



OXALUFÃ

CASTIGO
Oxalá era marido de Nanã, senhora do portal da vida e da morte. E por determinação dela, somente os seres femininos tinham acesso ao portal, não permitindo aproximação de seres masculinos em hipótese alguma.
Determinação que servia também para Oxalá, que com o passar do tempo não se conformava com esta decisão, não só por ser marido de Nanã, como por sua própria importância no panteão dos orixás.
Assim pensou até que encontrou uma forma de burlar as determinações de sua esposa.

Não fugindo de sua cor branca, vestiu-se de mulher, colocou o adê (coroa) com os chorões no rosto, próprio das iabás e aproximou-se no portal satisfazendo enfim sua curiosidade.
Foi pego, porém, por Nanã no exato momento em que via o outro lado da dimensão.
Nanã aproximou-se e determinou: Já que tu, meu marido, vestiste-te de mulher para desvendar um segredo tão importante, vou compartilhá-lo contigo. Terás, então, a incumbência de ser o princípio do fim, aquele que tocará o cajado três vezes ao solo para determinar o fim de um ser. Porém, jamais conseguirás te desfazer das vestes femininas e, daqui para frente terás todas as oferendas fêmeas!
E Oxalá passou a comer não mais como os demais santos aborós (homens), mas sim cabras e galinhas como as iabás.
E jamais se desfez das vestes de mulher.
Em compensação, transformou-se no senhor do princípio da morte e conheceu todos os seus segredos.

CRIAÇÃO DA TERRA
Olorun, Deus supremo, criou um ser, a partir do ar, que havia no início dos tempos e das primeiras águas. Esse ser encantado, que era todo branco e muito poderoso, foi chamado Oxalá.
Logo em seguida, criou um outro orixá que possuía o mesmo poder do primeiro, dando-lhe o nome de Nanã.
Os dois nasceram da vontade de Olorun de criar o universo.

Oxalá passou a representar a essência masculina de todos os seres, tornando-se o lado direito de Olorun. Nanã, por sua vez, teria a essência feminina, e representaria o lado esquerdo. Outros orixás também foram criados, formando-se um verdadeiro exército a serviço de Olorun, cada um com uma função determinada para executar os planos divinos.
Bará foi o terceiro elemento criado, para ser o elo de ligação entre todos os orixás, e deles com Olorun.
Tornou-se costume prestar-lhe homenagens antes de qualquer outro, pois é ele quem leva as mensagens e carrega os ebós.
Olorun confiou à Oxalá a missão de criar a Terra, investindo-o de toda a sabedoria e poderes necessários para o sucesso dessa importante tarefa. Deu a ele uma cabaça contendo todo axé que seria utilizado.
Oxalá, orgulhoso por ter recebido tamanha honraria, achou desnecessário fazer as oferendas a Bará.

Bará, vendo que Oxalá partira sem lhe fazer as oferendas, previu que a missão não seria cumprida, pois, mesmo com a cabaça e toda a força do mundo, sem a sua ajuda não conseguiria chegar ao local indicado por Olorun.
A caminhada era longa e difícil, e Oxalá começou a sentir sede, mas, devido à importância de sua missão, não podia se dar ao luxo de parar para beber água. Não aceitou nada do que lhe foi oferecido, nem mesmo quando passou perto de um rio interrompeu a sua jornada. Mais à frente, encontrou uma aldeia, onde lhe ofereceram leite de cabra para saciar sua sede, que também foi recusado.
Todos os caminhos pareciam iguais e, depois de andar por muito tempo, sentiu-se perdido.
De repente, ele avistou uma palmeira muito frondosa, logo à sua frente, Oxalá, já delirando de tanta sede, atingiu o tronco da palmeira com seu cajado, sorvendo todo o líquido que saía de suas entranhas, era vinho de palma.
Embriagado pela bebida, desmaiou ali mesmo, ficando desacordado por muito tempo.

