



ODÚ
OS SENHORES DO DESTINO
ADULTÉRIO ENGANOSO
Ifá e o Male eram amigos. Um dia Male disse a Ifá:
-Vou procurar uma mulher grávida, se ela concordar, será instalada em minha casa, pra que não tenha contato com mais ninguém.
Se esta mulher parir uma menina, eu a criarei para que seja minha esposa: sou muito ciumento para casar-me com uma mulher de cuja inocência não tenha absoluta certeza.
Indo ao mercado, ele encontrou uma mulher grávida, que concordou em colaborar com seus planos.
Passado algum tempo a mulher deu a luz uma linda menina, para alegria do Male, que ficou muito contente e logo pôs-se a pensar:
-Como poderei evitar que olhos masculinos vejam esta menina, até o dia em que possa desposá-la?
Decidiu então construir uma casa dentro de sua própria casa e ali instalar mãe e filha.
Nenhum homem, nem mesmo ele, tinha acesso a menina, que cresceu rapidamente.
Quando a jovem completou dez anos, sua mãe abandonou a casa, deixando-a sozinha.
Enquanto isso, Ifá contava os anos de idade da menina. Um dia, achando que ela já deveria estar suficientemente grande, foi visitar Male e chegando a sua casa, entrou saudando-o cordialmente.
Depois da visita, Ifá pôs-se a pensar: Como é que pode?
O Male contratou uma mulher grávida que pariu uma menina, esta menina jamais viu ou foi vista por qualquer pessoa do sexo masculino?
Nem mesmo, o rei de nosso pais, viu a criança.
Mas eu vou tentar vê-la!
Munindo-se de seus instrumentos adivinhatórios, fez a consulta, surgindo Obara Meji, que lhe recomendou que tomasse uma caixa, acaçá, um galo, azeite de dendê e fizesse uma oferenda a Légba.
Feito isto, teria que entrar na casa de Male e tranca-la por dentro com a chave.
Ifá preparou tudo e foi a casa do amigo. Lá chagando saudou-o, entrando no quarto do amigo, disse:
-amanhã partirei em viagem, gostaria de confiar-lhe a caixa de meu tesouro. Minha mulher preferida lhe entregará a caixa, para que você a guarde em lugar tão seguro que nenhum homem possa encontrá-la.
Como não? disse o Male. “Não somos amigos? Quando partirás?
-Dentro de três dias e só voltarei daqui a três meses. No terceiro dia pela manhã, Légba disfarçado na esposa preferida de Ifá, foi a casa de Male e disse: meu marido encarregou-me de procura-lo para entregar-lhe a caixa que se encontra embrulhada nestes panos.
Ele virá busca-la dentro de três meses, quando regressará da viagem.
Male chamou a escrava que cuidava da menina, para que guardasse a caixa na casa onde vivia a jovem, mas a caixa era por demais pesada e a mulher não pode carregá-la.
Diante do impasse, Male resolveu levar ele mesmo a caixa para o quarto da jovem e ao faze-lo, viu-a pela primeira vez, saindo em seguida e trancando por fora todas as portas.
Ifá, que mantinha-se escondido dentro da caixa, vendo Male sair, trancou por dentro a porta do quarto da jovem e avistou-a, saudou-a, no que foi correspondido.
-Você me conhece? perguntou.
Não! retrucou a moça.
Ifá então colocou-se a vontade e começou a divertir a moça, depois, deitando-se com ela, possuiu-a. Isto feito aconselhou a jovem a lavar-se com água morna, no que foi atendido. Ifá só se alimentava de obi.
Finalmente, a jovem ficou grávida e Male de nada desconfiou.
Como estivesse próximo de findar-se o terceiro mês, Ifá disse a moça:
-se o Male lhe indagar sobre sua barriga, não fale nunca no meu nome.
Findo, o terceiro mês, Ifá encerrou-se novamente na caixa, que a moça embrulhou nos panos, da mesma forma que viera.
Légba, novamente disfarçado na mulher de Ifá, apresentou-se ao Male dizendo: meu marido chegou de viagem e pediu que viesse buscar sua caixa, e assim que se sinta descansado, virá agradecer pessoalmente pelo grande favor prestado.
Depois de seis meses, o Male resolveu tomar a jovem como mulher.
Lavou-se cuidadosamente, vestiu um belíssimo búbú que lhe havia presenteado Ifá, entrou no quarto e encontrou a moça com uma enorme barriga.
Male correu a contar o acontecido ao rei, que surpreso, mandou que cuidasse do parto, já que havia uma gravidez. O dia do parto chegou, a criança, antes de nascer, tinha que ouvir o nome do pai pronunciado por sua própria mãe. O Male não conseguia entender o que se passava.
A mulher gemia e contorcia-se em dores. A criança teimava em não nascer.
Foi então que resolveu pedir os conselhos de seu amigo Ifá. Ifá consulta e surge novamente Obara Meji, exigindo que uma perna de antílope seja sacrificada.
Ao receber a oferenda, a mulher cheia de dores, perguntou: Quem me envia esta carne? -
É Ifá quem te oferece!”-
Ifá? Que Ifá?” - O que disse? Perguntou Ifá.
- Ifá! -
O que? -
Ifá! Eu falei Ifá! Foi Ifá que me deu esta carne!
Quando a mulher acabou de falar, a criança, ouvindo o nome de seu verdadeiro pai, resolveu sair para o mundo.
ANCESTRALIDADE
Nos primórdios da criação, Olodumarê, o Ser Supremo que vive no orun, mandou vir ao aiê, três divindades: Ogum, Orixála e Odú, a única mulher entre eles.
Todos eles tinham poderes, menos ela, que se queixou então a Olodumarê.
Este lhe outorgou o poder do pássaro contido numa cabaça, igbá eleiye, e ela se tornou então, através do poder emanado de Olodumarê, Iyá Won, nossa mãe para eternidade. Mas Olodumarê a preveniu de que deveria usar este grande poder com cautela, sob pena de ele mesmo repreendê-la.
Mas ela abusou do poder do pássaro. Preocupado e humilhado, Orixála foi até Orunmilá fazer o jogo de Ifá, e ele o ensinou como conquistar, apaziguar e vencer Odú, através de sacrifícios, oferendas e astúcia.

