meses. No terceiro dia pela manhã, Légba disfarçado na esposa preferida de Ifá, foi a casa de Male e disse: “meu marido encarregou-me de procura-lo para entregar-lhe a caixa que se encontra embrulhada nestes panos.
Ele virá busca-la dentro de três meses, quando regressará da viagem. Male chamou a escrava que cuidava da menina, para que guardasse a caixa na casa onde vivia a jovem, mas a caixa era por demais pesada e a mulher não pode carregá-la.
Diante do impasse, Male resolveu levar ele mesmo a caixa para o quarto da jovem e ao faze-lo, viu-a pela primeira vez, saindo em seguida e trancando por fora todas as portas.
Ifá, que mantinha-se escondido dentro da caixa, vendo Male sair, trancou por dentro a porta do quarto da jovem e avistou-a, saudou-a, no que foi correspondido.
Você me conhece?” perguntou. “Não!” retrucou a moça.
Ifá então colocou-se a vontade e começou a divertir a moça, depois, deitando-se com ela, possuiu-a. Isto feito aconselhou a jovem a lavar-se com água morna, no que foi atendido. Ifá só se alimentava de obi.
Finalmente, a jovem ficou grávida e Male de nada desconfiou.
Como estivesse próximo de findar-se o terceiro mês, Ifá disse a moça:
-se o Male lhe indagar sobre sua barriga, não fale nunca no meu nome.
Findo, o terceiro mês, Ifá encerrou-se novamente na caixa, que a moça embrulhou nos panos, da mesma forma que viera.
Légba, novamente disfarçado na mulher de Ifá, apresentou-se ao Male dizendo: “meu marido chegou de viagem e pediu que viesse buscar sua caixa, e assim que se sinta descansado, virá agradecer pessoalmente pelo grande favor prestado.
Depois de seis meses, o Male resolveu tomar a jovem como mulher. Lavou-se cuidadosamente, vestiu um belíssimo búbú que lhe havia presenteado Ifá, entrou no quarto e encontrou a moça com uma enorme barriga...
Male correu a contar o acontecido ao rei, que surpreso, mandou que cuidasse do parto, já que havia uma gravidez. O dia do parto chegou, a criança, antes de nascer, tinha que ouvir o nome do pai pronunciado por sua própria mãe. O Male não conseguia entender o que se passava.
A mulher gemia e contorcia-se em dores. A criança teimava em não nascer.
Foi então que resolveu pedir os conselhos de seu amigo Ifá. Ifá consulta e surge novamente OBARA MEJI, exigindo que uma perna de antílope seja sacrificada.
Ao receber a oferenda, a mulher cheia de dores, perguntou: “Quem me envia esta carne? - “É Ifá quem te oferece!”- Ifá? Que Ifá?- “O que disse?Perguntou Ifá. - “Ifá!- “O que?- “Ifá! Eu falei Ifá! Foi Ifá que me deu esta carne!Quando a mulher acabou de falar, a criança, ouvindo o nome de seu verdadeiro pai, resolveu sair para o mundo... e era o retrato de Ifá.

AS PORTAS DO SABER

Naquele tempo, Orunmilaia não era mais que um jovem, que de excepcional, possuía apenas uma vontade imensa de saber tudo o que pudesse.
Em suas andanças sobre os países então conhecidos, soube da existência de um grande palácio, onde havia dezesseis quartos, num dos quais encontrava-se aprisionada uma belíssima donzela denominada Sabedoria. Muitos jovens aventureiros, guerreiros poderosos, príncipes e monarcas, já haviam sucumbido, na tentativa de resgatar a bela jovem.
Determinado a conquistar Sabedoria, Orunmilaia dirigiu-se ao local onde estava edificado o palácio e no caminho encontrou um mendigo que, estendendo-lhe a mão, pediu um pouco de comida.
Orinmilá pegou um pequeno saco com um pouco de farinha de inhame, que era tudo o que tinha para comer e de um pouco de epô pupa, misturando tudo e dividindo com o mendigo, comendo uma pequena parte do alimento. Depois de alimentar-se, o mendigo revelou a Orunmilaia seu nome, dizendo chamar-se Elégbara e como agradecimento, ofereceu ao jovem aventureiro um pedaço de marfim entalhado, dizendo:
-Com este marfim, denominado Irofa, deveras bater as portas dos dezesseis quartos do palácio, pois só assim elas se abrirão.

