





OLOKUN

BRILHO NO MAR

Ia disfarçada sobre as ondas, na forma de espuma borbulhante.
Tão intenso e atrativo seu brilho que às vezes cegava as pessoas que olhavam.
Um dia Olokun disse à sua filha caçula: o que dás para os outros tu também terás, serás vista pelos outros como te mostrares.
Este será o teu segredo, mas sabe que qualquer segredo é sempre perigoso.

Na próxima vez que Ajê Salugá saiu nas ondas, acompanhando, disfarçada, as andanças de Olokun, seu brilho era ainda bem maior, porque maior era seu orgulho, agora detentora do segredo.
Muitos homens e mulheres olhavam admirados o brilho intenso das ondas do mar e cada um com o brilho ficou cego.
Sim, o seu poder cegava os homens e as mulheres.
Mas quando Ajê Salugá também perdeu a visão, ela entendeu o sentido do segredo.
Iemanjá está sempre com ela, quando sai para passear nas ondas.

CALMANTE SINISTRO

Mas se separaram numa disputa de poder e viveram em guerra, separação do céu e da terra.
Certa vez, Olokun invadiu a Terra para destruir a humanidade e demonstrar seu poder.

Olorum salvou parte da humanidade lançando uma corrente para os homens subirem. Com essa mesma corrente, Olorum atou Olokun ao fundo do mar.
Olokum mandou uma gigantesca serpente marinha engolir a lua, mas Olorum disse que sacrificaria um humano por dia para acalmar a deusa. Assim, todo dia uma pessoa se afoga no mar.

CAMINHOS PARA A LIBERDADE

Era possuidora de um grande instinto maternal, que fez dela mãe de dez filhos.
Embora casada, não tinha grande apego por seu marido. Às vezes, pensava em deixá-lo, mas ele era um homem muito importante e poderoso, e não permitiria tal desonra.
Iemanjá, também pensava no bem-estar de seus filhos, não podendo deixá-los desamparados.
Seu marido usava o poder com tirania, inclusive com sua família, tornando a vida dela insuportável.
Ela não agüentava mais se submeter aos caprichos de um homem que ela desprezava.
Ela procurou seu pai para aconselhar-se sobre a atitude que deveria tomar.
No fundo, ela já estava decidida a fugir, mas precisava de seu apoio.
Olokun não a recriminou, pois ela era uma soberana e, como tal, não poderia aceitar o jugo de ninguém.
Ele, então, deu à sua filha uma cabaça com encantamentos, para que ela usasse quando estivesse em perigo.
Iemanjá, colocou seu plano em prática, fugindo com todos os seus filhos.
Quando ela já estava bem longe de sua aldeia, viu que estava sendo perseguida pelo exército de seu marido. Pensou em enfrentá-los, mas eles eram muitos e seria uma luta desleal.
Iemanjá odeia os confrontos, pela destruição que causam, já que é um orixá propagador de vida.
Quando se sentiu acuada, resolveu abrir a cabaça e pedir socorro ao seu pai.
Do seu interior escoou um líquido escuro, que, ao tocar o chão, imediatamente formou um rio, que corria em direção ao oceano.
Foi nessas águas que Iemanjá, e seu povo encontraram um caminho para a liberdade.

COMPLICAÇÃO EM CASA

Ao chegar à sala do trono ficou encantado ao conhecer Iemanjá, a filha do rei, que andava pelo salão a procura de uma jóia que tinha perdido.
A beleza da moça era indescritível e Bará sentiu o ardor da paixão queimar-lhe o peito.
Saiu determinado a cumprir a missão e voltar o quanto antes para pedir a mão da princesa.
Nunca ele fora tão rápido no cumprimento de uma tarefa quanto naquela.
Em dois dias estava de volta apresentando as provas do sucesso da empreitada.
Olokun ficou contentíssimo e ofereceu ao rapaz grandes riquezas, mas este foi inflexível.
A ele somente interessava casar-se com Iemanjá.
O monarca ficou extremamente irritado com tamanha audácia e mandou que o colocassem para fora de seus domínios.
Bará jurou vingança.
Nunca ninguém o tinha tratado daquela forma e não engoliria a desfeita tão facilmente. Durante semanas nada mais fez a não ser arquitetar um plano para raptar a princesa.
Certa manhã, Iemanjá com um imenso séqüito, passeava pelas areias da praia, quando um imenso buraco se abriu a seus pés e a tragou para seu interior.
Foi tudo tão rápido que ninguém pode fazer nada.
A fenda se fechou como se ali nada jamais houvesse acontecido. Os escravos desesperaram-se, como contar ao rei o sucedido?
Certamente seriam mortos sem piedade. Não havia quem não conhecesse a fúria real. Pensando dessa forma todos fugiram e nunca mais apareceram para testemunhar o ocorrido.

