



Oranian
ACORDO
Quando Oranian chega em Ifé, Obàlùfan Aláyémore já reinava como o terceiro Óòni de Ifé, mas com um fraco reinado.
Enfurecido com o povo de Ifé que haviam aclamado Aláyémore, e que o tinham chamado para combater possíveis inimigos, o poderoso guerreiro colérico, comete varias atrocidades e só pára quando uma anciã grita desesperada que ele está destruindo seus próprios filhos, o seu povo.
Atônito, ele finca no chão seu asà, que imediatamente se transforma em uma enorme laje de pedra, e decide ir embora e nunca mais voltar à Ifé.
Quando rumava para fora dos arredores de Ifé, em Mòpá, foi interceptado pelo povo que o saudavam como Óòni de Ifé e suplicavam por sua volta. Ele então satisfeito e envaidecido, atende ao povo e finca no chão seu òpá (seu bastão de guerreiro) transformando-o em um monólito de granito selando assim o acordo com o povo e volta em uma procissão triunfante ao palácio de Ifé.
Sabendo disso, Obàlùfan Aláyémore abandona o palácio e se exila na cidade de Ìlárá.
Oranian ascende ao trono e se torna o 4ª Óòni de Ifé até sua morte.
Obàlùfan Aláyémore, retorna do exílio e reassume como o 5ª Óòni de Ifé e reina desta vez, com sucesso até a sua morte.
CONCEPÇÃO DUVIDOSA
Oranian foi concebido em condições muito singulares. Uma lenda relata como Ogum, durante uma de suas expedições guerreiras, conquistou a cidade de Ogotún, saqueou-a e trouxe um espólio importante.
Uma prisioneira de rara beleza chamada Lakanjê, que agradou-lhe tanto que ele não respeitou sua virtude.
Mais tarde, quando Oduduá, pai de Ogum, a viu, ficou perturbado, desejou-a por sua vez e fez dela uma de suas mulheres.

Ogum, amedrontado, não ousou revelar a seu pai o que se passara entre ele e a bela prisioneira.
Nove meses mais tarde, Oranian nascia. O seu corpo era verticalmente dividido em duas cores.
Era preto de um lado, pois Ogum tinha a pele escura, e branco do outro, como Oduduá, que tinha a pele muito clara..
GUERREIRO DE BOM CORAÇÃO
Rei Oduduá havia ficado cego e depois de muitas consultas ao babalaô real, foi dito ao Rei, que voltaria a enxergar sim, mas demoraria muito.
O Rei Oduduá então resolveu que Ogum ficaria regente do trono enquanto aguardava seu restabelecimento.
Ogum só fazia o que o pai ordenasse, mas um dia reuniu seus ministros e partiu para a guerra sem que Oduduá soubesse.
Tempos depois voltou vitorioso e trouxe muitos escravos. No meio desses escravos, havia uma bela jovem de cabelos pretos, alegre, olhos rasgados de nome Lakanjê, Ogum apaixonou-se por ela, mas não poderia se casar, porque era um príncipe e ela uma escrava.
Então Ogum passou a viver em segredo com Lakanjê.
O tempo foi passando e um certo dia, para a surpresa de todos, a visão do Rei voltou.
Com tanta alegria, o Rei deu uma festa e convidou todo o mundo.
Lakanjê também foi, mas quando Oduduá a viu, ficou apaixonado por ela e casou com a moça, deixando Ogum muito infeliz, pois não podia contar o seu segredo ao pai. Depois do casamento, Lakanjê teve um filho, mas, para a surpresa de todos, a criança tinha o corpo dividido em duas cores da cabeça aos pés.