Do interior de cada quarto, ouvirás uma voz, que te perguntará:
Quem bate?
Te identificarás, dizendo que és Ifá.
A voz, então perguntará então, o que estás procurando e tu dirás, estando diante da porta do primeiro quarto, que desejas conhecer a vida e que queres conquistá-la em nome de EJIOGBE. A porta então se abrirá e conhecerás os mistérios da vida.
No segundo quarto, quando a voz te perguntar o que desejas, depois de haver-te identificado como da forma anterior, dirás que desejas conhecer Iku. A Morte e que queres dominá-lo, por intermédio de OYEKU MEJI.
A porta se abrirá e conhecerás a morte, seus horrores e mistérios. Se não demonstrares medo em sua presença, haverás de adquirir domínio absoluto sobre ela.
Na terceira porta, encontrarás um guardião denominado, IWORI MEJI, que depois de reverenciado, te colocara diante dos olhos, os mistérios da vida espiritual e dos nove Orun, onde habitam deuses, demônios e todas as classes de espíritos que irás conhecer.
Na quarta porta, reclamarás por conhecer o jugo da matéria sobre o espírito e o guardião desta porta chama-se ODI MEJI a quem deveras demonstrar respeito sem submissão.
É necessário que não te deixes encantar pelas maravilhas e os prazeres que se descortinarão diante de teus olhos pois podem escravizar-te pra sempre, interrompendo tua busca. Já na quinta porta, quando fores indagado, dirás que procuras pelo domínio do homem sobre seus semelhantes, através do uso da força e da violência, da tortura e do derramamento de sangue. Aprende, mas não utilizes jamais, as técnicas ali reveladas, para não te tornares, tu mesmo, uma vítima delas.
Na sexta porta, serás recepcionado por um gigante de sexo feminino, que saudarás pelo nome de OWONRIN MEJI e a quem solicitarás ensinamentos relativos ao equilíbrio que deve existir no universo e então compreenderás o valor da vida e a necessidade da morte, o mistério que envolve a existência das montanhas e das rochas. Ali, serás tentado pela possibilidade de obter muita riqueza, mulheres, filhos e bens materiais. Resiste a estas tentações ou verás tua vida ser reduzida a uns poucos dias de luxúria.
Na sétima porta, encontrarás OBARÁ MEJI, é velho e de aparência bonachã, poderá te ensinar prodígios de cura, soluções para os problemas mais intrigados, te dará a possibilidade de realizar todos os anseios e desejos de realizações humanas. Toma cuidado no entanto, pois o domínio deste conhecimento pode conduzir-te a prática da mentira, a falta de escrúpulos e à loucura total.
No oitavo aposento, deverás solicitar a permissão de OKANRAM MEJI para conheceres o poder da fala humana, que infelizmente é muito mais usada na prática do mal que do bem. Este guardião te falará em muitas línguas e de sua boca só ouvirás lamentações e queixas. Aprenda depressa e depressa foge deste local, onde esta a falsidade e a traição.
Na nona porta, pedirás permissão ao seu guardião, OGUNDÁ MEJI, para conheceres a corrupção e a decadência, que podem levar o ser humano aos mais baixos níveis da existência. Naquele quarto, encontrarás todos os vícios que assolam a humanidade e que a escravizam em correntes inquebráveis, verás o assassinato, a ganância, a traição, a violência, a covardia e a miséria humana, brincando de mãos dadas, com muitos infelizes que se tornaram seus servidores.
No décimo aposento, deverás apresentar reverências a uma poderosa feiticeira, cujo nome é OSA MEJI. Ela vai te ensinar o poder que a mulher exerce sobre o homem e o porque deste poder, conhecerás seres poderosos que funcionam na prática do mal, todos os demônios denominados Ajés se curvarão diante de ti e te oferecerão seus serviços, malefícios que, caso aceites, fará de ti o ser mais poderoso e odiado sobre a face da terra. Aprenderás a dominar o fogo e a utilizar o poder dos astros sobre o que acontece no mundo, principalmente a influência da Lua sobre os seres vivos. Cuida pra que estes conhecimentos não te transformem num bruxo maldito.
Bate agora teu Irofa na décima primeira porta e a voz de seu guardião, IKÁ MEJI, o gigante em forma de serpente, te fará estremecer. Saúda-o respeitosamente e solicita dele, permissão para descortinar o mistério que envolve a reencarnação, o domínio sobre os espíritos Abikú, que nascem para morrer imediatamente. Aprende a dominar estes espíritos e desta forma poderás livrar muitas famílias do luto e da dor.
A décima segunda porta te reserva surpresas e sustos sem fim. Seu guardião se chama OTURUKPON MEJI, é do sexo feminino e possui forma arredondada, mais se parecendo com uma grande bola de carne, quase sem forma. Trata-se de um gênio muito poderoso, que poderá te revelar todos os segredos que envolvem a criação da terra, além de ensinar-te como obter riquezas inimagináveis. Aprende com ele o segredo da gestação humana e a maneira de como evitar abortos e partos prematuros, depois, parte respeitosamente em busca do próximo aposento.
Aqui está a décima terceira porta, bate com cuidado e muito respeito. Neste aposento reside um gigante que costuma comunicar-se, de forma intima e constante, com a Deusa da Criação, Oduduwa, a Grande Mãe. Aprende agora, como é possível separar as coisas, dominar o mistério de dissociar os átomos, adquirindo assim, pleno poder sobre a matéria. Aprende também a utilizar a força mágica que existe nos sons da fala humana, mas usa esta força terrível com muita sabedoria.
Já diante da décima quarta porta, irás defrontar-se com IRETE MEJI, que nada mais é que o próprio espírito de Ile, a Terra. Faz com que desvende os mais íntimos segredos, agrada-o, presta-lhe permanentemente reverências e sacrifícios. Contacta, por seu intermédio, os Espíritos da Terra, transforma-os em teus aliados, conhece os segredos de XAPANÃ, da peste que mata e cura da forma que melhor lhe aprouver, aprende com ele, o poder da cura, já que matar é tão mais fácil.
Na décima quinta porta, serás recepcionado por OSHE MEJI, que irá te falar de degeneração, decomposição, putrefação, doenças e perdas. Aprende a sanar estes males e sai dali o mais depressa possível, para não seres também vitimado por tanta negatividade, gerada numa relação incestuosa.
Finalmente, a décima sexta porta. O último obstáculo que te separa de tua desejada musa. Aí reside OFUN o mais velho e terrível dos dezesseis gênios guardiões. Saúda-o com terror, gritando “Hepa Baba”! Só assim poderás aplacar sua ira. Contempla-o com respeito, más não o encare de frente. Observa que ele não é um gênio como os que conhecestes nas quinze portas que a esta precediam. Este é OFUN MEJI, aquele que gerou todos os gênios que o precedem, é a reunião de todos os demais, que nele habitam e que dele se dissociam de forma ilusória. Conhece-lo é conhecer todos os segredos do universo. É isto que buscavas, oh Orunmilaia ! Domina-o e resgata para ti a bela donzela chamada Sabedoria. Toma-a para ti e possua-a para todo o sempre, pois agora és Ifá e nada pode mais que .


ASTUTA


Uma jovem muito pobre, conhecida pelo nome de Ialode, era muito astuta e ambiciosa, o que a tornava perigosa. Pretendendo melhorar sua situação, Ialode foi consultar Ifá, na esperança de receber as orientações necessárias.
No decorrer da consulta, surgiu o ODU OSHE MEJI, que prescreveu um sacrifício que Ialode tratou logo de oferecer. No dia seguinte, quando passava pela porta do palácio do rei Oba Nla, a jovem foi acometida de uma fúria inexplicável e pôs-se, em altos brandos, a culpar o rei pela situação de miséria em que vivia.
O rei é um perverso insensível. Gritava a jovem, tem o que deseja e por isso não se incomoda com a miséria de seus súditos!
As pessoas que passavam, ao ouvirem as acusações feitas pela jovem, tomaram partidos diferentes, alguns achando que ela estava coberta de razão, enquanto outros defendiam Oba Nla, por conhecerem sua bondade e senso de justiça.
Ao ser informado do que estava ocorrendo, o rei ordenou que a moça fosse imediatamente conduzida a sua presença, para um entendimento pessoal.
Frente a frente com o rei, Ialode relatou suas desditas, chorou suas magoas e falou de seus sonhos de jovem. Impressionado com a coragem da moça e com a sinceridade que marcava o seu caráter, Oba Nla, mandou que lhe fosse dado um aposento no palácio, onde a partir de então, a jovem passou a residir cercada de todo o luxo e conforto que sempre desejou desfrutar, ficando desde então, encarregada de todo o ouro que pertence a Oba Nla.