Orixála e Odú foram viver juntos. Ele então lhe revelou seus segredos e, após algum tempo, ela lhe contou os seus, inclusive que adorava Egum.
Mostrou-lhe a roupa de Egum, o qual não tinha corpo, rosto nem tampouco falava. Juntos eles adoraram Egum.
Aproveitando um dia quando Odú saiu de casa, ele modificou e vestiu a roupa de Egum.
Com um bastão na mão, Orixála foi à cidade, e falou com todas as pessoas. Quando Odú viu Egum andando e falando, percebeu que foi Orixála quem tornou isto possível.
Ela reverenciou e prestou homenagem a Egum e a Orixála, conformando-se com a supremacia dos homens e aceitando para si a derrota.
Ela mandou então seu poderoso pássaro pousar em Egum, e lhe outorgou o poder: tudo o que Egum disser acontecerá.
Odú retirou-se para sempre do culto de Egugun.
AS PORTAS DO SABER
Naquele tempo, Orunmilá não era mais que um jovem, que de excepcional, possuía apenas uma vontade imensa de saber tudo o que pudesse.
Em suas andanças sobre os países então conhecidos, soube da existência de um grande palácio, onde havia dezesseis quartos, num dos quais encontrava-se aprisionada uma belíssima donzela denominada Sabedoria. Muitos jovens aventureiros, guerreiros poderosos, príncipes e monarcas, já haviam sucumbido, na tentativa de resgatar a bela jovem.
Determinado a conquistar Sabedoria, Orunmilá dirigiu-se ao local onde estava edificado o palácio e no caminho encontrou um mendigo que, estendendo-lhe a mão, pediu um pouco de comida.
Orinmilá pegou um pequeno saco com um pouco de farinha de inhame, que era tudo o que tinha para comer e de um pouco de epô pupa, misturando tudo e dividindo com o mendigo, comendo uma pequena parte do alimento.

Depois de alimentar-se, o mendigo revelou a Orunmilá seu nome, dizendo chamar-se Elégbara e como agradecimento, ofereceu ao jovem aventureiro um pedaço de marfim entalhado, dizendo:
-Com este marfim, denominado Irofa, deveras bater as portas dos dezesseis quartos do palácio, pois só assim elas se abrirão.
Do interior de cada quarto, ouvirás uma voz, que te perguntará:
Quem bate?
Te identificarás, dizendo que és Ifá o senhor do Irofa.
A porta se abrirá e conhecerás a morte, seus horrores e mistérios. Se não demonstrares medo em sua presença, haverás de adquirir domínio absoluto sobre ela.
É necessário que não te deixes encantar pelas maravilhas e os prazeres que se descortinarão diante de teus olhos, pois podem escravizar-te pra sempre, interrompendo tua busca.
Resiste a estas tentações ou verás tua vida ser reduzida a uns poucos dias de luxúria.
Ela vai te ensinar o poder que a mulher exerce sobre o homem e o porque deste poder, conhecerás seres poderosos que funcionam na prática do mal, todos os demônios denominados Ajés se curvarão diante de ti e te oferecerão seus serviços, malefícios que, caso aceites, fará de ti o ser mais poderoso e odiado sobre a face da terra. Aprenderás a dominar o fogo e a utilizar o poder dos astros sobre o que acontece no mundo, principalmente a influência da Lua sobre os seres vivos. Cuida pra que estes conhecimentos não te transformem num bruxo maldito.

