CUSTÓDIO JOAQUIM DE ALMEIDA
No dia 26 de Maio de 1936 morreu o
Príncipe Custódio aos 104 anos de existência. Seu velório e seu enterro,
atendendo ao pedido expresso do morto, foi feito dentro das tradições
africanas com muito batuque e muitos "trabalhos", em intenção do morto.
Osuanlele
Okizi Erupê, que no Brasil adotou o nome José Custódio Joaquim de
Almeida, Príncipe de Ajudá (Golfo da Guiné, África ?, 1832 - Porto
Alegre, 28 de maio de 1935), segundo diversas publicações no Rio Grande
do Sul que são objeto de estudos, foi um dirigente tribal africano,
exilado no Brasil, onde se tornou famoso como curandeiro e líder
religioso.[1]
Ninguém sabe como e nem em que circunstâncias, ao final
do século XIX este príncipe governante deixou São João Batista de
Ajudá, no Dahomey (hoje República de Benim), no passado um dos
principais entrepostos de escravos para o Brasil, mas o certo é que ele
partiu ante a promessa solene dos Ingleses de que o seu povo não
sofreria o que haviam sofrido os grupos vizinhos ante a violência dos
Alemães e Franceses.
Os portugueses, antes senhores da região, tinham
se contentado com uma parte da Guiné e com as Ilhas de São Tomé e
Príncipe cedendo as suas fortalezas. As condições para que o Príncipe de
Ajudá não oferecesse qualquer resistência aos invasores, além do
respeito à vida dos seus súditos, era a de que se exilasse e jamais
voltasse aos seus domínios. E, como parte do convênio, a Grã-Bretanha se
comprometia a fornecer-lhe uma subvenção mensal paga em qualquer parte
do mundo onde escolhesse residir, por intermédio dos seus representantes
consulares.
Por qual motivo o exilado escolheu o Brasil, não se
sabe. Talvez por haver aqui grande número de descendentes dos escravos
nativos da Costa da Mina - os chamados "pretos-mina" - ou outra qualquer
razão. A sua chegada ao país foi assinalada como tendo acontecido em
1864, dois anos depois de ter deixado Ajudá. Inicialmente, fixou-se em
RIO GRANDE. Mais tarde, foi para o interior de Bagé, onde ficou
conhecido por manter viva a tradição religiosa do seu povo - com a
prática do que agora se conhece como Batuque - além de mostrar
conhecimentos das propriedades curativas da flora medicinal brasileira,
atendendo a muita gente doente que o procurava, tratando de minorar-lhes
os males por meio de ervas e rezas dos ritos africanos.
De Bagé
mudou-se para Pelotas e depois Porto Alegre, onde chegou em 1901, com 70
anos de idade. Foi morar no atual Bairro Cidade Baixa, na Rua Lopo
Gonçalves, nº 498, cujos fundos davam para a Rua dos Venezianos (hoje
Joaquim Nabuco), mas logo que o Príncipe – que havia adotado o nome
brasileiro de Custódio Joaquim de Almeida – ali se instalou, passou a
rua a ser preferida pela gente de cor que procurava com isso acercar-se
do homem que incontestavelmente, era um líder de sua raça.
O
Príncipe Custódio - como então era chamado - iniciou ali uma nova etapa
de sua aventurosa vida, cercando-se em Porto Alegre de um aparato digno
de um verdadeiro fidalgo.
A família do príncipe de Ajudá aos
poucos foi crescendo e não demorou a atingir o número de 26 pessoas, sem
contar os empregados em boa quantidade.
Os fundos da casa onde
morava serviam como sua coudelaria, pois possuía nada menos do que nove
cavalos de raça – alguns importados da Inglaterra – os quais todos os
domingos disputavam corridas. Para manter e cuidar esses animais havia
um grupo selecionado de empregados, jóqueis, etc., sob a supervisão
direta do Príncipe, que se classificava como "tratador".
O
Príncipe Custódio tinha oito filhos, três homens e cinco mulheres
(atualmente ainda estão vivos um homem – Dionísio Joaquim Almeida,
funcionário aposentado da EBCT – em Porto Alegre, e duas senhoras, uma
residindo no Rio de Janeiro e outra em São Paulo) e para esses oito
filhos, quando pequenos, mantinha quatro empregados, um para cada dois.
Seus
conhecimentos de idioma português não eram muito corretos, porém podia
expressar-se fluentemente em inglês e francês, além de falar ainda
vários dialetos das tribos africanas que havia governado.
As
festas que promovia periodicamente em sua casa – notadamente na data de
seu aniversário – duravam três dias com a casa sempre cheia de gente, da
manhã à noite, quando se comia e se bebia do bom e do melhor, ao som
dos tambores africanos que batucavam sem parar naquelas setenta e duas
horas. Nesses dias, o Príncipe recebia a visita da gente mais ilustre da
cidade, inclusive do presidente do estado, Borges de Medeiros que,
conhecendo a ascendência daquele homem sobre a população de cor, ia
felicitá-lo, talvez mais por motivos políticos do que por outra coisa.