BANDEIRA BRANCA


Há muito tempo, dois príncipes disputavam entre si, o trono de Abeokuta.
O primeiro príncipe, chamado Kun, foi consultar Ifá, para saber de que forma poderia resolver favoravelmente a questão e na consulta surgiu EJIOKO, que determinou que fosse oferecido um sacrifício a BARÁ, de um etu e vários pregos, além de todas as coisas que fazem parte dos sacrifícios oferecidos a BARÁ. Kin, no entanto, afirmou para si mesmo:-
Não preciso oferecer nada a BARÁ para que o trono de Abeokuta me seja entregue. Sou mais forte que meu concorrente e vou derrotá-lo numa luta corporal, resolvendo a questão definitivamente.
O segundo príncipe, conhecido pelo nome de Koogun, também foi se ver com Ifá, saindo na sua consulta o mesmo Odu, que lhe recomendou oferecer o mesmo ebó.
Feito o ebó, Elégbara surgiu diante de Koogun e mandou que, no dia da decisão sobre quem iria ocupar o trono, vestisse uma roupa inteiramente branca e levasse consigo uma pequena bandeira da mesma cor.
No dia da decisão, os anciãos da tribo se reuniram na praça da cidade e todo o povo também se fez presente naquele local.
Kun foi o primeiro a chegar, trazendo nas mãos suas armas de guerra, completamente despido, com o corpo untado de óleo de palma, o que fazia ressaltar sua esplêndida musculatura.
Logo em seguida chegou Koogun, trajando axo funfun e acenando para todos com uma pequena bandeira branca. Ao ver aquilo, Kun foi acometido de fúria incontrolável, lançando-se sobre seu adversário com a intenção de terminar logo com a questão.
Os anciãos, que a tudo assistiam, ordenaram que os guardas detivessem o impetuoso Kun e que o expulsassem da cidade por não saber respeitar os sinais de paz ostentados por Koogun.
Foi assim que, tendo seguido as orientações de Ifá, Koogun pode ser coroado rei de Abeokuta.



BELA VISITA


Enure era homem que, apesar de muito trabalhador e esforçado, não conseguia progredir na vida, por ser perseguido permanentemente por dois inimigos muito poderosos, chamados Perseguição e Inveja.
Orientado por amigos que testemunhavam sua penúria, Enure foi consultar o babalaô, surgindo ETA OGUNDA, que determinou um sacrifício para BARÁ.
Feito o ebó, Enure conseguiu livrar-se de Perseguição e Inveja, que pela ação de BARÁ, esqueceram seu endereço, passando, a partir de então, a ser visitado constantemente, por Progresso e Riqueza.


BOA TROCA


Dois meses depois do parto, a mãe teve relações com um homem, que queria a qualquer preço, leva-la para longe de seu marido. A mulher concordava em fugir com seu amante, mas não descobria de que maneira poderia assumir seu ato, sem trágicas.
Certo dia, o sedutor entregou à mulher um poderoso veneno, que deveria ser misturado à comida do esposo, o que segundo ele, iria solucionar definitivamente os seus problemas.
No dia seguinte, a mulher preparou um nunsunun e aproveitando-se da ausência do marido, derramou sobre o alimento uma grande quantidade do veneno que lhe presenteara seu amante, tendo antes o cuidado de separar uma parte num recipiente a parte.
Quando o marido regressou, a mulher serviu-lhe a comida envenenada, retirando-se em seguida, sob a alegação de que iria buscar um pouco de água fresca, no poço próximo de casa. Acontece que, na hora em que a mulher envenenou a comida, Zinsu, o mais novo dos gêmeos, que a tudo assistira, marcou o recipiente com a parte envenenada.
Antes do nascimento dos gêmeos, o babalaô do local, previra que tal acontecimento, seria seguido de uma grande desgraça para aquela família e para evitar que a profecia se cumprisse Zinsu resolveu avisar a seu pai, da trama que estava sendo preparada contra ele, mostrando-lhe onde estava a porção boa de alimento, que a mulher havia separado pra seu próprio consumo.
O pai trocou a comida envenenada, para o recipiente em que se encontrava a parte boa, tratando de comê-la imediatamente, o que foi presenciado pelo outro gêmeo, chamado Sagbo. Quando a mulher voltou com a água, Sagbo contou-lhe tudo o que acontecera em sua ausência e a mulher, com grande alarido, convocou a presença de toda a vizinhança, gritando que o marido tentara envenena-la.
O acontecimento foi levado ao conhecimento do rei Metolõfi que, imediatamente, intimou a sua presença o marido, interrogando-lhe sobre as acusações que lhe fazia a mulher.
Ouvindo as alegações do homem, o rei resolveu tomar depoimento dos gêmeos que, apesar da pouca idade, foram ouvidos como se fossem adultos, depondo em separado. Interrogado primeiro, Zinsu afirmou não conhecer a origem do veneno que sua mãe colocará na comida de seu pai, mas que considerava o seu nascimento e o de seu irmão, como um sinal de azar para a familia, principalmente se seu pai viesse a morrer, decorridos apenas dois meses de seu nascimento e que por este motivo, havia denunciado a trama de sua mãe.
Sagbo, por sua vez, declarou que sua mãe havia realmente envenenado a comida destinada a seu pai que, sabedor disto, trocara os alimentos de prato, consumindo o bom e deixando o envenenado pra sua mulher, com a intenção de castigá-la.
Tomara a decisão de avisar sua mãe sobre o ocorrido, por achar que, se ela tivesse morrido, não haveria dúvida de que a culpa seria atribuída ao seu nascimento e de seu irmão que, segundo a previsão do adivinho, traria desgraça a sua família.
Foi então que Metolonfi disse ao pai dos gêmeos:
Tu és defendido por duas pessoas. Tu chamarás sempre pelo seu nome, em sua proteção Ibeje.