A décima segunda porta te reserva surpresas e sustos sem fim. Seu guardião se chama Oturukpon Meji, é do sexo feminino e possui forma arredondada, mais se parecendo com uma grande bola de carne, quase sem forma. Trata-se de um gênio muito poderoso, que poderá te revelar todos os segredos que envolvem a criação da terra, além de ensinar-te como obter riquezas inimagináveis. Aprende com ele o segredo da gestação humana e a maneira de como evitar abortos e partos prematuros, depois, parte respeitosamente em busca do próximo aposento.
Aprende agora, como é possível separar as coisas, dominar o mistério de dissociar os átomos, adquirindo assim, pleno poder sobre a matéria. Aprende também a utilizar a força mágica que existe nos sons da fala humana, mas usa esta força terrível com muita sabedoria.
Toma-a para ti e possua-a para todo o sempre, pois agora és Ifá e nada pode mais que tu.
ASTUTA
Uma jovem muito pobre, conhecida pelo nome de Ialode, era muito astuta e ambiciosa, o que a tornava perigosa. Pretendendo melhorar sua situação, Ialode foi consultar Ifá, na esperança de receber as orientações necessárias.
No decorrer da consulta, surgiu o Odú Oshe Meji, que prescreveu um sacrifício que Ialode tratou logo de oferecer. No dia seguinte, quando passava pela porta do palácio do rei Oba Nla, a jovem foi acometida de uma fúria inexplicável e pôs-se, em altos brandos, a culpar o rei pela situação de miséria em que vivia.
O rei é um perverso insensível. Gritava a jovem, tem o que deseja e por isso não se incomoda com a miséria de seus súditos!
As pessoas que passavam, ao ouvirem as acusações feitas pela jovem, tomaram partidos diferentes, alguns achando que ela estava coberta de razão, enquanto outros defendiam Oba Nla, por conhecerem sua bondade e senso de justiça.
Ao ser informado do que estava ocorrendo, o rei ordenou que a moça fosse imediatamente conduzida a sua presença, para um entendimento pessoal.
Frente a frente com o rei, Ialode relatou suas desditas, chorou suas mágoas e falou de seus sonhos de jovem. Impressionado com a coragem da moça e com a sinceridade que marcava o seu caráter, Oba Nla, mandou que lhe fosse dado um aposento no palácio, onde a partir de então, a jovem passou a residir cercada de todo o luxo e conforto que sempre desejou desfrutar, ficando desde então, encarregada de todo o ouro que pertence a Oba Nla.
A UNIÃO FAZ A FORÇA
Um certo casal, apesar de se amarem muito, viviam brigando por absoluta falta de compreensão.
A desarmonia superava o amor e a convivência já era insuportável, por este motivo, foram procurar um babalaô em busca de orientação.
No jogo, surgiu Ejioko, que determinou um sacrifício composto de um casal de pombos brancos, fitas de várias cores, ori da costa, 2 caranguejos, 200 búzios.
Como o casal não possuísse recursos suficientes, foi preciso que a mulher preparasse muito mingau de acaçá, para o marido vender no mercado para obter dinheiro para o material do ebó.
Oferecido o ebó, o que só foi possível pelo trabalho conjunto do casal, voltou a reinar a paz e a compreensão entre os dois, que continuaram a trabalhar da forma que fizeram para obter o dinheiro do sacrifício.
BANDEIRA BRANCA
Há muito tempo, dois príncipes disputavam entre si, o trono de Abeokuta.
O primeiro príncipe, chamado Kun, foi consultar Ifá, para saber de que forma poderia resolver favoravelmente a questão e na consulta surgiu Ejioko, que determinou que fosse oferecido um sacrifício a Bará, de um etu e vários pregos, além de todas as coisas que fazem parte dos sacrifícios oferecidos a Bará.
Kin, no entanto, afirmou para si mesmo:
Não preciso oferecer nada a Bará para que o trono de Abeokuta me seja entregue. Sou mais forte que meu concorrente e vou derrotá-lo numa luta corporal, resolvendo a questão definitivamente.
O segundo príncipe, conhecido pelo nome de Koogun, também foi se ver com Ifá, saindo na sua consulta o mesmo Odú, que lhe recomendou oferecer o mesmo ebó.
Feito o ebó, Elégbara surgiu diante de Koogun e mandou que, no dia da decisão sobre quem iria ocupar o trono, vestisse uma roupa inteiramente branca e levasse consigo uma pequena bandeira da mesma cor.
No dia da decisão, os anciãos da tribo se reuniram na praça da cidade e todo o povo também se fez presente naquele local.
Kun foi o primeiro a chegar, trazendo nas mãos suas armas de guerra, completamente despido, com o corpo untado de óleo de palma, o que fazia ressaltar sua esplêndida musculatura.
Logo em seguida chegou Koogun, trajando axo funfun e acenando para todos com uma pequena bandeira branca. Ao ver aquilo, Kun foi acometido de fúria incontrolável, lançando-se sobre seu adversário com a intenção de terminar logo com a questão.
Os anciãos, que a tudo assistiam, ordenaram que os guardas detivessem o impetuoso Kun e que o expulsassem da cidade por não saber respeitar os sinais de paz ostentados por Koogun.
Foi assim que, tendo seguido as orientações de Ifá, Koogun pode ser coroado rei de Abeokuta.
BELA VISITA
Enure era homem que, apesar de muito trabalhador e esforçado, não conseguia progredir na vida, por ser perturbado permanentemente por dois inimigos muito poderosos, chamados Perseguição e Inveja.
Orientado por amigos que testemunhavam sua penúria, Enure foi consultar o babalaô, surgindo Eta Ogunda, que determinou um sacrifício para Bará.
Feito o ebó, Enure conseguiu livrar-se de Perseguição e Inveja, que pela ação de Bará, esqueceram seu endereço, passando, a partir de então, a ser visitado constantemente, por Progresso e Riqueza.
BOA TROCA
Dois meses depois do parto, a mãe teve relações com um homem, que queria a qualquer preço, leva-la para longe de seu marido. A mulher concordava em fugir com seu amante, mas não descobria de que maneira poderia assumir seu ato, sem trágicas.
Certo dia, o sedutor entregou à mulher um poderoso veneno, que deveria ser misturado à comida do esposo, o que segundo ele, iría solucionar definitivamente os seus problemas.
No dia seguinte, a mulher preparou um nunsunun e aproveitando-se da ausência do marido, derramou sobre o alimento uma grande quantidade do veneno que lhe presenteara seu amante, tendo antes o cuidado de separar uma parte num recipiente a parte.
Quando o marido regressou, a mulher serviu-lhe a comida envenenada, retirando-se em seguida, sob a alegação de que iria buscar um pouco de água fresca, no poço próximo de casa. Acontece que, na hora em que a mulher envenenou a comida, Zinsu, o mais novo dos gêmeos, que a tudo assistira, marcou o recipiente com a parte envenenada.
Antes do nascimento dos gêmeos, o babalaô do local, previra que tal acontecimento, seria seguido de uma grande desgraça para aquela família e para evitar que a profecia se cumprisse Zinsu resolveu avisar a seu pai, da trama que estava sendo preparada contra ele, mostrando-lhe onde estava a porção boa de alimento, que a mulher havia separado pra seu próprio consumo.
O pai trocou a comida envenenada, para o recipiente em que se encontrava a parte boa, tratando de comê-la imediatamente, o que foi presenciado pelo outro gêmeo, chamado Sagbo. Quando a mulher voltou com a água, Sagbo contou-lhe tudo o que acontecera em sua ausência e a mulher, com grande alarido, convocou a presença de toda a vizinhança, gritando que o marido tentara envenena-la. O acontecimento foi levado ao conhecimento do rei Metolõfi que, imediatamente, intimou a sua presença o marido, interrogando-lhe sobre as acusações que lhe fazia a mulher.

