

ORIXÁ EUÁ

A FILA ANDA
EUÁ era linda e desejada por todos e já tinha idade suficiente para contrair matrimônio, sem que ela decidisse por nenhum dos pretendentes.
E a fila estava cada vez maior.
EUÁ não se decidira por nenhum deles. Secretamente jurara nunca se casar e a qualquer custo manteria a promessa.


Os pretendentes começaram a se digladiar. Por todo o lado se via sangue e desolação dos pais e mães dos pretendentes mortos e o reino perdia o encanto.
EUÁ, desesperada, foi ao encontro de ORUMILÁ, pedindo-lhe ajuda.
ORUMILÁ Determinou que ela fizesse determinado ebó.
EUÁ transformou-se em neblina e se espalhou por todo o aiê.

EUÁ andava pelo mundo, procurando um lugar para viver. EUÁ viajou até a cabeceira dos rios e aí junto às fontes e nascentes escolheu sua morada. Entre as águas EUÁ foi surpreendida pelo encanto e maravilha do Arco-Íris. E dele EUÁ loucamente se enamorou.
Era Oxumarê que a encantava.
EUÁ casou-se com Oxumarê e a partir daí vive com o Arco-Íris, compartilhando com ele os segredos do universo.

Mas EUÁ desejava viver só, dedicada à sua tarefa de fazer criar a noite no horizonte, mandando sol com a magia que guarda na cabeça adô.
Nanã porém, insistia em casar a filha.
EUÁ pediu então ajuda a seu irmão Oxumarê.
O Arco-Íris escondeu EUÁ no lugar onde termina o arco de seu corpo.
Escondeu EUÁ por trás do horizonte e Nanã nunca mais pôde alcançá-la. Assim os dois irmãos passaram a viver juntos, lá onde o céu encontra a terra. Onde ela faz a noite com seu adô.

EUÁ casou-se com Omulu, que logo demonstrou ser marido ciumento.
Um dia, envenenado pelo ciúme doentio. Omulu desconfiou da fidelidade da mulher e a prendeu num formigueiro. As formigas picaram EUÁ quase até a morte e ela ficou deformada e feia. Para esconder sua deformação, sua feiúra, Omulu então a cobriu com palha-da-costa vermelha. Assim todos se lembrariam ainda como EUÁ tinha sido uma caçadora de grande beleza.

BELA PRINCESA
EUÁ era uma linda mulher que morava num reino distante de IFÉ. Com seu jeito de princesa, causava admiração por onde passava. Vivia as margens de um rio e podia invocar as forças dos ventos e das chuvas para favorecer as colheitas. Um dia, quando se banhava no rio, um arco-íris se formou diante dela. A imensidão da luz impressionou EUÁ, a qual sentiu que alguém a protegia e envolvia. Correu para contar aos outros habitantes da região o que presenciara, mas, assim que deixou a água, olhou para trás e viu que o arco íris desaparecera, restando apenas algumas moedas no local.

No outro dia, a cena se repetiu. Ela seguiu então em direção ao rio para ver onde terminava o arco-íris. Nadou por três dias e três noites, até chegar à outra ponta. Lá havia uma coroa de ouro, que EUÁ, cheia da curiosidade, tomou nas mãos.
Então OXUMARÊ, o orixá da riqueza, apareceu diante dela, dizendo-se encantado com sua beleza.
EUÁ se apaixonou pelo deus e pediu-lhe que a transformasse num orixá. Assim transformou-se numa cobra, vivendo para sempre com OXUMARÊ.

CAIU NA REAL
Xangô muito cheio de si, saiu dançando pelas ruas, ao som do batá.
Chegou a um lugar cheio de neblina. Não se enxergava nada. Mas ele sempre dançando.
No meio da neblina apareceu linda jovem, questionando o porquê de tanta dança e cantoria naquele lugar.
Xangô muito arrogante, disse-lhe que bailava onde bem entendesse e que não devia satisfação a ninguém.
A mulher, que se chamava Euá, num passe de mágica, dissipou a bruma e Xangô, caiu na real estava dançando no cemitério.