CAÇA AO TESOURO

Oderere era o nome do adivinho que consultou Ifá para Orinrere e sua mulher, que viviam da venda de folhas de palma que recolhiam na floresta, mas que tendo perdido o seu facão, não tinham como realizar o seu trabalho. Na consulta, surgiu ODI MEJI, que determinou um ebó que deveria ser entregue próximo ao local onde o facão havia desaparecido.
Feito o ebó, o casal embrenhou-se mata a dentro, na esperança de encontrar a ferramenta, quando depararam com as ruínas de um palácio muito antigo e abandonado. Penetrando no que em tempos passados fora o salão principal do palácio, encontraram meio encoberto pela vegetação, um grande pote de barro, no interior do qual alguém havia guardado muitos objetos de valor. Recolhidos os objetos e vendidos, pode o casal apurar uma substancial importância em dinheiro, o que lhes garantiu uma sobrevivência confortável para o resto da vida.


CHUVA E FOGO

Fogo e Chuva disputavam o amor de uma mulher, mas os esforços tanto de um como de outro, não adiantavam nada. A discórdia passou a reinar entre os dois, a mulher os separaria para sempre. A questão tornou-se pública, uma vez que a disputa entre eles era feita abertamente.
O escândalo foi tamanho, que Metolonfi, convocou a sua presença todos os envolvidos, inclusive a mulher.
Diante do rei, cada um expôs suas razões e foram intimados a cessarem a disputa por um período de nove dias, findo os quais, certamente já se teria encontrado uma solução definitiva para o problema.
Depois da audiência, cada um procurou se destino.
Fogo foi consultar seu adivinho, Ina Pupa (Fogo Vermelho) e durante a consulta surgiu IROSUN MEJI, determinando que Fogo fizesse um sacrifício composto de duas cabras, dois panos negros, dois panos brancos, vinte moedas e mais nove moedas.
Fogo no entanto, não levando em consideração a orientação, não ofereceu o ebó.
Chuva também tratou de procurar o seu adivinho, Ojo Dudu Nimije (Eu sou a Chuva Negra) e durante a consulta, apareceu também IROSUN MEJI, que exigiu que fosse oferecido o mesmo sacrifício.
Ao contrário de seu adversário, Chuva cumpriu sua obrigação, segundo a orientação do Babalaô.
Quando chegou o nono dia, o rei convocou os três interessados para uma nova reunião no palácio. Fogo já se pusera a caminho, antes da convocação do rei, queimando tudo o que encontrava em seu caminho, provocando toda a luminosidade que era capaz.
Chuva, depois da consulta, envolveu-se num tecido negro que obscurecia a própria natureza e ninguém caminhava ao seu redor.
Apesar de Fogo haver saído primeiro, Chuva, talvez por residir um pouco mais próximo, chegou primeiro ao palácio real.
Quando Fogo, com enorme alarido, se aproximou do palácio, Chuva precipitou-se sobre ele, apagando-o antes mesmo que pudesse se apresentar a Metolonfi.



COM A CABEÇA NO PESCOÇO


Num tempo em que Ifá era pobre, consultou seu Kpoli para saber de que forma poderia mudar de vida e conquistar a simpatia de Metolõfi, que não gostava dele.
Na consulta, surgiu OTURUKPON MEJI, que mandou que pegasse um cabrito, uma cabaça, todas as frutas redondas que encontrasse e preparasse um ebó, que deveria ser levado a sua mãe e entregue com as seguintes palavras:
Veja minha mãe, eu nunca recebi desta vida qualquer alegria. O rei deste pais não gosta de mim, OTURUKPON MEJI me disse que oferecesse este sacrifício, pois de ti depende minha sorte nesta vida!
Ifá, no entanto respondeu: -Isto é impossível.
Minha mãe não está aqui. Ela partiu a algumas semanas para uma reunião em lugar muito remoto. De que maneira, estando ela ausente, poderei oferecer-lhe o ebó? Légbara intervindo disse:
-Em troca de alguma coisa que me ofereças, reaproximarei tua mãe de ti. Em pagamento quero um galo e alguns acaçás.
Ifá pagou o exigido a Légabara que, durante a noite, procurou sua mãe e lhe disse:-
Seu filho está morto já fazem quinze dias e não há ninguém para oficiar seus funerais. Anda, vá ao pais de Metolõfi para fazer a cerimônia.
Desesperada a velha pôs-se a chorar, dizendo:-
Que fazer? Sou tão velha, mal posso andar...
-Dá-me qualquer coisa que te transportarei, disse Légbara. A velha possuía um bode que tinha doze chifres na cabeça, ao vê-lo Légbara falou: “Se me deres este bode de doze chifres, te levarei, agora mesmo, para junto de teu filho. Mas este bode não é meu...-Respondeu a velha.
...ele pertence a Vida.
Ele me foi confiado e está sob minha responsabilidade.
-Se não me deres o bode, sem dúvida não poderei ajudá-la. -Tudo bem, carrega-o! Eu já perdi tudo o que tinha para perder, o bode não fará diferença! Légbara, pegando o bode, matou-o.
O sangue que escorria do corpo do animal era fogo que espalhando-se, cobriu o corpo de Légbara .
Aterrorizado como tão estranho acontecimento, Légbara foi consultar Ifá e na consulta surgiu OTURUKPON MEJI, ordenando que os intestinos do bode fosse retirados e oferecidos em sacrifício, num caminho qualquer.
Naquele tempo, Légbara não possuía cabeça e pegando a cabeça do bode, colocou na panela para cozinhá-la. Durante dias e dias, Légbara insistiu na tentativa de cozinhar a cabeça por mais que gastasse lenha, nada conseguia. Cansado, resolveu procurar a mãe de Ifá e, para isto, transportou a cabeça e a carne do animal até o reino de Metolõfi. Para conduzir a enorme panela, Légbara derramou a água nela contida, preparou uma rodilha que depositou sobre os ombros pra servir de base a panela que estava completamente enegrecida pela fumaça. A rodilha fixou-se em seus ombros, transformando-se em pescoço e a panela transformou-se um cabeça e Légbara descobriu que agora, como todo o mundo, também possuía uma cabeça. Alegre pôs-se a cantar:
Eu operei uma magia em meu caminho, assim adquiri uma cabeça!
Eu saí sem cabeça para uma viagem, retorno agora para casa com cabeça! Desta forma, chegou diante de Ifá, que também era desprovido de cabeça. Ao tomar conhecimento do destino do bode, Ifa exclamou revoltado:
-Como? Já paguei a Légbara por seus serviços! Ele recebeu de mim o exigido e ainda consegui uma cabeça!...
Zangado, preparou seu ebó composto de várias frutas redondas e o entregou a sua mãe, para que o conduzisse a Metolõfi.
Entregando as frutas ao rei a mulher disse: Eu venho de muito longe em reconhecimento ao seu nome. Como não sou rica, aceite estas coisas. É tudo o que tenho para oferecer!
Metolõfi, ordenou que a mulher pegasse um mamão e que o cortasse em duas partes iguais. As sementes negras se derramaram e o mamão, colocado sobre os ombros de Ifa, ali se fixou, transformando-se em cabeça. Notando que a mulher estava cansada, o rei mandou que lhe oferecessem uma esteira, mas ela negou-se a sentar-se na presença de Sua Majestade. De tanto que o rei insistisse, a mulher acabou sentando-se sobre algumas almofadas.
Vendo-a acomodada e mais calma, o rei perguntou qual era o seu nome, ao que lhe respondeu, afirmando chamar-se “”. Metolõfi então disse:
Taxonumeto” (aquela que coloca uma cabeça nas pessoas). Depois deste fato, pra que as crianças possam receber uma cabeça, as mães devem, durante a gestação, pedir a proteção de Taxonumeto todos os dias. É sob este signo que as crianças vem ao mundo “de cabeça”.
Ifá tornou-se muito conhecido graças a sua mãe e ao bode de doze chifres que não era outro senão o próprio Sol. Foi através do fogo misterioso do bode, que Légbara adquiriu controle sobre as chamas e visão para compreender as mensagens surgidas no Oráculo. Foi desta forma que Légbara e Ifá, conseguiram cabeças, graças a OTURUKPON MEJI que rege tudo o que e redondo, como redondas são as cabeças.
COMER COM OS OLHOS