Enquanto isso nas profundezas da terra Bará desvelava-se em carinho e atenção para ganhar o amor de Iemanjá.
Desesperado com o sumiço da filha o velho rei foi procurar um Babalaô que lhe contou exatamente o que tinha acontecido e o aconselhou a procurar por Iansã, jovem guerreira que nada temia e por sua rara beleza poderia granjear a simpatia de Bará.
Iansã foi chamada e prontificou-se a buscar a jovem. Providenciou uma oferenda a Ifá, pedindo proteção e força e partiu para o resgate.
Depois de muito andar sentiu sob os pés a quentura que denunciava a presença do seqüestrador.
Brandiu sua espada no ar, chamando os raios de seu domínio, e enfiou-a na terra com toda a força.
Uma cratera se formou e a guerreira foi descendo lentamente. Logo avistou a bela moça sentada a um canto chorando copiosamente, a seu lado Bará afagava-lhe os longos cabelos fazendo juras de amor eterno.
- Vim buscar a princesa! - Seu tom de voz não deixava dúvidas, viera disposta a tudo.
- Como ousa invadir meu reino e ainda por cima ditar-me ordens? - Bará gritava descontrolado.
- Minha princesa daqui não sai! - Apontou para os pés de Iansã e um circulo de fogo se formou em torno dela impedindo seu avanço.
- Não discutirei com você, peço a intercessão de Orunmilá, para cumprir a missão para a qual fui incumbida! Raios começaram a se espalhar por todo o espaço, uma ventania muito forte envolveu o corpo de Iansã, que assim chegou perto da moça que a tudo assistia perplexa.
Bará foi jogado contra uma parede atingido pela violência do vento.
Um redemoinho as envolveu transportando-as para o reino de Olokun.
O mar se abriu dando passagem para o pequeno tufão cavalgado por Iansã. Dos olhos do rei correram lágrimas de alegria e gratidão quando avistou em meio ao tormento o rosto da querida filha.
Iemanjá e Iansã tornaram-se amigas pela eternidade.

DIFERENÇAS

Portanto, é a escuridão do mar, sombria, dona das ondas e a fúria do oceano, capaz de engolir a Terra.
Mas também tinha seu lado bondoso, Olokun que, vestida de branca, mandava mensagens de responsabilidade, pureza, respeito, honra e caráter, dançava majestosamente e lançava búzios de riqueza em forma de benção.

Em sua versão masculina, vestia-se de corais e cada perna era um rabo de peixe.
Com Olokun vivem dois espíritos: Samugagawa, vida e Acaró morte, ambos representados em suas ferramentas, às vezes, como lagartos.
Tem ligações com os Eguns, pois têm um papel crítico na morte, na vida e na transição de humanos e espíritos entre as duas existências.

DOR DA SEPARAÇÃO

Casada com Oduduwa, Olokun era triste e infeliz e se largou na escuridão ao se separar.
Pediu, então, para Olodumaré transformá-la em água.
O deus, que já vagava pelo mundo quando somente havia pedras e fogo, transformou o vapor das chamas vulcânicas em uma grande quantidade de nuvens que se precipitaram sob a forma de chuva: era Olokun, que ocupou os espaço da Terra e formou os oceanos.

Poderosa, tornou-se Rainha dos Iorubás. Dizia-se que morava no fundo do mar em um vasto palácio, e que tinha humanos e peixes como criados.

FILHA PREDILETA

Ambas são as filhas prediletas de Olokun.
Quando a imensidão das águas foi criada, Olokun dividiu os mares com suas filhas e cada uma reinou numa diferente região do oceano.
Ajê Salugá ganhou o poder sobre as marés.
Eram nove as filhas de Olokun e por isso se diz que são nove as Iemanjá.
Dizem que Iemanjá é a mais velha Olokun e que Ajê Salugá é a Olokun caçula, mas de fato ambas são irmãs apenas. Olokun deu às suas filhas os mares e também todo o segredo que há neles. Mas nenhuma delas conhece os segredos todos, que são os segredos de Olokun.