CAMALEÃO
ODUDUÁ vivia insatisfeita com a forma horrível do Aiê. Tamanha feiúra, irritava-a muito e desencadeava sua cólera. ORUMILÁ aconselhou-a a deixar o assunto nas mãos artísticas de EUÁ. Não era tarefa fácil de fazer. EUÁ começou a pensar como poderia desempenhar as ordens da mãe, mulher sem muita paciência, poderosa e irascível, que não gostava de ser contrariada.
Foi ter com ORUMILÁ, o qual aconselhou-a assumir a forma do camaleão. Assim, poderia dar conta da tarefa.
Dito e feito. Ela se transformou no camaleão e, como tal, aplainou ao máximo a superfície da terra, deixando-a linda, linda e uniforme para o deleite de ODUDUÁ, que ficou encantada e confirmou a filha no papel da Senhora do mimetismo.

DEU COBRA
Neste mundo existe muita gente malvada.
Como a justiça existe, estas gentes sempre se estragam.
Havia um homem muito metido, andava de nariz em pé. Era casado com uma filha de escravo,... , que vivia assustada com medo de apanhar do marido.
Apavorada, longe das suas origens resolveu apelar para EUÁ.
E um belo dia, teve um sonho.
Sonhou que estava perto de um córrego raso, de águas límpidas e dentro dela saía uma voz que a chamava,... , não via ninguém só ouvia a voz macia e aveludada.
Olhando melhor viu uma cobra enorme em cima de uma pedra, no riacho. A cobra era amarela e preta, com escamas brilhantes como ouro.
Não sentiu medo, sentiu ser o animal um encantamento de EUÁ, que mandou que ela bebesse um pouco da água do rio e ... acordou cheia de confusão.
Poucos dias depois o marido chegou em casa, depois do trabalho, e perguntando o que tinha para jantar, ela respondeu que tinha carne desfiada com quiabo, prato predileto do marido.

Para espanto da mulher, até disse que odiava aquela comida, tirou o cinto para bater na esposa e viu que o cinto tinha se transformado numa cobra... apavorado largou a cobra no chão, que se transformou em cinto.

DESCOBERTA
Há quem diga que OIÁ foi namorada de OBALUAÊ e conseguiu que ele mostrasse o rosto sob as palhas.
Provocou um grande vento e o azê foi levantado.
Ficou surpresa por que o rosto de OBALUAÊ era belíssimo. OBALUAÊ gosta muito de OIÁ e de sua espontaneidade desinteressada.
Ela é alegre, bonita, brejeira e generosa muitas vezes OIÁ acompanha EUÁ em suas inúmeras viagens ao céu, rumo ao reino de OXUMARÊ, e em contrapartida OIÁ é acompanhada pela EUÁ no transporte dos espíritos do aiê ao orun.

ENFORCADO
Certa feita XANGÔ quase é convencido por EUÁ e OSSAIM a se enforcar. Seu reino, de OIÓ estava afundando e ele, ingenuamente, fora se aconselhar com EUÁ, a qual junto com OSSAIM, que lhe aconselhavam a enforcar-se e morrer gloriosamente.
Se não fosse OIÁ, o rei teria se enforcada mesmo.

ESCRAVOS
Um determinado orixá consultou IFÁ porque seus escravos APOLÓ, OBUKÓ e ALOGEMÔ, haviam desaparecidos.
Mas na verdade estavam escondidos.
IFÁ determinou que ele deveria fazer 3 oferendas para EUÁ.
#1 -o axé era água bem quente na banheira .
#2 - roupa vermelha no alto da árvore.
#3 - fibra de milho no celeiro.
Quando colocaram a água quente na banheira, APOLÓ não agüentou e pulou fora.
Quando colocaram a roupa vermelha na árvore ALOGEMÔ assumiu esta cor e apareceu.
Quando colocaram fibra de milho no celeiro, OBUKÓ não resistiu e começou a berrar.
Tão rápido foi a resposta que o orixá acusou IFÁ.
Assim IFÁ determinou os prazos de 1 - 3 - 7 - 14 - 21 dias para respostas dos ebós.