Bará avisou Nanã que Oxalá não havia feito as oferendas propiciatórias, por isso não terminaria sua tarefa.
Ela, agindo por contra própria, resolveu consultar um babalaô para realizar devidamente as oferendas.
O sacerdote enumerou uma série de coisas que ela deveria oferecer, entre elas um camaleão, uma pomba, uma galinha com cinco dedos e uma corrente com nove elos.
Bará aceitou tudo, mas só ficou com a corrente, devolvendo o restante à Nanã, pois ela iria precisar mais tarde.
Outros sacrifícios foram realizados, até que Olorun a chamou para procurar Oxalá, que havia esquecido o saco da criação com o qual criaria a Terra.
Nanã, após terminar suas oferendas, foi atrás de Oxalá, encontrando-o desacordado próximo ao local onde deveria chegar.
Ao saber que Oxalá havia falhado em sua missão, Olorun ordenou que a própria Nanã prosseguisse naquela tarefa com a ajuda de todos os orixás.

E assim foi feito. Nanã pegou o saco da criação e o entregou à pomba, para que voasse em círculo.
A galinha com cinco dedos foi solta, para espalhar aquela imensa quantidade de terra, e, finalmente, o camaleão arrastou-se vagarosamente, para compactá-la e torná-la firme.
Quando Oxalá acordou, viu que a Terra já havia sido criada, e não o fora por ele.
Desesperado, correu até Olorun, que o advertiu duramente por não ter reverenciado Bará antes de partir, julgando-se superior a ele.
Oxalá, arrependido, implorou perdão.
Olorun, sempre magnânimo, deu-lhe uma nova e importantíssima tarefa, que seria a de criar todos os seres que habitariam a Terra.
Desta vez ele não poderia falhar!
Usando a mesma lama que criou a Terra, Oxalá modelou todos os seres, e, insuflando-lhes seu hálito sagrado, deu-lhes a vida.

EFEITO
Nanã era considerada como a grande justiceira.
Qualquer problema que ocorria em seu reino, os habitantes a procuravam para ser a juíza das causas.
No entanto, Nanã era conhecida como aquela que sempre castigava mais os homens, perdoando as mulheres.
Nanã possuía um jardim em seu palácio onde havia um quarto para o Eguns, que eram comandados por ela.
Se alguma mulher reclamava do marido, Nanã mandava prendê-lo chamando os Eguns para assustá-lo, libertando o faltoso em seguida.
Oxalufã sabedor das atitudes da velha Nanã resolveu visitá-la. Chegou a seu palácio faminto e pediu a Nanã que lhe preparasse um suco com igbins.
Oxalufã muito sabido fez Nanã beber dele, acalmando-a e a cada dia que passava ela gostava mais do velho rei.
Pouco a pouco Nanã foi cedendo aos pedidos do velho, até que um dia levou-o a seu jardim secreto, mostrando-lhe como controlava os Eguns.

Na ausência de Nanã, Oxalufã vestiu-se de mulher e foi ter com os Eguns, chamando-os exatamente como Nanã fazia, ordenando-lhes que deveriam obedecer a partir dali somente ao homem que vivia na casa da rainha.
Em seu retorno Nanã tomou conhecimento do fato ficando zangada com o velho rei. Foi então que rogou uma praga no velho rei que partir dali nunca mais usaria vestes masculinas.
Por isso até hoje Oxalufã veste-se com saia cumprida e cobre o rosto como as deusas rainhas.

FUGINDO DA RESPONSABILIDADE
Diz a lenda que Oxalufã vivia em seu reino com Nanã Burucu.
Era um rei correto e bom mas cheio de afazeres.
Ele deixava Nanã sempre sozinha.

Ele, então, pediu a Ifá , que representa o futuro e pode ser consultado através do jogo de búzios , o consentimento para criar um filho para fazer companhia a Nanã.
Assim foi feito e o filho, chamado de Oxaguiã, foi criado à semelhança do pai.
No lugar de fazer companhia à Nanã, o filho tomava conta do reino e estava também cheio de responsabilidades e sempre representando o pai nas guerras e cerimônias fora do reino. Nanã mais uma vez se queixou da solidão na qual vivia e Oxalufã, para contentá-la, então pediu permissão para criar outro filho.

Assim foi criado, sem o pecado original, Omolú que carregava consigo as doenças da humanidade. Ao contrário do primeiro filho, Oxaguiã, que era forte e cheio de vida, Omolú era raquítico e todo feridento.
Nanã, desta vez, ficou revoltada e não tinha paciência para tomar conta deste filho doente.
Ela o desprezou e o deixou na beira do mar.