Ouvindo as alegações do homem, o rei resolveu tomar depoimento dos gêmeos que, apesar da pouca idade, foram ouvidos como se fossem adultos, depondo em separado. Interrogado primeiro, Zinsu afirmou não conhecer a origem do veneno que sua mãe colocará na comida de seu pai, mas que considerava o seu nascimento e o de seu irmão, como um sinal de azar para a família, principalmente se seu pai viesse a morrer, decorridos apenas dois meses de seu nascimento e que por este motivo, havia denunciado a trama de sua mãe.
Sagbo, por sua vez, declarou que sua mãe havia realmente envenenado a comida destinada a seu pai que, sabedor disto, trocara os alimentos de prato, consumindo o bom e deixando o envenenado pra sua mulher, com a intenção de castigá-la.
Tomara a decisão de avisar sua mãe sobre o ocorrido, por achar que, se ela tivesse morrido, não haveria dúvida de que a culpa seria atribuída ao seu nascimento e de seu irmão que, segundo a previsão do adivinho, traria desgraça a sua família.
Foi então que Metolõfi disse ao pai dos gêmeos:
Tu és defendido por duas pessoas. Tu chamarás sempre pelo seu nome, em sua proteção Ibeji.
COM A CABEÇA NO PESCOÇO
Num tempo em que Ifá era pobre, consultou seu Kpoli para saber de que forma poderia mudar de vida e conquistar a simpatia de Metolõfi, que não gostava dele.
Na consulta, surgiu Oturukpon Meji, que mandou que pegasse um cabrito, uma cabaça, todas as frutas redondas que encontrasse e preparasse um ebó, que deveria ser levado a sua mãe e entregue com as seguintes palavras:
Veja minha mãe, eu nunca recebi desta vida qualquer alegria. O rei deste país não gosta de mim, Oturukpon Meji me disse que oferecesse este sacrifício, pois de ti depende minha sorte nesta vida!
Ifá, no entanto respondeu: -Isto é impossível.
Minha mãe não está aqui. Ela partiu a algumas semanas para uma reunião em lugar muito remoto. De que maneira, estando ela ausente, poderei oferecer-lhe o ebó? Légbara intervindo disse:
-Em troca de alguma coisa que me ofereças, reaproximarei tua mãe de ti. Em pagamento quero um galo e alguns acaçás.
Ifá pagou o exigido a Légbara que, durante a noite, procurou sua mãe e lhe disse:-
Seu filho está morto já fazem quinze dias e não há ninguém para oficiar seus funerais. Anda, vá ao país de Metolõfi para fazer a cerimônia.
Desesperada a velha pôs-se a chorar, dizendo:-
Que fazer? Sou tão velha, mal posso andar.
-Dá-me qualquer coisa que te transportarei, disse Légbara.
A velha possuía um bode que tinha doze chifres na cabeça, ao vê-lo Légbara falou: Se me deres este bode de doze chifres, te levarei, agora mesmo, para junto de teu filho.
Mas este bode não é meu...
-Respondeu a velha.
...ele pertence a Vida. Ele me foi confiado e está sob minha responsabilidade.
-Se não me deres o bode, sem dúvida não poderei ajudá-la.
-Tudo bem, carrega-o! Eu já perdi tudo o que tinha para perder, o bode não fará diferença!
Légbara, pegando o bode, matou-o.
O sangue que escorria do corpo do animal era fogo que espalhando-se, cobriu o corpo de Légbara .
Aterrorizado como tão estranho acontecimento, Légbara foi consultar Ifá e na consulta surgiu Oturukpon Meji, ordenando que os intestinos do bode fosse retirados e oferecidos em sacrifício, num caminho qualquer.
Naquele tempo, Légbara não possuía cabeça e pegando a cabeça do bode, colocou na panela para cozinhá-la. Durante dias e dias, Légbara insistiu na tentativa de cozinhar a cabeça por mais que gastasse lenha, nada conseguia. Cansado, resolveu procurar a mãe de Ifá e, para isto, transportou a cabeça e a carne do animal até o reino de Metolõfi.
Para conduzir a enorme panela, Légbara derramou a água nela contida, preparou uma rodilha que depositou sobre os ombros pra servir de base a panela que estava completamente enegrecida pela fumaça. A rodilha fixou-se em seus ombros, transformando-se em pescoço e a panela transformou-se um cabeça e Légbara descobriu que agora, como todo o mundo, também possuía uma cabeça. Alegre pôs-se a cantar:

Eu operei uma magia em meu caminho, assim adquiri uma cabeça!
Eu saí sem cabeça para uma viagem, retorno agora para casa com cabeça!
Desta forma, chegou diante de Ifá, que também era desprovido de cabeça. Ao tomar conhecimento do destino do bode, Ifá exclamou revoltado:
-Como? Já paguei a Légbara por seus serviços! Ele recebeu de mim o exigido e ainda consegui uma cabeça!
Zangado, preparou seu ebó composto de várias frutas redondas e o entregou a sua mãe, para que o conduzisse a Metolõfi.
Entregando as frutas ao rei a mulher disse: Eu venho de muito longe em reconhecimento ao seu nome. Como não sou rica, aceite estas coisas. É tudo o que tenho para oferecer!
Metolõfi, ordenou que a mulher pegasse um mamão e que o cortasse em duas partes iguais. As sementes negras se derramaram e o mamão, colocado sobre os ombros de Ifá, ali se fixou, transformando-se em cabeça. Notando que a mulher estava cansada, o rei mandou que lhe oferecessem uma esteira, mas ela negou-se a sentar-se na presença de Sua Majestade. De tanto que o rei insistisse, a mulher acabou sentando-se sobre algumas almofadas.
Vendo-a acomodada e mais calma, o rei perguntou qual era o seu nome, ao que lhe respondeu, afirmando chamar-se Nã. Metolõfi então disse:
Nã Taxonumeto,
Depois deste fato, pra que as crianças possam receber uma cabeça, as mães devem, durante a gestação, pedir a proteção de Nã Taxonumeto todos os dias. É sob este signo que as crianças vêm ao mundo de cabeça.
Ifá tornou-se muito conhecido graças a sua mãe e ao bode de doze chifres que não era outro senão o próprio Sol.
Foi através do fogo misterioso do bode, que Légbara adquiriu controle sobre as chamas e visão para compreender as mensagens surgidas no Oráculo.
Foi desta forma que Légbara e Ifá, conseguiram cabeças, graças a Oturukpon Meji que rege tudo o que e redondo, como redondas são as cabeças.
COMER COM OS OLHOS
Os olhos chegaram ao mundo primeiro que a cabeça, sendo por isso seu irmão mais velho.
Certo dia, Axé, criador de todas as coisas, encheu uma cabaça com carne de carneiro conservada em óleo de palma e embrulhou-a num belo corte de seda.
Numa segunda cabaça, Axé colocou ouro, prata e pedras preciosas, embrulhando depois, em panos comuns e de pouco valor.
Isto feito, chamou seus filhos Olhos e Cabeça, para que cada um escolhe-se uma cabaça para si.
Deslumbrado com a beleza da seda, Olhos escolheu a primeira cabaça, deixando a outra para seu irmão. Desembrulhando a cabaça, deparou com a vianda nela contida e sem exitar, tratou de comê-la na companhia de alguns amigos.
Ao abrir a cabaça que lhe restou, Cabeça perguntou decepcionado:
- Que farei com estas coisas se não posso comer? enfim, como foi meu pai quem me deu, vou guarda-las com muito carinho.
No dia seguinte, Cabeça resolveu reexaminar o conteúdo de sua cabaça, derramando sobre sua esteira.
Só então percebeu do que se tratava e pôs-se a gritar: -Estou rico! Minha cabaça vale infinitamente mais do que a de meu irmão!
Tempos depois, Axé reuniu seus filhos e lhes perguntou: -Muito bem, que encontraram dentro das cabaças que lhes presenteei?
-Na minha havia uma bela vianda que tratei logo de comer. Disse Olhos.
-Dentro da minha, encontrei tudo o que representa riqueza e sou grato a meu pai por me haver regalado com tão maravilhoso presente. Afirmou Cabeça.
Então, Axé sentenciou: Olhos, tu és muito ávido! A visão te atrapalha, tu enxergas sem ver.
Cabeça, que melhor refletiu, escolheu a cabaça que, embora envolta em pano comum, guardava em seu interior uma enorme fortuna.
Por este motivo, será Cabeça quem, a partir de hoje, tomará todas as decisões, sem se deixar enganar pelas aparências.
Depois disto, sempre que tivermos oportunidade, devemos dizer:
Minha cabeça é boa e não meus olhos são bons.
COMPLEMENTO
Ogunda meji foi procurado por Nã, Vodun mãe de Ifá, que não conseguia parir, uma vez que não possuía nádegas.
Naquele tempo, Ifá tinha seu conhecimento restrito aos acontecimentos do local onde se encontrava.
Consultando seu próprio jogo, na esperança de obter uma maior capacidade de predição, encontrou Ogunda Meji, que lhe pediu um peixe como sacrifício.
Sabedor de que Nã possuía em sua casa um poço para criação de peixes, Ifá pediu-lhe que lhe trouxesse um, para que pudesse fazer o ebó.
Os dias se passaram e como Nã não trouxesse o ejá, Ifá, que possuía uma cabaça, pegou-a e dirigiu-se a casa de Nã.
Lá chegando, dirigiu-se ao poço e com sua cabaça, começou a retirar água de seu interior, para deixar os peixes a seco, o que facilitaria sua tarefa. Vendo o que estava acontecendo, Nã protestou, afirmando que o Babalao que havia consultado, também havia lhe pedido um peixe como sacrifício, mas ela não possuía cabaça, o que impedia que capturasse um peixe em seu próprio poço. Combinaram, que quando toda a água tivesse sido retirada, os peixes encontrados seriam repartidos entre os dois, acontecendo no entretanto, que quando a água acabou, somente um único peixe foi encontrado no fundo do poço. Nã reclamou o peixe para si, sob a alegação de que o poço se encontrava em seu quintal e que tudo o que estivesse dentro dele lhe pertencia.
Por sua vez, Ifá considerava-se dono do peixe, já que fora ele quem com a cabaça de sua propriedade, o havia capturado, o que certamente não poderia ter sido feito por Nã.