Os olhos chegaram ao mundo primeiro que a cabeça, sendo por isso seu irmão mais velho.
Certo dia, Axé, criador de todas as coisas, encheu uma cabaça com carne de carneiro conservada em óleo de palma e embrulhou-a num belo corte de seda.
Numa segunda cabaça, Axé colocou ouro, prata e pedras preciosas, embrulhando depois, em panos comuns e de pouco valor.
Isto feito, chamou seus filhos Olhos e Cabeça, para que cada um escolhe-se uma cabaça para si.
Deslumbrado com a beleza da seda, Olhos escolheu a primeira cabaça, deixando a outra para seu irmão. Desembrulhando a cabaça, deparou com a vianda nela contida e sem exitar, tratou de comê-la na companhia de alguns amigos.
Ao abrir a cabaça que lhe restou, Cabeça perguntou decepcionado:
- Que farei com estas coisas se não posso comer? enfim, como foi meu pai quem me deu, vou guarda-las com muito carinho.
No dia seguinte, Cabeça resolveu reexaminar o conteúdo de sua cabaça, derramando sobre sua esteira.
Só então percebeu do que se tratava e pôs-se a gritar: -Estou rico! Minha cabaça vale infinitamente mais do que a de meu irmão!
Tempos depois, Axé reuniu seus filhos e lhes perguntou: -Muito bem, que encontraram dentro das cabaças que lhes presenteei?
-Na minha havia uma bela vianda que tratei logo de comer. Disse Olhos.
-Dentro da minha, encontrei tudo o que representa riqueza e sou grato a meu pai por me haver regalado com tão maravilhoso presente. Afirmou Cabeça.
Então, Axé sentenciou: Olhos, tu és muito ávido! A visão te atrapalha, tu enxergas sem ver.
Cabeça, que melhor refletiu, escolheu a cabaça que, embora envolta em pano comum, guardava em seu interior uma enorme fortuna.
Por este motivo, será Cabeça quem, a partir de hoje, tomará todas as decisões, sem se deixar enganar pelas aparências. Depois disto, sempre que tivermos oportunidade, devemos dizer: “Minha cabeça é boa e não meus olhos são bons”.

COMPLEMENT0


OGUNDA MEJI foi procurado por , Vodun mãe de Ifá, que não conseguia parir, uma vez que não possuía nádegas.
Naquele tempo, Ifá tinha seu conhecimento restrito aos acontecimentos do local onde se encontrava.
Consultando seu próprio jogo, na esperança de obter uma maior capacidade de predição, encontrou OGUNDA MEJI, que lhe pediu um peixe como sacrifício.
Sabedor de que possuía em sua casa um poço para criação de peixes, Ifá pediu-lhe que lhe trouxesse um, para que pudesse fazer o ebó.
Os dias se passaram e como não trouxesse o ejá, Ifá, que possuía uma cabaça, pegou-a e dirigiu-se a casa de .
Lá chegando, dirigiu-se ao poço e com sua cabaça, começou a retirar água de seu interior, para deixar os peixes a seco, o que facilitaria sua tarefa. Vendo o que estava acontecendo, protestou, afirmando que o Babalao que havia consultado, também havia lhe pedido um peixe como sacrifício, mas ela não possuía cabaça, o que impedia que capturasse um peixe em seu próprio poço. Combinaram, que quando toda a água tivesse sido retirada, os peixes encontrados seriam repartidos entre os dois, acontecendo no entretanto, que quando a água acabou, somente um único peixe foi encontrado no fundo do poço. reclamou o peixe para si, sob a alegação de que o poço se encontrava em seu quintal e que tudo o que estivesse dentro dele lhe pertencia.
Por sua vez, Ifá considerava-se dono do peixe, já que fora ele quem com a cabaça de sua propriedade, o havia capturado, o que certamente não poderia ter sido feito por .
A discussão prolongava-se sem que ninguém cedesse seu direito sobre o peixe.
Ogun, que já havia consultado o Oráculo e feito o seu sacrifício, recebeu um gubasa. do qual jamais se separava. Como passasse pelo local em suas andanças em busca de caça, foi chamado a intervir como arbitro da questão.
Ogun ordenou então, que Ifá segurasse o peixe pela cabeça e que o segurasse pelo rabo, puxando com firmeza, cada qual para seu lado, ao mesmo tempo em que mantinham os olhos bem fechados. Com um rápido golpe de seu afiado gubasa, Ogun dividiu o ejá em duas partes e depois, ordenou que ficasse com a cauda do peixe e fizesse com ela o sacrifício, para que pudesse obter nádegas, que permitiriam que viesse a parir filhos como todas as mulheres.
Ifá ficou com a parte da cabeça, que ofereceu em sacrifício ao seu próprio Ori, para fortificá-lo em melhor capacitá-lo para suas funções.
Foi assim que , colocando a cauda do peixe abaixo de sua cintura, logrou vê-la transformada em nádegas, enquanto Ifá oferecendo a cabeça do peixe ao seu ori, teve sua capacidade de previsão aumentada infinitamente.