Foi ali, então, que Iemanjá tomou conta dele, cuidava de suas feridas e dava o amor de mãe que Nanã não tinha dado.
Mais uma vez, Oxalufã, para contentar e aplacar Nanã e evitar aborrecimentos fez outro filho, desta vez um irresponsável, interesseiro e de caráter duvidoso, Bará, que gostava de brincar e pregar peças com todos os seres do reino.
Foi a gota d'água para Nanã que se sentia humilhada; ela deixou o reino e foi se abrigar no reino de Xangô.
Oxalufã, por sentir sua falta, consultou o adivinho que consultou a Ifá que lhe respondeu que não fosse buscar Nanã pois ele poderia sofrer um castigo pela desobediência. Mas ele, sentindo a falta, resolveu ir até o reinado de Xangô mesmo desobedecendo a Ifá.

INVESTIDA DO BARÁ
Oxalufã era um rei muito idoso que andava com dificuldade, apoiado em seu cajado, o opaxorô.
Um dia, sentindo saudades do filho Xangô, resolveu visitá-lo.

Como era costume na terra dos Orixás, consultou um Babalaô para saber como seria a viagem.
Este recomendou que não viajasse.
Mas, como o Orixá teimasse em ver o filho, foi instruído a levar três roupas brancas e limo da costa, pasta extraída do caroço de dendê, e fazer tudo o que lhe pedissem.
Com essas precauções, o Orixá partiu e, no meio do caminho, encontrou Bará Elepô, dono do azeite-de-dendê, sentado a beira da estrada, com um pote ao lado.
Com boas maneiras, ele pediu a Oxalufã que o ajudasse a colocar o pote nos ombros.
O velho Orixá, lembrando as palavras do Babalaô, resolveu auxiliá-lo; mas Bará Elepô, que adora brincar, derramou todo o dendê sobre Oxalufã.
O Orixá manteve a calma, limpou-se no rio com um pouco do limo, vestiu outra roupa e seguiu viagem.
Mais adiante encontrou Bará Onidu, dono do carvão, e Bará Aladi, dono do óleo do caroço de dendê.
Por duas vezes mais foi vitima dos brincalhões e procedeu como da primeira vez, limpando-se e vestindo roupas limpas, continuando sua caminhada rumo ao reino de Xangô.
Ao se aproximar das terras do filho, avistou um cavalo que conhecia muito bem, pois presenteara Xangô com o animal tempos atrás. Resolveu amarrá-lo para levá-lo de volta, mas foi mal interpelado pelos soldados, que julgaram-no um ladrão.
Sem permitir explicações, eles espancaram o velho até quebrar seus ossos e o arrastaram para a prisão.
Usando seus poderes, Oxalá fez com que não chovesse mais desse dia em diante.
As colheitas foram prejudicadas e as mulheres ficaram estéreis.
Preocupado com isso, Xangô consultou seu Babalaô e este afirmou que os problemas se relacionavam a uma injustiça cometida sete anos antes, pois um dos presos fora acusado de roubo injustamente.
O Orixá dirigiu-se a prisão e reconheceu o pai. Envergonhado, ordenou que trouxessem água para limpá-lo e, a partir desse dia, exigiu que todos no reino se vestissem de branco em sinal de respeito ao pai, como forma de reparar a ofensa cometida.

LIBERDADE
Bará gostava muito de dançar e para ir a uma festa fazia qualquer coisa.
Um dia havia uma festa e ele não podia ir porque não tinha dinheiro.
Fez todos os esforços possíveis até que, como última alternativa, chegou a casa de Oxalá e prometeu limpar-lhe a casa todos os dias se ele o livrasse de um grande apuro que tinha.