FONTE CRISTALINA
EUÁ era mulher pobre, que vendia no mercado para sobreviver. Tinha dois filhos e as coisas andavam muito difícil para ela. Levava as crianças junto para o mercado, um menino e uma menina.
Um dia voltando do trabalho, triste por não ter vendido nada, e deixara de comprar comida para as crianças, cabisbaixa e com fome, se atrapalhou e errou o caminho, embrenhando-se nas profundezas da floresta. As crianças se desesperaram, e EUÁ procurava o atalho de volta sem sucesso. EUÁ desesperada em seu amor materno pedia para OLODUMARÊ que poupasse a vida dos seus filhos, matando-́lhes a sede.
OLODUMARÊ comovido transformou-a numa fonte de água cristalina.

FONTE DA VIDA
Havia uma mulher que tinha dois filhos, aos quais amava mais do que tudo. Levando as crianças, ela ia todos os dias à floresta em busca de lenha, lenha que ela recolhia e vendia no mercado para sustentar os filhos.
EUÁ era seu nome e esse era seu trabalho, ia ao bosque com seus filhos todo dia.
Uma vez, os três estavam no bosque entretidos quando EUÁ percebeu que se perdera. Por mais que procurasse se orientar, não pôde EUÁ achar o caminho de volta.
Uma vez, os três estavam no bosque entretidos quando EUÁ percebeu que se perdera. Por mais que procurasse se orientar, não pôde EUÁ achar o caminho de volta.
Mais e mais foram os três se embrenhando na floresta.
As duas crianças começaram a reclamar de fome, de sede e de cansaço. Quanto mais andavam, maior era a sede, maior a fome. As crianças já não podiam andar e clamavam à mãe por água.EUÁ procurava e não achava nenhuma fonte, nenhum riacho, nenhuma poça d’água. Os filhos já morriam de sede e EUÁ se desesperava.
EUÁ implorou aos deuses, pediu a Olodumare.
EUÁ implorou aos deuses, pediu a Olodumare.
Ela deitou-se junto aos filhos moribundos e, ali onde se encontrava, EUÁ transformou-se numa nascente d’água. Jorrou da fonte água cristalina e fresca e as crianças beberam dela. E a água matou a sede das crianças. E os filhos de EUÁ sobreviveram. Mataram a sede com a água de EUÁ.
A fonte continuou jorrando e as águas se juntaram e formaram uma lagoa. A lagoa extravasou e as águas mais adiante originaram um novo rio.
Era o rio EUÁ, o Odô EUÁ.
A fonte continuou jorrando e as águas se juntaram e formaram uma lagoa. A lagoa extravasou e as águas mais adiante originaram um novo rio.
Era o rio EUÁ, o Odô EUÁ.

FUGITIVO
Estando EUÁ à beira do rio, com um igba (gamela) cheio de roupa para lavar, avistou de longe um homem que vinha correndo em sua direção. Era Ifá que vinha esbaforido fugindo de iku (a morte). Pedindo seu auxílio.
EUÁ despejou toda roupa no chão, que se encontrava no igba, emborcou-o em cima de Ifá e sentou-se. Daí a pouco chega a morte perguntando se não viu passar por ali um homem e dava a descrição.
EUÁ respondeu que viu, mas que ele havia descido rio abaixo e a morte seguiu no seu encalço.
Ao desaparecer, Ifá saiu debaixo do igba de EUÁ, são e salvo.
Este, agradecido, deu a EUÁ o dom da vidência.
Logo EUÁ pensou algo e Orunmilá deu-lhe imediatamente a resposta, antes que ela fizesse a pergunta:
-Sim, dentro em breve você terá um filho.
E este foi o segundo grande presente que Orunmilá deu a EUÁ. Então, levou-a para casa, a fim de tornar-se sua mulher.

ILUSÃO
O sapo, o camaleão e outros bichos pequenos viviam apavorados, o tempo todo. Eram desprezados, chacinados e devorados por animais de maior porte que se divertiam com sua aparência inferior.
Estava se tornando impossível a continuidade de suas espécies no aiê.
Recorreram a ORUMILÁ, que aconselhou que falassem com EUÁ. Cientes do poder de EUÁ resolveram arriscar a sorte e foram falar com ela.
EUÁ os acolheu resolvendo adota-los sob sua proteção direta. A partir daquele dia, eles seriam senhores da defesa da ilusão, com possibilidades de mudanças de cor e forma.