CONCORRÊNCIA DESLEAL


Naquele tempo, o macaco demonstrava ser o maior adivinho do país, sendo, por este motivo, invejado e odiado pelos demais adivinhos que eram o galo, o carneiro e o bode.
Certo dia, macaco saiu em longa viagem, tendo antes oferecido um ebó composto de nove idés dourados e um peixe assado.
No dia posterior a viagem, o rei Olofin precisou consultar Ifá e para isto, convocou a sua presença os três adivinhos para que fizessem, em conjunto, uma consulta.
Os três, maldosamente, para livrarem-se da concorrência do Macaco, determinaram um ebó no que era exigido o sacrifício deste animal.
Olofin, imediatamente ordenou que seus caçadores saíssem na captura do macaco que, graças ao ebó que havia oferecido, conseguiu escapar de todas as armadilhas que lhe foram armadas.
Frustrados pelo fracasso da caçada, os caçadores voltaram a presença do rei, sem contudo conduzirem o animal para ao sacrifico. Como o caso era urgente e não mais podendo esperar, Olofin resolveu, na falta do macaco, oferecer o ebó com os animais que tinha a mão, ou seja, um galo, um carneiro e um bode, o que trouxe para ele excelente resultado.


CONVIVÊNCIA


Um homem não pode escorregar na lama se tiver na mão uma bengala. Este era o nome do adivinho que consultou Ifá para o caçador.
O pai do caçador tinha morrido. O caçador não tinha dinheiro para os funerais.
Antigamente não se enterrava os mortos como ser faz agora, eram colocados numa grade sobre quatro pés e acendia-se em baixo, uma grande fogueira para cremá-los, evitando assim, que passassem pelo processo de decomposição. A cremação durava três luas e, durante este tempo, os parentes do morto deveriam providenciar para que os funerais fossem dignamente celebrados.
O caçador tinha muitos amigos e, sempre que algum deles precisava celebrar um funeral, era a ele que procuravam para encomendar a caça para ser comida durante o ritual e agora, era o caçador que tinha um ritual a celebrar, e nada podia oferecer aos seus amigos.
Quando faltavam sete dias para o termino da cremação, não tendo nenhum cauri e sem encontrar outra solução, resolveu sair, ele mesmo, a caça. Embrenhando-se na floresta, deparou com um rio de águas muito escuras e pode ver, na margem, uma grande quantidade de diferentes animais.
Como atravessar o rio de águas tão negras se não posso avistar o fundo? Em busca de uma solução, sentou-se a sombra de uma árvore kpejere ali existente, como estivesse muito cansado, logo adormeceu. Durante o sono, teve um sonho no qual uma voz lhe dizia:
-Levanta-te, atravessa o rio, na outra margem muita caça te espera para ser abatida!e a voz repetia-se incessantemente.
Acordado, voltou a ouvir a mesma voz que repetia as mesmas palavras de incentivo.
Procurou para ver quem poderia estar falando, más não encontrou ninguém... De repente, a mesma voz: Sou eu, a árvore quem te está falando, anda, atravessa o rio, do outro lado há muita caça a tua espera!
Como poderei atravessar em segurança se não posso ver o fundo do rio, tal escuridão das águas?
Corta um dos galhos com a ponta enforquilhada, toca a cada passo o fundo do rio local onde irás pisar, assim saberás se é raso ou fundo.
Seguindo a orientação da árvore, o caçador pode atravessar em total segurança as águas turvas do rio e, chegando ao outro lado, munido de seu arco, pôde com cada flecha abater três ou quatro animais. Abateu tanta caça que chegou a pensar que não teria forças para transportar tudo até sua aldeia. amarando os animais com uma corda, tratou de atravessar o rio, arrastando atrás de si, o fruto de seu esforço.
Os animais abatidos foram colocados aos pés do kpejere que novamente falou:
-Eu adoro as vísceras destes animais, foi por isto que te ensinei a forma mais segura de alcançá-los.
Agora, em pagamento, deves oferecer-me as vísceras de todos os animais que abatestes.
Achando justa a proposta, o caçador abriu o ventre de todos os animais, de onde retirou as vísceras que foram depositadas ao redor do tronco da árvore.
Depois retornou à sua aldeia com sua preciosa carga que proporcionaria condições de celebrar condignamente os funerais de seu pai.
Passado algum tempo, morreu a mãe do lenhador que, da mesma forma que o caçador, encontrava-se sem recursos para realizar os funerais.