Oxalá aceitou e pagou-lhe adiantado, pelo que Bará pode ir à festa nessa noite.
Esteve muito contente e divertiu-se muitíssimo, estando tão cansado no outro dia que lhe custou fazer o trabalho a Oxalá como tinham combinado.
A limpeza foi feita de má vontade, nesse e em todos os outros dias.
Enquanto isto, Oxalá ficou doente repentinamente, a tal ponto que teve que consultar Orunmilá.
Nesta consulta saiu que na sua casa havia alguém que não era dali e que era necessário que se fosse embora.
Que apenas esse alguém saísse de sua casa, ele melhoraria de saúde, e também lhe foi dito que aquele que estava em sua casa se sentia preso e que essa era a razão da sua enfermidade.
Oxalá recordou-se do rapaz que tinha na sua casa para a limpeza, mas não o despediu de imediato, e, quando houve outra festa na povoação disse-lhe: Toma este dinheiro e vai à festa. Já não me deves nada, mas não me abandones e visita-me quando quiseres.
Bará foi-se embora muito contente e desde esse momento Oxalá começou a melhorar e curou-se da doença que tinha.

MILAGRE DE OXUM
Muito tempo depois que Oduduá chegou em Ilê e começaram a adorar o culto das Águas de Oxalá, aconteceu que, logo no primeiro ano, quando estava perto das festas Oxalá escolheu uma senhora das mais velhas da aldeia, chamada Omon Oxum, para tomar conta de suas roupa, adornos e apetrechos, depositando com benevolência nas mãos dela aquele direito especial para tomar conta de tudo que lhe pertencesse, da coroa ao sapato.
Omon Oxum por nunca ter tido nenhum filho, criava uma menina.
Dessa data em diante ela e a menina ficaram sendo odiadas por algumas pessoas que por inveja de Omon Oxum começaram a tramar, procurando um meio qualquer para fazer Oxalá se zangar com ela e tomar o axé entregue por Oxalá.
Fizeram de tudo sem surgir efeito.
Cada vez mais Oxalá ia aumentando a amizade e dedicação para Omon Oxum.
Ela era muito devotada ao cumprimento das suas obrigações e não dava margem alguma para ser por ele repreendida.
Na véspera do dia da festa, as invejosas, já desiludidas por poderem fazer o que desejavam, de passagem pela casa de Omon Oxum se depararam com a coroa de Oxalá que ela tinha areado e colocado no sol para secar, mais reluzente do que nunca, combinaram roubar a coroa e ir jogar no fundo do mar. E assim fizeram.

Quando Omon Oxum foi apanhar a coroa para guardar, não encontrou.
Ficou doida. Procura daqui procura dali, remexeram com tudo procurando em todos os cantos da casa e nada da coroa aparecer.
As invejosas vendo a aflição que estava passando Omon Oxum e sua filhinha, satisfeitas pelo mal que tinham causado, riam dizendo: agora sim quero ver como ela vai se arranjar com Oxalá amanhã quando ele procurar a coroa e não encontrar.
A essa altura Omon Oxum pensava em se matar e já estava resolvida a fazer isso para não passar vergonha perante Oxalá.
Foi quando a menina, sua filha de criação disse: Mamãe, porque a senhora não vai na feira amanhã de manhã bem cedinho e não compra o peixe mais bonito que tiver lá?
A coroa de Oxalá deve estar na barriga desse peixe.
E assim a menina insistiu, insistiu tanto, até que Omon Oxum se decidiu a aceitar o que a menina aconselhou, dizendo: Fique tranqüila minha filha, porque de madrugada eu vou acordar para ir à feira ver se encontro com esse peixe que você imagina ter a coroa do nosso Rei Oxalá na barriga.