IRRESISTIVEL
XANGÔ se considerava o máximo. Mulher nenhuma no mundo conseguia resistir aos seus encantos. Era o mais belo dos reis, rico e cheio de si.
A fama da beleza de EUÁ corria mundo, e EUÁ não era casada.
XANGÔ resolveu a todo custo, seduzir EUÁ, nem que tivesse de trabalhar de servo em seu palácio, e foi o que fez.
EUÁ portadora de vidência e de premonição, previu a chegada em seu reino, de um grande senhor real que viria disfarçado de servo.
Assim preparada, ficou imune ao charme do senhor do fogo qualquer mulher que olhasse XANGÔ nos olhos brilhantes de fogo, cairia apaixonada.
EUÁ prevenida não olhava nos olhos.
O tempo foi passando e nada, XANGÔ irritado tentou possuí-la a força.
A moça apavorada, mas muito valente deu uma mordida na mão de XANGÔ e soltou-se fugindo do palácio, com o rei disfarçado em seu encalço.
XANGÔ, furioso e pondo fogo pela boca, estava cada vez mais perto, quando EUÁ avistou a porta do cemitério e entrou, o que fez com que o rei de Oió fugisse apavorado, mas a tempo de dizer-lhe que ainda a possuiria de qualquer forma.
Cansada de tantas perseguições, EUÁ resolveu ficar residindo no ILÊ IBOJI, onde sempre estaria a salvo de XANGÔ, estabelecendo um grande relacionamento com IKÚ.
Casou-se com OMOLU e tornou-se senhora dos cemitérios responsável pela transformação e distribuição de todos os elementos para a decomposição do cadáver.

JURADO DE MORTE
Agnes estava jurado por IKÚ, e a última coisa que queria fazer era morrer, mas como enganar IKÚ ?
Procurou um babalaô, que mandou fazer sacrifícios para EUÁ.
O Babalaô acompanhou Agnes na oferenda e mandou-lhe colocar... na água, para que depois se pintasse com o sumo delas. Dito e feito. Agnes fez o que estava sendo mandado, e ficou tão diferente, cheio de listras.
A morte veio procurar como não o encontrou, voltou para orum. Lá chegou e disse o que tinha ocorrido a OLODUMARÉ, que Agnes tinha desaparecido. OLODUMARÉ rindo desfez o mistério, pois ela assumira uma forma diferente, amparado por EUÁ, senhora da transformação.

LEOPARDO
XANGÔ ouviu falar de EUÁ, que vivia enclausurada por seu pai, OXALÁ, o qual tinha por ela um imenso amor.
XANGÔ, o LEOPARDO, resolveu ser empregado no palácio e ficava próximo á torre onde a princesa estava enclausurada, para que ela o visse. Confiava no próprio encanto.
Quando EUÁ o viu, sentiu-se invadir pela paixão e deixou-se seduzir.
XANGÔ satisfeito em seus instintos, abandonou a jovem apaixonada, que consciente do engodo, jurou que jamais seria tocada por outro homem.

MÁGICA
ABIOLÁ não conseguia arrumar casamento porque não era das mais bonitas e no seu lugarejo havia mais mulheres que homens.
Foi aconselhada a procurar um babalaô.

Dito e feito.
Sensibilizado pelo sofrimento de ABIOLÁ, o sacerdote consultou IFÁ, o qual disse que arranjasse omolocum, e outros agrados, e oferecesse a EUÁ num pequeno rio de água transparente.
Durante 16 dias não poderia se mirar no espelho, e na manhã do 17º dia, cedinho deveria deitar mingau do lado de fora da casa e recitar um ofó em homenagem a EUÁ. ABIOLÁ cumpriu as determinações, fervorosamente.
Quando retornou a residência do babalaô, ele tomou todo o material solicitado e se retirou, voltando com um espelho e dois ou três preparados guardados em potes pequenos.
Disse-lhe que EUÁ agradecia os presentes oferecidos com tanta devoção e mandava que a moça batesse no peito e contasse com ela, a senhora das transformações, e que deveria aplicar os pós debaixo e em cima dos olhos , em especial na esquerda que era estrábica e o creme brilhante nos lábios.
Claro que ABIOLÁ executou e quase caiu para trás quando se mirou no espelho. Parecia outra pessoa. A auto-confiança tornara-a bela e desejável.
ABIOLÁ cultuou EUÁ com fervor, deu a primeira filha o nome de EMADELÊ .