A cremação foi iniciada imediatamente e, quando faltavam quinze dias para seu término, o lenhador resolveu embrenhar-se na floresta a fim de cortar madeira que, depois de vendida, geraria recursos para o custeio dos funerais. Depois de muito caminhar, foi deparar com o mesmo rio que o caçador havia encontrado e o rio lhe falou: “Lenhador!” “Ago!” “Se estás a procura de madeira de bom valor, existe ali adiante uma enorme árvore kpejere. Com alguns golpes de teu afiado machado, podes obter madeira da mais alta qualidade.
-Meu machado é muito pequeno para um tronco tão grosso!
-Não faz mal, corta em pequenos pedaços e teu trabalho será muito bem recompensado.
Assim foi feito e, a madeira obtida foi vendida por mil e quinhentos cauris, importância mais do que suficiente para que, durante os rituais, todos pudessem se regalar.
Mas por que razão teria o rio ordenado ao lenhador que abatesse a grande árvore? Acontece que, por ocasião do incidente com o caçador, a chacina foi tão grande, que os animais se revoltaram e resolveram se afastar em busca de um lugar mais seguro.


DE COVARDE A VALENTE


Quando o Vodum xangô veio ao mundo, não passava de um pequeno covarde que só possuía um galo que cantava e um cabrito que berrava. Convencendo-se de que não poderia viver desta forma, resolveu consultar Ifá, em busca de auxílio.
Seu Babalao chamava-se Afeke e foi ele quem, consultando Ifá, encontrou OKANRAN MEJI, que exigiu que xangô oferecesse um ebó composto de duzentos e uma pedrinhas, um saco, uma cabra, cento e cinqüenta moedas do mesmo valor e mais quinze de valor diferente.
As pedras foram colocadas dentro de um saco e entregues a xangô depois do sacrifício, representando o seu poder e a sua força.
As moedas foram dadas ao Babalaô, em pagamento. Na verdade depois que adivinho passou a possuir estas pedras, seus olhos tingiram-se de vermelho, passou a ser muito corajoso e as pessoas tremem a sua aproximação. Quando encolerizado, enfia a mão no saco e lança suas pedras em forma de raio, destruindo quem quer que o tenha provocado.
Foi assim que xangô, o covarde, tornou-se um exemplo de coragem para todos os homens.

DECADENCIA

Olorun fez o homem a sua imagem e semelhança, dando o nome de Ishele.
Como o Ishele vivia muito só, pediu uma companheira a Olorun.
O Criador determinou então, que seu mais puro e belo orixá, ajudasse Ishele naquilo que fosse necessário.
O Orixá não aceitou as determinações e revoltou-se, negando-se a obedecer as ordens de Olorun.
Aborrecido diante de tal insubordinação, Olorun ordenou-lhe que descesse a uma grande fossa, com todos os seus pecados, para que ali fosse transformado no ODU OKANRAN MEJI.
DESAFIO


Metolonfi tinha uma linda filha chamada Meji. O rei, por muito que tentasse, não conseguia arrumar marido para a jovem.
Meji era muito belicosa e guerreira valente, todos os que se apresentavam com a intenção de desposá-la, eram desafiados para um combate singular, e acabaram derrotados pela poderosa princesa.
Desesperado com a situação e temendo que a filha jamais viesse a encontrar um marido, Metolonfin convidou os reis de Aja, de Ke, de Hun e de Ayo, para candidatarem-se ao casamento.
Atendendo ao convite, os quatros reis vieram acompanhados de toda sua corte.
Mas Meji não abriu mão de suas exigências, só se casaria com o homem que conseguisse derrota-la em combate. O primeiro a amargar a humilhação de derrota, foi Aja Xosu e em seguida, de nobres componentes de sua comitiva: depois foi a vez de Ke Xosu e seus amigos foram derrotados pela bela princesa.
Ogun, que a tudo assistia, foi perguntar a Ifá sob que Odu poderia encontrar proteção para derrotar a nobre guerreira, conquistando assim, o direito de desposá-la.
Na consulta surgiu OGUNDA MEJI, que ordenou: “Traga um galo, acaça, azeite de dendê, uma cabaça, um pombo, uma corda e vários pedaços de pano”.
Quando Ogun lhe entregou o material, Ifá enfiou na corda, algumas contas, com ela amarrou os pedaços de pano e as pernas do pombo, pegou o galo e enfiou debaixo de suas asas, varias folhas de kpelegun e entregando tudo a Ogun, disse:
-Quando partires, deixe o galo em casa e amarre a corda em volta de tua cintura.
No mesmo dia, Ogun desafiou a bela Meji para o combate, durante o qual, a corda que trazia a cintura, rompeu-se e caindo ao chão, embaraçou as pernas da princesa que desequilibrada, caiu derrotada aos pés de Ogun. No mesmo instante, o galo começou a cantar: Gbo gbo gbo, Guda Mejiiii!

DESTREZA


A filha de Metolonfi, rei de Ifé, chamava-se Hwedeu (Tu não podes com ela). Bese (A Rã) e Agbo (O Búfalo), desejavam casar-se com a princesa e, para resolver a questão, o rei lhes disse:
-“Darei a mão de minha filha aquele que primeiro trouxer toda a palha que preciso para cobrir a casa que mandei construir em meu quintal.
A disputa ficou marcada para dai três dias. Agbo muito feliz dizia: “Que bom, será muito fácil! Bese é muito pequeno e não poderá transportar de uma só vez toda a palha necessária. Assim sendo, não resta dúvidas de que serei o primeiro!” Consciente de suas limitações, Bese tratou de consultar Ifá para saber de que forma poderia derrotar seu concorrente, muito maior e mais forte que ele.
Na consulta surgiu OSA MEJI que exigiu, a guisa de sacrifício, que lhe fossem trazidos três frangos.
Quando Bese cumpriu a exigência, Ifá separou para si um frango e meio, entregando o restante ao cliente, sob a recomendação de que, com aquela quantia, preparasse um jantar e convidasse todos os seus parentes.
Durante o jantar, Bese explicou aos parentes, o motivo da reunião e todos se prontificaram a ajudá-lo no cumprimento da difícil tarefa a que iria se submeter.
No dia fixado, Agbo aproximou-se de Bese e perguntou com ironia:
Ainda estás aqui? Anda depressa senão ganharei nossa disputa. Eu posso carregar qualquer coisa que quiser!
Já pronto pra recolher a palha, Agbo passa diante da casa de Bese e pergunta: Ainda estás ai? Já estou a caminho! De dentro uma voz respondeu: Vá em frente, eu te sigo. Agbo já com a palha no lombo retornava a casa do rei e no caminho resolveu conferir:
-Bese! gritou, e um dos parentes da Rã que se encontrava escondido a beira do caminho, respondeu: “Kpãããã!” Surpreso e achando que estava sendo ultrapassado por seu concorrente, Agbo redobrando os esforços, acelerava a marcha em direção ao objetivo.
Um pouco mais a frente, chama novamente: Bese! e o mesmo “Kpãããã!” surge aos seus ouvidos!
Entra na cidade, penetra no palácio e, no pátio depara estarrecido com o monte de palha que os parentes de Bese haviam depositado no local.
Desesperado, Agbo dá violentas cabeçadas no chão e acaba se matando.