Quando o dia mal tinha clareado, Omon Oxum pulou da cama, se preparou e lá se foi.
Quando ela chegou na feira foi diretamente no mercado de peixe e não encontrou nenhum com escama.
Ainda era muito cedo. Omon Oxum deu uma volta pela feira e já bastante impaciente voltou ao mercado onde encontrou um senhor vendendo um peixe, cujo peixe, era o único que se encontrava no mercado.
Omon Oxum comprou o peixe e foi voando para casa a fim de abri-lo.
Queria ver se sua filha tinha aconselhado bem, para ela poder obter a paz e tranqüilidade espiritual, encontrando a coroa de Oxalá.
Assim que ela chegou em casa foi logo para a cozinha para abrir a barriga do peixe. Porém não conseguiu.
Quando ela estava aí se acabando de chorar e labutando para abrir a barriga do peixe, a menina acordou e foi logo perguntando: Mamãe já comprou o peixe? A senhora deixa eu abrir a barriga dele?
Omon Oxum bastante chorosa respondeu: Minha filha a barriga dele está muito dura. Eu não posso abrir quanto mais você.
A menina se levantou, chegou na cozinha, apanhou um cacumbú e puxou rasgando a barriga do peixe que se abriu em bandas deixando aparecer a coroa de Oxalá ainda mais bonita do que era antes.
Omon Oxum se abraçou com a menina e de tanto contentamento não sabia o que fazer com ela.
Em seguida voltando as vistas para o céu, disse: Olorun, Deus que lhe abençoe. Sua mãezinha está sendo perseguida, porém com a fé que tem no seu Eledá, anjo da guarda, não há-de ser vencida.
Limparam muito bem limpa, a coroa, e guardaram, muito bem guardada, juntamente com o resto das coisas pertencentes a Oxalá.
Em seguida Omon Oxum cozinhou o peixe, fez um grande almoço e convidou a todos da casa para almoçar com ela dizendo que estava festejando o dia da festa do Pai Oxalá.
Ao meio dia Omon Oxum juntamente com sua filha serviram o almoço acompanhado de Aluá ou Aruá. Depois do almoço todos foram descansar para na hora determinada dar começo à festa das Águas de Oxalá.
As invejosas quando viram todo aquele movimento, Omon Oxum muito alegre como se nada tivesse acontecido a ponto de dar até um banquete em homenagem a Festa de Oxalá, ficaram malucas.
Uma delas perguntou: Será que ela encontrou a coroa? Outra respondeu: Eu bem disse que queimasse.
E a outra mais danada ainda dizia: Eu disse a vocês que o melhor era cavar um buraco bem fundo e enterrar.
A primeira procurando acalmar os ânimos, disse para a outra: Vamos esperar até a hora que ela apresentar as roupas de Oxalá com todos os armamentos. Se a coroa estiver no meio o jeito que temos é fazer um grande ebó e colocar na cadeira onde ela vai se sentar ao lado de Oxalá.
Quando estava perto da hora de começar a festa, Omon Oxum apresentou a Oxalá toda a roupa com todos os armamentos deixando as invejosas mais danadas e com mais desejo de vingança, a ponto de procurarem fazer o ebó por elas idealizado e colocar na cadeira onde Omon Oxum era obrigada a sentar-se por ordem de Oxalá.
Começou a festa com a maior alegria possível.
Oxalá chegou acompanhado por Omon Oxum e se sentou no trono.
Omon Oxum sem saber do que estava sendo feito contra ela, também se sentou na sua cadeira ao lado de Oxalá. Quando começaram as cerimônias e Oxalá precisou colocar a sua coroa, virou-se para Omon Oxum e pediu para ela ir apanhar a coroa.
Omon Oxum quis levantar-se e não pôde.
Fez força para um lado, para o outro, e nada de poder levantar-se, quando ela decidiu levantar-se de qualquer maneira ,sentiu grande dor, olhou para a cadeira e viu que estava toda suja de sangue.
Alucinada de dor, e horrorizada por saber que Oxalá de forma nenhuma podia ter nada de vermelho perto dele porque era euó, saiu porta afora, indo se esbarrar na casa de Bará.
Quando Bará abriu a porta que viu Omon Oxum toda suja de vermelho, disse: Você vindo desse jeito da casa de meu pai? Infringiu o regulamento e eu não posso lhe abrigar.
E fechou a porta.
Daí ela foi para a casa de Ogun, Odé, e de todos Orixás e sempre diziam a mesma coisa que disse Bará.
Só restava a casa de Oxum.
Quando Omon Oxum chegou a casa de Oxum, esta já tinha sabido do que estava acontecendo e estava a sua espera.
Omon Oxum se jogando nos pés dela disse: Minha mãe me valha, estou perdida. Oxalá não vai me querer mais em sua casa.
Oxum disse para ela que não se preocupasse, que um dia Oxalá ia buscá-la de volta.
Depois Oxum, usando de sua magia, fez com que, do lugar onde sangrava em Omon Oxum saísse Ekodide, pena vermelha de papagaio da costa.