MALDIÇÃO
Certa vez EUÁ indo para o rio lavar roupa, ao acabar, estendeu-a para secar. Nesse espaço veio a galinha e ciscou, com os pés, toda sujeira que se encontrava no local, para cima da roupa lavada, tendo EUÁ que tornar a lavar tudo de novo.

Enraivecida, amaldiçoou a galinha, dizendo que daquele dia em diante haveria de ficar com os pés espalmados e que nem ela nem seus filhos haveriam de comê-la, daí, durante os rituais de EUÁ, galinha não passar nem pela porta

MEDO DE ALTURAS
NANÃ andava muito preocupada com EUÁ, solitária e silenciosa, que vivia isolada do convívio de todos. EUÁ muito linda, tão linda como as manhãs ensolaradas, e tinha inúmeros pretendentes, mas não queria contrair matrimônio com nenhum deles.
Queria permanecer solteira e casta.
Sua vida se resumia na tarefa de fazer cair a noite, puxando o sol com o ARPÃO, ela era o próprio horizonte, o exato lugar de encontro entre ôrun e o aiê.

NANÃ preocupada foi consultar um babalaô, pedindo ajuda a ORUMILÁ: que fosse feito algo que mudasse a cabeça de donzela tão teimosa.
Quando EUÁ soube da intenção de NANÃ, chorou tanto, que OXUMARÊ, apiedou-se e levou-a para o céu, escondendo atrás do arco-íris, num local onde NANÃ não tem acesso.
NANÃ tem medo de alturas.

MUDANÇA RADICAL
EUÁ era filha de Obatalá e vivia com o pai em seu palácio. Era uma jovem linda, inteligente e casta.
EUÁ nunca havia demonstrado interesse por homem algum. Um dia, chegou ao reino um jovem de nome Boromu. Dias depois todos já cochichavam que EUÁ estava enamorada do forasteiro.
OBATALÁ riu-se da história, pois confiava em sua filha.
OBATALÁ garantiu que ela ainda era uma flor nova e não queria experimentar desse encanto.
Passado algum tempo, EUÁ mudou.
Tornou-se EUÁ triste, distante, distraída.
OBATALÁ fez tudo para fazer a filha novamente feliz e enviou a filha à terra dos homens.
Ele não sabia que EUÁ carregava um filho em seu ventre.
Uma noite, EUÁ sentiu as dores do parto e fugiu do palácio. O rei foi informado do sumiço de EUÁ e logo mobilizou todo o reino para encontrar sua filha.
Boromu soube da fuga e partiu para procurá-la. Acabou por encontrar EUÁ desfalecida no chão de terra, coberta apenas por uma saia bordada com búzios.
EUÁ despertou e contou-lhe o ocorrido.
Fugira com vergonha de apresentar-se ao rei.
EUÁ sentiu então a falta do rebento e perguntou por ele a Boromu.
Boromu, querendo que EUÁ retornasse ao palácio, escondera o recém-nascido na floresta. Mas quando o procurou já não mais o encontrou. Pois perto do lugar onde deixou o filho, vivia IEMANJÁ.
E, IEMANJÁ escutou o pranto do bebê, o acolheu e prometeu criá-lo como seu próprio filho.
EUÁ nunca mais encontrou seu filho.
Tempos depois EUÁ foi ao palácio pedir perdão ao pai, mas o rei ainda estava irado e a expulsou de casa.
Naquele dia EUÁ partiu envergonhada. Cobriu seu rosto com a mesma saia bordada de búzios e foi viver no cemitério, longe de todos os seres vivos. E nunca mais viu seu filho, ele foi criado por IEMANJÁ.
Ninguém sabe quem é a mulher do cemitério, de onde vem e por que ali está. Tudo o que ocorreu é o seu segredo.

NEBLINA
Numa manhã coberta de neblina, sem suspeitar onde se encontrava, XANGÔ dançava com alegria ao som de um tambor. XANGÔ dançava alegremente em meio à névoa, quando apareceu uma figura feminina enredada na brancura da manhã. Ela perguntou-lhe por que dançava e tocava naquele lugar.
XANGÔ, sempre petulante, respondeu lhe que fazia o que queria e onde bem lhe conviesse. A mulher escutou e respondeu-lhe que ali ela governava e desapareceu aos olhos de XANGÔ. Mas ela lançou sobre XANGÔ os seus eflúvios e a névoa dissipou-se, deixando ver as sepulturas.
XANGÔ era poderoso e alegre, mas temia a morte e os mortos, os eguns.