A discussão prolongava-se sem que ninguém cedesse seu direito sobre o peixe.
Ogun, que já havia consultado o Oráculo e feito o seu sacrifício, recebeu um gubasa, do qual jamais se separava. Como passasse pelo local em suas andanças em busca de caça, foi chamado a intervir como arbitro da questão.
Ogun ordenou então, que Ifá segurasse o peixe pela cabeça e que Nã o segurasse pelo rabo, puxando com firmeza, cada qual para seu lado, ao mesmo tempo em que mantinham os olhos bem fechados.
Com um rápido golpe de seu afiado gubasa, Ogun dividiu o ejá em duas partes e depois, ordenou que Nã ficasse com a cauda do peixe e fizesse com ela o sacrifício, para que pudesse obter nádegas, que permitiriam que viesse a parir filhos como todas as mulheres.
Ifá ficou com a parte da cabeça, que ofereceu em sacrifício ao seu próprio Ori, para fortificá-lo em melhor capacitá-lo para suas funções.
Foi assim que Nã, colocando a cauda do peixe abaixo de sua cintura, logrou vê-la transformada em nádegas, enquanto Ifá oferecendo a cabeça do peixe ao seu ori, teve sua capacidade de previsão aumentada infinitamente.
CONCORRÊNCIA DESLEAL
Naquele tempo, o macaco demonstrava ser o maior adivinho do país, sendo, por este motivo, invejado e odiado pelos demais adivinhos que eram o galo, o carneiro e o bode.
Certo dia, macaco saiu em longa viagem, tendo antes oferecido um ebó composto de nove idés dourados e um peixe assado.
No dia posterior a viagem, o rei Olofin precisou consultar Ifá e para isto, convocou a sua presença os três adivinhos para que fizessem, em conjunto, uma consulta.
Os três, maldosamente, para livrarem-se da concorrência do Macaco, determinaram um ebó no que era exigido o sacrifício deste animal.
Olofin, imediatamente ordenou que seus caçadores saíssem na captura do macaco que, graças ao ebó que havia oferecido, conseguiu escapar de todas as armadilhas que lhe foram armadas.
Frustrados pelo fracasso da caçada, os caçadores voltaram a presença do rei, sem contudo conduzirem o animal para ao sacrifico.
Como o caso era urgente e não mais podendo esperar, Olofin resolveu, na falta do macaco, oferecer o ebó com os animais que tinha a mão, ou seja, um galo, um carneiro e um bode, o que trouxe para ele excelente resultado.
CONVIVÊNCIA
Um homem não pode escorregar na lama se tiver na mão uma bengala. Este era o nome do adivinho que consultou Ifá para o caçador.
O pai do caçador tinha morrido. O caçador não tinha dinheiro para os funerais.
Antigamente não se enterrava os mortos como ser faz agora, eram colocados numa grade sobre quatro pés e acendia-se em baixo, uma grande fogueira para cremá-los, evitando assim, que passassem pelo processo de decomposição. A cremação durava três luas e, durante este tempo, os parentes do morto deveriam providenciar para que os funerais fossem dignamente celebrados.
O caçador tinha muitos amigos e, sempre que algum deles precisava celebrar um funeral, era a ele que procuravam para encomendar a caça para ser comida durante o ritual e agora, era o caçador que tinha um ritual a celebrar, e nada podia oferecer aos seus amigos.
Quando faltavam sete dias para o termino da cremação, não tendo nenhum cauri e sem encontrar outra solução, resolveu sair, ele mesmo, a caça.
Embrenhando-se na floresta, deparou com um rio de águas muito escuras e pode ver, na margem, uma grande quantidade de diferentes animais.
Como atravessar o rio de águas tão negras se não posso avistar o fundo? Em busca de uma solução, sentou-se a sombra de uma árvore kpejere ali existente, como estivesse muito cansado, logo adormeceu.
Durante o sono, teve um sonho no qual uma voz lhe dizia:
-Levanta-te, atravessa o rio, na outra margem muita caça te espera para ser abatida!- e a voz repetia-se incessantemente.