Oxum, depois de colocar todo aquêle Ekodidé numa grande igbá, cuia, reuniu todo seu pessoal e todas as noites faziam um xirê.
E assim Oxum ricamente vestida, sentada no seu trono, com Omon Oxum ao seu lado, a cuia de Ekodidés e a vasilha para colocarem dinheiro em frente a elas, recebia as visitas de todos os Orixás que iam até lá para ver e saber porque Oxum estava fazendo aquela festa todas as noites.
Todos que lá chegavam e se inteiravam do acontecimento, se estiravam no chão para Oxum, depois apanhava um Ekodidé e colocava uma certa quantia na vasilha que estava ao lado para ser colocado o dinheiro.
Tudo aquilo que estava acontecendo no palácio de Oxum, ficou sendo muito propalado e as invejosas faziam todo possível para que Oxalá não soubesse.
Um dia, elas, sem observarem que Oxalá estava por perto, começaram a comentar o caso, onde uma delas disse: Com ela não tem quem possa, depois de tudo o que nós fizemos, depois de ter acontecido o que aconteceu aqui no palácio de Oxalá e de ter sido enjeitada por todos Orixás, vocês não estão vendo que Oxum abrigou ela? Curou, conseguindo que do lugar que sangrava saísse Ekodidé, fazendo uma grande fortuna e aumentando a sua riqueza. Agora só nos resta é fazer com que o velho não saiba do que está acontecendo no palácio de Oxum, se não é bem capaz de querer ir até lá.
Nisso o velho Oxalá pigarreou dando a entender que tinha ouvido toda a conversação.
Ordenou a elas que procurassem saber a hora que começava o xirê no palácio de Oxum e que elas iam servir de companhia para ele poder ir apreciar o xirê e tomar conhecimento do que estava acontecendo.
Quando elas ouviram Oxalá o remorso montou-lhes fazendo com que elas fugissem para nunca mais voltar ao palácio de Oxalá.

À noite, depois do jantar, Oxalá cansado de esperar pelas três invejosas e não vendo nenhuma delas aparecer, disse: Fugiram com medo de que eu castigasse pela grande injustiça que cometeram, não sabendo de que o castigo será dado pelas mesmas.
Assim Oxalá se dirigiu para o palácio de Oxum afim de assistir o xirê e saber qual a causa do mesmo. Quando Oxalá chegou no palácio de Oxum mandou anunciar a sua chegada.
Oxum mais bonita do que nunca, coberta de ouro e muitas jóias dos pés a cabeça, sentada no seu rico trono, mandou que Oxalá entrasse, e continuou o xirê.
Quando Oxalá entrou ficou abismado de ver tanta riqueza e quando reparou bem para Oxum, que viu a seu lado Omon Oxum, a pessoa que cuidava dele e de todas suas coisas, a quem ele julgava ter perdido devido ao que tinha acontecido, não se conteve, se jogou também no chão dando dodóbálé para Oxum, apanhando um Ekodidé e colocando bastante dinheiro na vasilha.
Oxum pegou Omon Oxum pela mão e entregou à Oxalá dizendo: Aqui está a vossa zeladora, sã e salva de todo mal que desejaram e fizeram para ela para que ela ficasse odiada por vós.

Oxalá agradecendo a Oxum disse: Oxum, em agradecimento a tudo o que fizestes de bem e para amenizar os sofrimentos de Omon Oxum eu, Oxalá, prometo levar ela de volta para o meu palácio e de hoje em diante nunca hei de me separar desta pena vermelha que é o Ekodidé e que será o único sinal desta cor que carregarei sobre o meu corpo.
LENIO BRAGA

TEIMOSIA DE OXALUFÃ
Oxalá foi consultar os adivinhos para saber como conduzir melhor sua vida. Os velhos aconselharam-no a oferecer aos outros deuses uma cabaça grande cheia de sal e um pedaço de pano, para não passar vergonha na terra.
Oxalufã como era muito teimoso, deu de ombros aos conselhos e foi dormir sem cumprir o recomendado.

Durante a noite, Bará entrou em sua casa trazendo uma cabaça cheia da sal, amarrando-a às costas de Oxalufã, que jazia em profundo sono.
Na manhã seguinte, Oxalufã despertou corcunda e desde então tornou-se o protetor dos corcundas, albinos, aleijados e lhe foi proibido o consumo de sal.



MEU PAI , ESTOU REGISTRANDO MINHA VISITAAAAAAAAA! te adoro bjo
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