XANGÔ sentiu-se aterrorizado e saiu dali correndo. Mas tarde XANGÔ foi à casa de ORUNMILAIA se consultar e o velho disse-lhe que aquela mulher era EUÁ, a dona do cemitério. Ele estava dançando na casa dos mortos.
XANGÔ que sentia pavor da morte, desde então nunca mais entrou num cemitério, nem ele nem seus seguidores.

O CEGO QUE ENXERGA
Numa aldeia muito longe, todos anos havia um festival de arqueiros.
Kaju vivia triste e acabrunhado por não poder participar do grande prêmio: ERA CEGO.
O candidato deveria vencer uma destas provas:
#acertar a pinta azul do pássaro abgê
#acertar a pinta vermelha do pássaro alakô
#acertar a pinta branca do pássaro lekeleki
#acertar a pinta vermelha da cauda de odidê
#acertar as listras do antílope, o agbórin.
kaju consultou um babalaô, que mandou ele fazer uma oferenda para EUÁ. A oferenda consistia no que kaju quisesse, contanto que houvesse sinceridade.
O cego ofereceu: uma pomba, 24 mil búzios e um arco e flecha.
No dia do festival, todos zombavam de kaju, por desejar participar.
Para surpresa dos participantes, os arqueiros presentes erraram todos os alvos.
Kaju foi o último a participar, conseguiu atingir todos os alvos. À perfeição.

PORCA GALINHA
EUÁ era muito pobre e lavava roupa para sobreviver. Ela era franzina, mas sabia que se não lavasse roupa não comia.
Toda vez que lavava a roupa e colocava no varal, exausta deitava-se na relva e adormecia. Quando acordava a roupa estava suja de terra.
Como era resignada, lavava de novo.

Um belo dia já cansada de todos os dias ter este problema resolveu fingir que dormia.
Qual não foi a sua surpresa quando viu que a GALINHA vinha perto do quarador e sujava suas roupas de propósito.

PREÇO DA TEIMOSIA
A onça era muito amiga do fazendeiro.
Ela era muito teimosa, e teimosia é coisa que desagrada EUÁ.
A PIOR RAÇA DE INIMIGOS É EXTRAÍDA DE DENTRO DOS AMIGOS.
Por isso devemos pedir a EUÁ que nos faça invisível perante todos: amigos e inimigos, a boca do falador mata o próprio falador.
A onça ouvia todos os dias estes ensinamentos. Certa feita pariu seis filhotinhos, três machos e três fêmeas. Nunca se viu pele tão lustrosa quanto a pele dos seus filhotinhos, dizia ela para seu amigo fazendeiro.
A onça ria de felicidade e desprezava os aconselhamentos de EUÁ, e a cada dia propagava a beleza da pele dos seus filhotes.
O fazendeiro que conhecia a toca da onça, foi até lá, após constatar a beleza real, e como a situação financeira da fazenda não andava boa, aproveitou e matou os filhos para vender a pele.

PREÇO DA TRAVESSURA
Iyewá KEMI , uma menina muita bonita e muito travessa morava numa aldeia, e desde o nascimento tinha sido prometida a EUÁ .
Sua vó, EUÁ TOSSI, era responsável pelo culto na aldeia e pela educação espiritual da menina.
Um dia a menina seria iyá IYEWÁ.
A menina tinha a péssima mania de imitar coisas e pessoas e punha-se a rir com a cara de espanto de todos. Ela imitava muito bem principalmente o macaco.
Por ser bonita ria de quem era feio, sem perder a oportunidade de debochar da pessoa.
Durante muitos anos durante a festa de EUÁ a menina aprontava sempre situações constrangedoras para a sua avó.
Quando tinha CATORZE ANOS, quando ia para o festival viu um macaquinho todo vestido com as cores da orixá EUÁ e começou a imitá-lo, as companheiras imploraram para que parasse mas ela mais gritos estridentes dava.
Quando chegaram perceberam que a orixá não queria receber as oferendas.
Se manifestou no jogo, querendo que cada uma das filhas e das prometidas entrassem na camarinha uma a uma.
Quando chegou a vez da menina, assim que pôs os pés no recinto sagrado sentiu que o rosto se contorcia todo.
Pulava sem que quisesse, não conseguindo parar.
Começou a gritar por socorro, e muito mais quando viu que seu rosto se transformara num careta horrível, parecida com cara de macaco deformado.