DISPUTA


Certo dia, Sol, Lua, Fogo e Kese o Papagaio-de-Cauda-Vermelha, resolveram disputar entre si, o poder sobre a Terra.
Kese, tratou logo de consultar Ifá, para saber de que forma poderia resolver a disputa a seu favor. Durante a consulta, o Odu IROSUN MEJI apareceu, prescrevendo um sacrifico composto de Igbi, etu e ekodide.
Oferecido o ebó, uma chuva torrencial abateu-se sobre a Terra, apagando o Fogo.
Por muitos dias e noites, as nuvens cobriram os céus, impedindo que o Sol durante o dia e a Lua durante a noite, pudessem ser vistos pelos habitantes da Terra. Aproveitando-se da ausência de seus adversários, Kese, que apesar de muito molhado não perdeu o vermelho de sua cauda, estabeleceu definitivamente seu reino sobre a Terra, saindo vitorioso da disputa.

DISPUTA DA NOIVA

Xangô e Efon entraram em atrito pelo amor de uma mulher muito bela, filha de Apako.
Por determinação da mulher, os pretendentes deveriam combater entre si e no fim de dezesseis dias, ela resolveria qual dos dois seria considerado vencedor, conquistando assim o direito de desposá-la.
Efon armou-se de um poderoso par de chifres e dirigindo-se ao campo de luta, atacou furiosamente a Xangô que surpreso, bateu em retirada, indo refugiar-se, com a ajuda de uma corda, em sua morada no Orun.
Naquele tempo, Xangô era ainda muito jovem e inexperiente, mas aconselhado por Elégbara, consultou Orunmilaia para saber de que forma poderia vencer a disputa pela mulher amada.
Na consulta surgiu OSHE MEJI, que prescreveu um sacrifício com dezesseis pedrinhas, dezesseis kobo, um par de chifres de búfalo, dois galos e dois pombos, além de tudo o que se oferece normalmente a Bará.
Enquanto isso, os adversários de Xangô espalhava na Terra, o boato de que ele era um grande covarde, que havia fugido de Efon sem opor a menor resistência.
Xangô, com a ajuda de alguns amigos tratou logo de oferecer o sacrifício e imediatamente depois começou a trovejar.
No meio da tempestade, surgiu Xangô e a cada brado que emitia, numerosos raios saiam de sua boca numa demonstração de seu poder incontestável.
Diante de tão assustadora visão, Efon depôs suas armas e curvando-se, submeteu-se ao poder do Orixá, suplicando piedade.
Xangô perdoou-o e fez com que todos reconhecessem, a partir de então que o seu poder estava no Orun.
E o vencedor levou consigo a bela mulher, objetivo de toda a disputa.
DIVISÃO

Naquele tempo, a Terra havia sido criada e sua extensão ainda era muito pequena, estando a maioria do globo, coberta pelas águas do oceano.
Olofin ordenou que os Orixás, viessem habitar sobre a pequena faixa de terra firme então existente, para ali estabelecerem o ambiente necessário, para o surgimento da vida humana.
Todos foram consultar Orunmiláia e na consulta, surgiu a figura de EJIOGBE, sendo determinado um sacrifício, que todos os Orixás deveriam oferecer, para que suas missões fossem coroadas de sucesso.
Como o ebó determinado fosse muito dispendioso, todos, com exceção de Orixalá, negligenciaram-se a fazê-lo e assim, rumaram para a terra recém criada.
Como Orixalá oferecera o seu sacrifício, foi o primeiro a chegar, já que Bará lhe indicara o caminho mais curto e sem qualquer obstáculo.
Aos outros, Bará criou todos os tipos de dificuldades e desta forma, ao chegarem a terra, encontraram Orixalá já estabelecido.
Durante o tempo em que Orixalá permaneceu sozinho sobre a terra, teve que fazer, com suas próprias mãos, todo tipo de serviço pesado, como cortar e carregar lenha para a construção de seu palácio, o que lhe provocou uma deformação nas costas, passando, a partir de então, a caminhar apoiado num cajado.
Um a um, os Orixás foram chegando e todas as terras já estava cercadas e plantadas, sendo Orixalá seu legítimo dono.
Sem ter onde ficar e estabelecer seus reinos, reuniram-se em assembléia, para deliberarem de que maneira iria proceder, para que pudessem cumprir suas missões e a esta reunião, Orixalá também compareceu.
-Que desejam, agora que realizei todo o trabalho pesado? Perguntou o poderoso Funfun. Só lhes resta habitarem as profundezas de Okun, já que ao chegarem, encontraram toda a terra trabalhada por mim!
Diante da posição do Orixalá, os demais Orixás prostraram-se diante dele e com os rostos encostados no solo, suplicaram que lhes desse um pedaço de terra firme, para que pudessem realizar seus trabalhos e que ficasse ele mesmo com os mares e toda a riqueza neles contidas. Orixalá então, nomeou Olokun, seu filho mais velho, para reinar sobre os Oceanos, enquanto ele reinava sobre todo o planeta, concordando em distribuir, entre todos os Orixás, um setor da natureza, para que ali pudesse estabelecer os seus reinados, sempre prestando obediências a ele. Coroado e aclamado por todos, como o rei dos reis.
A partir de então, por ter feito o ebó determinado, Orixalá passou a ser o mais importante dentre todos os Orixás, seus reinos se expandiram, na medida em que as águas do mar iam deixando mais e mais terras habitáveis e os demais Orixás puderam cumprir suas missões, governando os elementos e as diversas manifestações da natureza.





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