Acordado, voltou a ouvir a mesma voz que repetia as mesmas palavras de incentivo.
Procurou para ver quem poderia estar falando, más não encontrou ninguém.
De repente, a mesma voz: Sou eu, a árvore quem te está falando, anda, atravessa o rio, do outro lado há muita caça a tua espera!
Como poderei atravessar em segurança se não posso ver o fundo do rio, tal escuridão das águas?
-Corta um dos galhos com a ponta enforquilhada, toca a cada passo o fundo do rio local onde irás pisar, assim saberás se é raso ou fundo.
Seguindo a orientação da árvore, o caçador pode atravessar em total segurança as águas turvas do rio e, chegando ao outro lado, munido de seu arco, pôde com cada flecha abater três ou quatro animais.
Abateu tanta caça que chegou a pensar que não teria forças para transportar tudo até sua aldeia.
Amarrando os animais com uma corda, tratou de atravessar o rio, arrastando atrás de si, o fruto de seu esforço.
Os animais abatidos foram colocados aos pés do kpejere que novamente falou:
-Eu adoro as vísceras destes animais, foi por isto que te ensinei a forma mais segura de alcançá-los.
Agora, em pagamento, deves oferecer-me as vísceras de todos os animais que abatestes.

Achando justa a proposta, o caçador abriu o ventre de todos os animais, de onde retirou as vísceras que foram depositadas ao redor do tronco da árvore.
Depois retornou à sua aldeia com sua preciosa carga que proporcionaria condições de celebrar condignamente os funerais de seu pai.
Passado algum tempo, morreu a mãe do lenhador que, da mesma forma que o caçador, encontrava-se sem recursos para realizar os funerais.
A cremação foi iniciada imediatamente e, quando faltavam quinze dias para seu término, o lenhador resolveu embrenhar-se na floresta a fim de cortar madeira que, depois de vendida, geraria recursos para o custeio dos funerais.
Depois de muito caminhar, foi deparar com o mesmo rio que o caçador havia encontrado e o rio lhe falou: -Lenhador!
-Ago! Se estás a procura de madeira de bom valor, existe ali adiante uma enorme árvore kpejere. Com alguns golpes de teu afiado machado, podes obter madeira da mais alta qualidade.
-Meu machado é muito pequeno para um tronco tão grosso!
-Não faz mal, corta em pequenos pedaços e teu trabalho será muito bem recompensado.
Assim foi feito e, a madeira obtida foi vendida por mil e quinhentos cauris, importância mais do que suficiente para que, durante os rituais, todos pudessem se regalar.
DE COVARDE A VALENTE
Quando Xangô veio ao mundo, não passava de um pequeno covarde que só possuía um galo que cantava e um cabrito que berrava.
Convencendo-se de que não poderia viver desta forma, resolveu consultar Ifá, em busca de auxílio.
Seu Babalao chamava-se Afeke e foi ele quem, consultando Ifá, encontrou Okanran Meji, que exigiu que Xangô oferecesse um ebó composto de duzentos e uma pedrinhas, um saco, uma cabra, cento e cinqüenta moedas do mesmo valor e mais quinze de valor diferente.
As pedras foram colocadas dentro de um saco e entregues a Xangô depois do sacrifício, representando o seu poder e a sua força.
As moedas foram dadas ao Babalaô, em pagamento.

Na verdade depois que Xangô passou a possuir estas pedras, seus olhos tingiram-se de vermelho, passou a ser muito corajoso e as pessoas tremem a sua aproximação. Quando encolerizado, enfia a mão no saco e lança suas pedras em forma de raio, destruindo quem quer que o tenha provocado.
Foi assim que xangô, o covarde, tornou-se um exemplo de coragem para todos os homens.
DECADENCIA
Olorun fez o homem a sua imagem e semelhança, dando o nome de Ishele.
Como o Ishele vivia muito só, pediu uma companheira a Olorun.
O Criador determinou então, que seu mais puro e belo orixá, ajudasse Ishele naquilo que fosse necessário.
O Orixá não aceitou as determinações e revoltou-se, negando-se a obedecer as ordens de Olorun.
Aborrecido diante de tal insubordinação, Olorun ordenou-lhe que descesse a uma grande fossa, com todos os seus pecados, para que ali fosse transformado no Odú Okanran Meji.
DECLARAÇÃO DE BENS
Dizem que havia diversos príncipes que disputavam o poder.
Também havia outros fidalgos oriundos de diversas cidades. Entre estes, havia tela-okô, que era desprovido de todos os meios de subsistência.