No exato momento que ela viu o seu rosto, EUÁ ocupou a vó - a iya - e disse :“ há muito tempo você vem sendo advertida para parar com isto, sem que se corrija. Como castigo, você vai ter que conviver com esta cara de macaco e não será mais iniciada".

SERVIÇO INCOMPLETO
OBATALÁ e ODUDUA viviam rosnando o tempo todo, em eterna competição.
Sabendo que EUÁ executava com sucesso a tarefa determinada por ODUDUÁ de dar forma ao aiê , OBATALÁ encarregou-a de plantar os seres vegetais na terra.

Entregou a ela um grande saco cheio de sementes de todas as espécies de plantas.
EUÁ se transformou na galinha de cinco dedos e assim, ciscando, ciscando, percorreu toda a fase da terra, espalhando as sementes.
A galinha de cinco dedos não conseguiu espalhar quantidade igual de sementes pelos quatro cantos do mundo.-

SILENCIO
EUÁ é a senhora do silêncio.
Num belo dia de sol, depois de muitas tempestades, sentiu-se ofuscada por uma chuva de luzes e cores: o arco-íris se refletia nas águas.
EUÁ se emocionou com tanta beleza, e se enamorou de OXUMARÊ, o grande senhor dos céus, que se transforma em dã, a SERPENTE.
OXUMARÊ também se apaixonou e levou-a para as alturas, transformando-a na faixa branca do arco-íris, a que mais reflete a luz, fazendo dela sua companheira e confidente.

SONHOS
OBATALÁ criou o homem e todos os seres viventes que existe no aiê.
O homem foi dotado de capacidade de pensar, e não tinha um momento no qual parasse de pensar, dia e noite. O homem definhava, não queria alimentar-se, a comida era a mesma, nem queria procriar. A espécie estava ameaçada.
Preocupado, OXALÁ foi consultar ORUMILÁ, que aconselhou a procurar EUÁ.
Uma vez consultada sobre o assunto, EUÁ começou a trabalhar, tratando de separar o dia da noite, o claro do escuro, o quente do frio, o sol da lua, o aiê do orum, animais dos homens. Utilizando como ferramenta a magia, o sonho, a ilusão, o faz-de-conta e o mistério.
Fez o homem conhecer o medo e a dor.
Transformou-se na galinha de cinco dedos. EUÁ aplainou o aiê, deixando o mundo uma belezura.
O homem continuava a pensar sem parar, só que desta vez pensava assustado, deixando OXALÁ mais preocupado.

Então EUÁ criou o sono, o descanso, a trégua, o período no qual o homem saí do mundo real para o mundo imaginário, o mundo da fantasia, onde tudo acontece conduzido pelos sonhos.
E o homem voou, amparado pelos sonhos. E o homem gostou de voar, EUÁ então criou os sonhos coloridos e os terríveis pesadelos...
E o homem dormiu. E o homem sonhou.
O homem não era e não seria mais o mesmo.

TRAIÇÃO
OIÁ estava muito triste, e EUÁ lhe perguntou o motivo de tamanha tristeza .
OIÁ não parava de chorar, respondendo que era por causa da traição do CARNEIRO, que quase a levara a morte.
Ela tivera que se transformar numa ABÓBORA no meio de uma plantação de muitas abóboras, para conseguir salvar sua pele.
Será eternamente grata a abóbora.
Jamais comeria abóbora por gratidão.
O CARNEIRO dava de seu amigo, mas na verdade era um tremendo traidor, alcagüete de primeira..., ele conduziu os inimigos de OIÁ, a sua procura, para o lugar onde ela costumava ficar.
E ele era meu amigo -EUÁ- amigo do peito! Amigo e confidente, ele comia na minha gamela e dormia na minha esteira.
OIÁ sempre foi ingênua, não aceitava a verdade : que os amigos é que mais causam problemas .
CONTATO
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