A parte bem escura, era da cor de Ogum e claro era a cor de Odudua.
Por isso Oranian passou a ser considerado filho de dois pais.
Quando Oduduá soube, ficou muito zangado. Após algum tempo, Oduduá acabou perdoando e anos mais tarde, veio a falecer, deixando seu trono para Ogum.
Oranian cresceu e tornou-se um belo jovem, forte e inteligente, que adorava caçar, fazer armadilhas e sondar os animais das florestas. Tinha como seu maior sonho, fundar sua própria nação, ter o próprio povo e seu palácio. Com a ajuda de alguns amigos, começou a conquistar pequenas aldeias... Só que em vez de fazer mal aos vencidos, os tratava bem e conquistou muitos aliados, formando assim o Reino de Oió.
REI DA TERRA
No começo, a terra não existia.
No alto era o céu, embaixo era a água e nenhum ser animava nem o céu nem a água.
Olodumaré, o senhor e o pai de todas as coisas criou, inicialmente, sete príncipes coroados.
Em seguida, sete sacos nos quais havia búzios, pérolas, tecidos e outras riquezas.
Criou uma galinha e vinte e uma barras de ferro.
Criou, ainda, dentro de um pano preto, um pacote volumoso cujo conteúdo era desconhecido.
E, finalmente, uma corrente de ferro muito comprida, na qual prendeu os tesouros e os sete príncipes.
Depois, deixou cair tudo do alto do céu.
No limite só havia água.
Olodumaré, do alto de sua divina, jogou uma semente que caiu na água. Logo, uma enorme palmeira cresceu até os príncipes, oferecendo-lhes um abrigo grande e seguro, entre suas palmas.
Os príncipes se refugiaram ali e se instalaram com suas bagagens. Eram todos príncipes coroados e, consequentemente, todos queriam comandar.
Resolveram separar-se.
Os nomes desses sete príncipes eram: Olówu, que se tornou rei de Egbá.
Onisabe, que se tornou rei de Savé.
Orangun, que reinou em Ila.
Óòni, que foi soberano de Ifé.
Ajerô, que se tornou rei de Ijerô.
Alákétu, que reinou em Kêto.
O último criado, o mais jovem, Oranian, que se tornou rei de Oyó.
Antes de se separem para seguirem os seus destinos, os sete príncipes decidiram repartir entre eles a soma dos tesouros e das provisões que o Todo-Poderoso lhes havia dado.
Os seis mais velhos pegaram os búzios, as pérolas, os tecidos e tudo o que julgaram preciosos ou bom para comer.
Deixaram para o mais moço o pacote de pano preto, as vinte e uma barras de ferro e a galinha.
Os seis príncipes partiram a descoberta nas folhas de palmeira. Quando Oranian ficou sozinho, desejou ver o que continha o pacote envolto no pano preto. Abriu-o e viu uma porção de substância preta que ele desconhecia.

Sacudiu então o pano e a substância preta caiu na água e não desapareceu. Formou um montículo. A galinha voou para pousar em cima. Ali chegando, ela pôs-se a ciscar essa matéria preta, que se espalhou para longe. E o montículo se ampliou e ocupou o lugar da água.
Eis aí como nasceu a terra.
Oranian apressou-se em descer para o domínio, assim formado pela substância negra, e tomou posse da terra. Por sua vez, os outros seis príncipes desceram da palmeira.
Quiseram tomar a terra de Oranian, como já lhe haviam tomado, na palmeira, sua parte dos búzios, das pérolas, dos tecidos e dos alimentos.
Mas Oranian tinha armas; suas vinte e uma barras de ferro haviam se transformado em lanças, dardos, flechas e machados. Com a mão direita, ele brandia uma longa espada, e lhes dizia: Esta terra é só minha.
Lá em cima, quando me roubaram, vocês me deixaram apenas esta terra e este ferro. A terra cresceu e o ferro também; com ele defenderei a minha terra! Vou matar todos vocês. Os seis príncipes pediram clemência, rastejaram aos pés de Oranian, suplicantes.
Pediram-lhe que lhes cedesse uma parte de sua terra para que pudessem viver, e continuar príncipes.
Oranian poupo-lhes a vida e deu-lhes uma parte da terra. Exigiu apenas uma condição: esses príncipes e seus descendentes; deveriam, todo ano, vir prestar-lhe homenagem e pagar os impostos na sua cidade principal, para demonstrar e lembrar que eles tinham recebido, por condescendência, a vida e sua parte de terra.
Eis aí como Oranian tornou-se rei de Oyó e soberano da nação ioruba, isto é, de toda terra.
Porém, Ifé reivindica a preponderância sobre Oyó.
É em Ifé que está guardado o sabre de Oranian, chamado sabre da justiça, que os reis do Oyó devem segurar nas mãos durante as cerimônias de entronização, para garantir sua futura autoridade.
SEMI-DEUS
Após grandes vitórias, Oranian torna-se o braço direito de seu pai em Ilê-Ifê, pois seus outros irmãos foram povoar regiões distantes, menos Obàlùfan Ògbógbódirin. Oduduá ordena então que Oranian conquiste terras ao norte de Ifé, mas Oranian não consegue cumprir a tarefa e sai derrotado e, com vergonha de encarar seu pai, não volta mais a Ifé, com isso funda uma nova cidade e lhe dá o nome de Oyó, tornando-se o primeiro Oba Aláàfin de Oyó.
Casado com Morèmi, uma bela mortal, nativa de Òfà, que se tornou mais tarde uma heroína em Ilê-Ifé, da qual tem um filho, que recebe o nome de Ajaká.
Após algum tempo, Oranian investe em novas conquistas e volta a guerrear contra a nação dos Tapas, onde havia sido derrotado, mas desta vez consegue uma grande vitória sobre Elémpe, na época rei dos Tapas.
Por sua derrota, Elémpe entrega-lhe sua filha Torosí, para que se case com ele.
Retornando a Oió, Oranian casa-se com Torosí e com ela tem um filho, chamado de Xangô, um mortal, nascido de uma mãe mortal e um pai semi-deus, portanto com ascendentes divinos por parte de pai.



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