E lá um dia, enquanto roçava, bem no lugar onde havia colocado o ebó que ele tinha feito conforme a maneira decretada, tela-okô bateu com a enxada num forno enorme, que se abriu, causando-lhe grande espanto. Chamou os companheiros que estavam mais afastados, dizendo que tinha afundado no buraco da riqueza.
Mas, em seguida, tendo ele reconhecido ser deveras um verdadeiro tesouro da fortuna o que encontrara, mudou repentinamente, dizendo que o que tinha encontrado era apenas um buraco cheio de orobôs, e que estes eram tão alvos que pareciam tratar-se de moedas.
DESAFIO
Metolõfi tinha uma linda filha chamada Meji. O rei, por muito que tentasse, não conseguia arrumar marido para a jovem.
Meji era muito belicosa e guerreira valente, todos os que se apresentavam com a intenção de desposá-la, eram desafiados para um combate singular, e acabaram derrotados pela poderosa princesa.
Desesperado com a situação e temendo que a filha jamais viesse a encontrar um marido, Metolõfi convidou os reis de Aja, de Ke, de Hun e de Ayo, para candidatarem-se ao casamento.
Atendendo ao convite, os quatros reis vieram acompanhados de toda sua corte.
Mas Meji não abriu mão de suas exigências, só se casaria com o homem que conseguisse derrota-la em combate.
O primeiro a amargar a humilhação de derrota, foi Aja Xosu e em seguida, de nobres componentes de sua comitiva: depois foi a vez de Ke Xosu e seus amigos foram derrotados pela bela princesa.
Ogun, que a tudo assistia, foi perguntar a Ifá sob que Odú poderia encontrar proteção para derrotar a nobre guerreira, conquistando assim, o direito de desposá-la.
Na consulta surgiu Ogunda Meji, que ordenou: Traga um galo, acaça, azeite de dendê, uma cabaça, um pombo, uma corda e vários pedaços de pano.
Quando Ogun lhe entregou o material, Ifá enfiou na corda, algumas contas, com ela amarrou os pedaços de pano e as pernas do pombo, pegou o galo e enfiou debaixo de suas asas, varias folhas de kpelegun e entregando tudo a Ogun, disse:
-Quando partires, deixe o galo em casa e amarre a corda em volta de tua cintura.
No mesmo dia, Ogun desafiou a bela Meji para o combate, durante o qual, a corda que trazia a cintura, rompeu-se e caindo ao chão, embaraçou as pernas da princesa que desequilibrada, caiu derrotada aos pés de Ogun.
DESTREZA
A filha de Metolõfi, rei de Ifé, chamava-se Hwedeu Tu não podes com ela. Bese e Agbo, desejavam casar-se com a princesa e, para resolver a questão, o rei lhes disse:
-Darei a mão de minha filha aquele que primeiro trouxer toda a palha que preciso para cobrir a casa que mandei construir em meu quintal.
A disputa ficou marcada para dai a três dias.
Agbo muito feliz dizia: Que bom, será muito fácil! Bese é muito pequeno e não poderá transportar de uma só vez toda a palha necessária. Assim sendo, não resta dúvidas de que serei o primeiro!
Consciente de suas limitações, Bese tratou de consultar Ifá para saber de que forma poderia derrotar seu concorrente, muito maior e mais forte que ele.
Na consulta surgiu Osa Meji que exigiu, a guisa de sacrifício, que lhe fossem trazidos três frangos.
Quando Bese cumpriu a exigência, Ifá separou para si um frango e meio, entregando o restante ao cliente, sob a recomendação de que, com aquela quantia, preparasse um jantar e convidasse todos os seus parentes.
Durante o jantar, Bese explicou aos parentes, o motivo da reunião e todos se prontificaram a ajudá-lo no cumprimento da difícil tarefa a que iria se submeter.
No dia fixado, Agbo aproximou-se de Bese e perguntou com ironia:
Ainda estás aqui? Anda depressa senão ganharei nossa disputa. Eu posso carregar qualquer coisa que quiser!
Já pronto pra recolher a palha, Agbo passa diante da casa de Bese e pergunta: Ainda estás ai? Já estou a caminho!
De dentro uma voz respondeu: Vá em frente, eu te sigo. Agbo já com a palha no lombo retornava a casa do rei e no caminho resolveu conferir:
-Bese! gritou, e um dos parentes da Rã que se encontrava escondido a beira do caminho, respondeu: “Kpãããã!” Surpreso e achando que estava sendo ultrapassado por seu concorrente, Agbo redobrando os esforços, acelerava a marcha em direção ao objetivo.
Um pouco mais a frente, chama novamente: Bese! e o mesmo “Kpãããã!” surge aos seus ouvidos!
Entra na cidade, penetra no palácio e, no pátio depara estarrecido com o monte de palha que os parentes de Bese haviam depositado no local.
Desesperado, Agbo dá violentas cabeçadas no chão e acaba se matando.
DISPUTA
Certo dia, Sol, Lua, Fogo e Kese resolveram disputar entre si, o poder sobre a Terra.
Kese, tratou logo de consultar Ifá, para saber de que forma poderia resolver a disputa a seu favor. Durante a consulta, o Odu Irosun Meji apareceu, prescrevendo um sacrifico composto de Igbi, etu e ekodide.



Oferecido o ebó, uma chuva torrencial abateu-se sobre a Terra, apagando o Fogo.
Por muitos dias e noites, as nuvens cobriram os céus, impedindo que o Sol durante o dia e a Lua durante a noite, pudessem ser vistos pelos habitantes da Terra. Aproveitando-se da ausência de seus adversários, Kese, que apesar de muito molhado não perdeu o vermelho de sua cauda, estabeleceu definitivamente seu reino sobre a Terra, saindo vitorioso da disputa.
DISPUTA DA NOIVA
Xangô e Efon entraram em atrito pelo amor de uma mulher muito bela, filha de Apako.
Por determinação da mulher, os pretendentes deveriam combater entre si e no fim de dezesseis dias, ela resolveria qual dos dois seria considerado vencedor, conquistando assim o direito de desposá-la.
Efon armou-se de um poderoso par de chifres e dirigindo-se ao campo de luta, atacou furiosamente a Xangô que surpreso, bateu em retirada, indo refugiar-se, com a ajuda de uma corda, em sua morada no Orun.
Naquele tempo, Xangô era ainda muito jovem e inexperiente, mas aconselhado por Elégbara, consultou Orunmilá para saber de que forma poderia vencer a disputa pela mulher amada.
Na consulta surgiu Oshe Meji, que prescreveu um sacrifício com dezesseis pedrinhas, dezesseis kobo, um par de chifres de búfalo, dois galos e dois pombos, além de tudo o que se oferece normalmente a Bará.
Enquanto isso, os adversários de Xangô espalhava na Terra, o boato de que ele era um grande covarde, que havia fugido de Efon sem opor a menor resistência.
Xangô, com a ajuda de alguns amigos tratou logo de oferecer o sacrifício e imediatamente depois começou a trovejar.

No meio da tempestade, surgiu Xangô e a cada brado que emitia, numerosos raios saiam de sua boca numa demonstração de seu poder incontestável.
Diante de tão assustadora visão, Efon depôs suas armas e curvando-se, submeteu-se ao poder do Orixá, suplicando piedade.
Xangô perdoou-o e fez com que todos reconhecessem, a partir de então que o seu poder estava no Orun.
E o vencedor levou consigo a bela mulher, objetivo de toda a disputa.
EBÓ
Era um pobre peregrino que vivia migrando.
Permanecia em diversos lugares, mas, depois de fazer as plantações, mandavam embora, ficando os donos das terras com tudo o que ele tinha feito.
Um babalaô, lhe indicou um ebó, e, tendo tudo preparado, partiu o homem para a grande mata fronteiriça e, lá chegando deu início ao serviço.
Mais tarde, ouvindo um barulho naquele lugar tão impenetrável, assustou-se.
Era Ogun, o dono dessa mata misteriosa.
Chegando perto, ficou Ogun espreitando o estranho, até que este, muito amedrontado, implorou misericórdia, perguntando a ogun se queria se servir de alguma coisa servida no ebó. Que falasse sem cerimônia, pois estava tudo a sua disposição.
Ogum aceitou tudo o que havia ali e ficou satisfeito. Perguntou, então, quem era tão perverso a ponto de mandar o peregrino para aquela paisagem impenetrável.
O homem contou todos os percalços de sua vida.
Então, Ogun, mandou que ele pegasse o mariô e fosse marcar as casas dos seus amigos, pois ele, Ogun, iría àquela cidade à noite destruir tudo o que lá se achasse. Iría arrasar tudo lá existentes, até o solo.
Ogun acabou com tudo, exceto as casas e os lugares que tenha sido demarcados pelo homem com a colocação de mariô em cima das portas.
Tudo o que havia de riqueza ali Ogun deu para ele, tudo mesmo, conforme tinha prometido.
ELENINI
Olodumarê chama os homens para retornarem ao seu lar, porém nem mesmo a morte é capaz de apagar as lembranças os feitos de grandes homens.
Obi é um elemento muito importante no culto dos Orixás.
Quando Olodumarê descobriu que as divindades estavam lutando umas contra as outras, antes de ficar claro que Bará era o responsável por isso, Ele decidiu convidar as quatro mais moderadas divindades, Paz, a Prosperidade, a Concórdia e Aiye, a única divindade feminina presente, para entrarem em acordo sobre a situação.
Eles deliberaram longamente sobre o motivo de os mais jovens não mais respeitarem os mais velhos, como ordenado pelo Deus Supremo.
Todos começaram então a rezar pelo retorno da unanimidade e equilíbrio.