PRIMORDIOS


RAINHA DAS ÁGUAS

Se alguém recolhesse água em seu leito, recolheria, também, areia.
Porque ela estava pobre de água.
Olossá, senhora da lagoa, consulta Ifá, numa época em que suas águas não eram bastantes para que alguém nelas, lavasse os pés.
Se alguém quisesse com elas lavar os pés, sujar-se-ia de lama e areia.
Pois havia, na lagoa, muito pouca água.
Olokun e Ôlossá foram, ambas, aos pés de Orunmilá rogar-lhe examinar os seus casos. Poderiam elas tornar-se as maiores do mundo?
Orunmilá respondeu que se elas pudessem fazer as oferendas que ele escolhera para elas, suas vidas seriam um sucesso.
Ele disse que Olokun deveria oferecer duzentas cobertas pretas, duzentas cobertas brancas, um carneiro e vinte e seis mil búzios da costa.
Depois ele recomendou a Olossá que fizesse o mesmo. Olokun fez as oferendas. Ela empregou tudo o que possuía. Ela chegou a empregar-se, como serva, para completar as oferendas.
Olossá fez também as oferendas com tudo o que possuía. Mas suas oferendas não foram completas, porque ela não encontrou onde se empregar.
Oxum, o rio, elegante senhora do pente de coral, consultou Ifá no dia em que ia conduzir todos os rios.
Os rios não sabiam em que direção seguir.
Eles correriam para a frente ou para trás?
E haviam pedido o conselho de Oxum.
Ifá respondeu: Tu, Oxum, vais a um certo lugar e, neste lugar, serás muito bem recebida. Os outros rios te seguirão. Nenhum outro poderá proceder-te em nenhum lugar onde estejas presente.
Oxum reuniu todos os rios, e os rios seguiram todos juntos.

Quando chegaram à beira da Lagoa eles a cobriram completamente, quando deixaram a lagoa, eles cobriram completamente o mar.
Foi colocada a questão quem seria a rainha das águas.
Olokun declarou:O território onde vocês se encontram é meu!
Eles discutiam aqui e ali. Olodumarê manifestou-se então: A que possui o território é a rainha!
Olokun foi por direito a rainha. Olossá disse aos rios que se retirassem das suas terras, mas os rios não encontraram saída por onde passar. Assim, Olossá foi eleita segunda pessoa de Olokun.
A cada ano, todos os rios vêm adorá-la.

VôMITO PRECIOSO

Naquela época, Fa Ayedogun passava por sérias dificuldades financeiras e, por ser muito pobre, não era convidado a participar de qualquer festa ou reunião social.
Aina, recém nascida, era muito feia.
Sua aparência terrível fazia com que todos evitassem sua companhia e ninguém aceitava tê-la em casa. Depois de ser rejeitada em todas as casas, Aina bateu na porta de Fa Ayidogun, que apesar do estado de miséria em que se encontrava, acolheu a menina. Uma bela noite, Aina acordou Fa, anunciando que estava prestes a vomitar.
O hospedeiro apresentou-lhe uma tigela para que vomitasse, mas ela recusou-se.
Uma cabaça foi trazida e também recusada e depois, uma jarra foi objeto de nova recusa.
Fá perguntou então, o que poderia fazer para ajudá-la e Aina disse: Lá no lugar de onde venho, costuma-se vomitar todos os dias, no quarto. Conduzida ao quarto, Aina começou a vomitar todos os tipos de pedras preciosas, brancas, azuis, vermelhas, verdes, etc. Naquele momento, um marabu que passava, penetrou na casa de Fá e perguntou por Aina.
Ela está no quarto, acometida por uma crise de vômitos. Respondeu Fá.
O estrangeiro foi ver o que se passava e ao deparar com Aina vomitando pedras preciosas, exclamou:
Ha! Nós não conhecíamos os poderes de Aina, hoje revelados!
Disposto a serví-la, colocou-lhe o nome de Anabi ou Ainayi, que em Yoruba quer dizer: Aina vomita, Aina deu toda riqueza a Fá Ayidogun.

CONTATO
Skype: peregrino rakaama
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