Naquelas
festividades era certo o comparecimento de senhoras e cavalheiros da
melhor sociedade porto-alegrense, além de capitães da indústria e
comércio que dele precisavam o apoio para o perigo de greves e outras
imposições. As mais finas bebidas eram importadas diretamente da Europa,
especialmente para aquelas ocasiões especiais, embora elas nunca
faltassem à mesa do príncipe exilado.
A casa do príncipe vivia
sempre lotada de gente, de visitantes e de pessoas que ele encontrava
nas ruas e lhe pediam auxílio. Mandava essas pessoas embarcarem na
carruagem em que estivesse e as levava para a sua residência onde sempre
havia lugar para mais um. Todos ali ficavam até que quisessem ir
embora. Entre os que viveram muito tempo junto ao príncipe estava um
branco, descendente de alemães oriundo de São Sebastião do Caí, que
tinha feito estudos de Medicina e dessa maneira o auxiliava no
atendimento aos doentes que continuamente o procuravam em busca dos
remédios e dos "trabalhos" religiosos. Alguns estudos sugerem que não
apenas africanos e seus descendentes procuravam a ajuda espiritual do
Príncipe, mas também importantes figuras da sociedade branca gaúcha,
como o presidente do estado Júlio de Castilhos que, ainda em Pelotas,
teria lhe procurado para tratar de um câncer na garganta,[2] e seu
sucessor Borges de Medeiros, que seria supostamente "filho de santo" de
Pai Custódio.[3]
Para os rigores do inverno o Príncipe Custódio
adotou o poncho gaúcho, embora não dispensasse o gorro que marcava a sua
personalidade, não o deixando nem quando visitava o Palácio Piratini
onde sempre era bem vindo e onde havia ordens superiores de bom
atendimento, e onde ele muitas vezes usava o seu prestígio para
conseguir alguma coisa que lhe fosse solicitada por qualquer membro de
sua comunidade.
Durante todos os anos em que viveu em Porto
Alegre – 31 ao todo – nunca manteve correspondência ostensiva com
parentes ou amigos deixados em terras africanas. De lá recebia
informações e daqui envia notícias suas em mãos por intermédio de
marítimos que tripulavam vapores vindos à nossa metrópole transportando e
levando mercadorias. Também nunca se soube o teor dessas
correspondências. De incentivo ao seu povo para uma possível rebelião
não era. Pois ele sabia ser isso humanamente impossível. Além disso, a
Inglaterra, em todo o longo período do seu exílio, sempre cumpriu
religiosamente o que fora estipulado. Mensalmente o consulado britânico
local entregava-lhe um saquinho cheio de libras esterlinas, cuja troca
em mil-réis servia para manter a pequena corte da Rua Lopo, a família
numerosa, os agregados, os empregados, e ainda serviam àqueles que o
procuravam nos momentos de aperturas financeiras.
No verão, em
janeiro, o programa era conhecido. Ia todo mundo para a casa de
propriedade de Custódio Joaquim de Almeida, na Praia de Cidreira. A
viagem para o velho balneário era qualquer coisa de sensacional e
folclórico. Embora fosse dono de carruagem e tivesse dinheiro para
alugar quantas diligências quisesse, o príncipe gostava de viajar em
carretas puxadas por bois na maior calma e na mais incrível lentidão. E
ainda mais: a viagem era feita por etapas em ritmo de passeio, parando
em muitos lugares onde ele era sempre esperado com festas e cerimônias
religiosas africanas, muita comida e muita bebida, pois todos sabiam que
tudo seria pago pelo viajante ilustre. Dessa maneira nunca o trajeto de
Porto Alegre a Cidreira era feito em menos de uma semana. Quando eram
gastos apenas cinco dias, considerava-se um recorde de velocidade.
Com
as carretas de transporte dos passageiros seguiam outras carregadas de
mantimentos, inclusive muitos sacos de milho e dezenas de fardos de
alfafa, aos cuidados dos empregados, pois os cavalos de corrida do
príncipe também iam aos banhos de mar. Isso, ele como treinador e
tratador, fazia questão fechada.
A maior festa que a Cidade Baixa
já viu foi quando Príncipe Custódio completou cem anos de idade. Nesse
dia muita gente "bem" foi abraçá-lo em sua casa, e ele, dando
demonstração de sua vitalidade exuberante, montou a cavalo sem receber
qualquer ajuda. Aliás, isto ele fez até poucos dias antes de sua morte,
quatro anos depois.
No dia 26 de Maio de 1936 morreu o Príncipe
Custódio aos 104 anos de existência. Seu velório e seu enterro,
atendendo ao pedido expresso do morto, foi feito dentro das tradições
africanas com muito batuque e muitos "trabalhos", em intenção do morto.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
CONTATO
E-mail: rakaama@rakaama.com.br
Site: rakaama.com.br
Skype: peregrino rakaama
CURTIR :https://www.facebook.com/PeregrinoRakaama
http://www.facebook.com/rakaama.rakaama
http://rakaama.blogspot.com/
http://rakaamapoesias.blogspot.com/
http://peregrinorakaama.blogspot.com/ http://www.facebook.com/rakaama.rakaama
Twitter @Pjrakaama.
linkedin- Peregrino Rakaama pjrakaama
Nenhum comentário:
Postar um comentário