Enquanto estavam rezando pela restauração da harmonia, Olodumarê abriu e fechou sua mão direita apanhando o ar.
Em seguida abriu e fechou sua mão esquerda, de novo apanhando o ar. Após isso, Ele foi para fora, mantendo Suas mãos fechadas e plantou o conteúdo das duas mãos no chão.
Suas mãos haviam apanhado no ar as orações e Ele as plantou. No dia seguinte, uma árvore havia crescido no lugar onde Deus havia plantado as orações que Ele apanhara no ar.
Ela rapidamente cresceu, floresceu e deu frutos.
Quando as frutas amadureceram para colheita, começaram a cair no solo.
Aiê pegou-as e as levou para Olodumarê, e Ele disse a ela para que fosse e preparasse as frutas do jeito que mais lhe agradasse.
Primeiro, ela tostou as frutas, e elas mudaram sua textura, o que as deixou com gosto ruim.
No outro dia, Ela pegou mais frutas e as cozinhou, e elas mudaram de cor e não podiam ser comidas.
Enquanto isso, outros foram fazendo tentativas, no entanto todas foram mal sucedidas.
Foram então até Olodumarê para dizer que a missão de descobrir como preparar as nozes era impossível.
Quando ninguém sabia o que fazer, Elenini, a divindade do Obstáculo, se apresentou como voluntária para guardar as frutas.
Todas as frutas colhidas foram então dadas a ela.
Elenini então partiu a cápsula, limpou e lavou as nozes e as guardou com as folhas para que ficassem frescas por catorze dias. Depois, ela começou a comer as nozes cruas.
Ela esperou mais catorze dias e depois disso percebeu que as nozes estavam vigorosas e frescas.

Após isso, ela levou as frutas para Olodumarê e disse a todos que o produto das preces, Obi, podia ser ingerido cru sem nenhum perigo.
Deus então decretou que, já que tinha sido Elenini, a mais velha divindade em Sua casa quem conseguiu decodificar o segredo do produto das orações, as nozes deveriam ser dali por diante, não somente um alimento do céu, mas também, onde fossem apresentadas, deveriam ser sempre oferecidas primeiro ao mais velho sentado no meio do grupo, e seu consumo deveria ser sempre precedido por preces.
Olodumarê também proclamou que, como um símbolo da prece, a árvore somente cresceria em lugares onde as pessoas respeitassem os mais velhos.
Naquela reunião do Conselho Divino, a primeira noz de cola foi partida pelo Próprio Olodumarê e tinha duas peças.
Ele pegou uma e deu a outra para Elenini, a mais antiga divindade presente. A próxima noz de cola tinha três peças, as quais representavam as três divindades masculinas que disseram as orações que fizeram nascer a árvore da noz de cola.
A próxima tinha quatro peças e incluía assim Aiê, a única mulher que estava presente na cerimônia.
A próxima tinha cinco peças e incluiu Orixá-Nla.
A próxima tinha seis peças representando a harmonia, o desejo das orações divinas.
A noz de cola com seis peças foi então dividida e distribuída entre todos no Conselho.
Aiê então levou a noz de cola para a Terra, onde sua presença é marcada por preces e onde ela só germina e floresce em comunidades humanas onde existe respeito pelos mais velhos, pelos ancestrais e onde a tradição é glorificada.
ENGÔDO
Havia um homem que, por sua enorme sabedoria, era muito procurado por seus vizinhos e demais moradores da cidade.
Certo dia, o sábio adoeceu e sua morte era aguardada a qualquer momento. Usando de seus conhecimentos, o ancião resolveu enganar a morte e para isto, preparou um ebó com o igbi, dois pombos, um preá, mel e efun, colocando tudo num buraco que cavou no chão.
Quando a morte aproximou-se sob a forma de um grande pássaro, o homem correu até o local onde havia depositado o ebó e pegando o igbi, colocou-o sobre sua cabeça, que antes havia untado com bastante mel.
O pássaro Iku, pensando tratar-se do ori do sábio, cravou as garras afiadas no igbi, carregando-o para o mundo dos mortos.
EREMITA
Naquele tempo, a galinha d’Angola era inteiramente preta e vivia só e infeliz dentro da mata.
Para resolver seus problemas de solidão, foi consultar o adivinho de Obatalá, mas sendo completamente preto, não poderia entrar numa casa onde o Orixá do Branco era cultuado, pois cor preta era considerada como uma grande ofensa.
Desolado o bicho que apesar de viver só era muito rico, reuniu uma grande quantidade de alimentos e saiu sem rumo, na esperança de encontrar, em outro lugar qualquer, alguém que lhe fizesse companhia.
Depois de muito caminhar, encontrou numa clareira, um velho muito estropiado que gemendo, estendeu-lhe as mãos dizendo: Dá-me um pouco de comida e de água, pois estou exausto e já não posso conseguir alimentos para minha própria sobrevivência.
Condoído, Etu serviu de seu próprio alimento ao velho e saciou-lhe a sede com a água que trazia dentro de uma cabaça.
Logo que acabou de comer, o pobre velho, de tão enfraquecido, caiu em sono profundo e, ao despertar muitas horas depois, deparou com Etu que preocupado, velava por seu sono.
Já refeito, o velho perguntou: Que fazes sozinho no interior desta floresta? Não sabes por acaso que ela é sagrada e que só os iniciados podem penetrá-la?
-Ando sem destino. Nasci só e sempre vivi só. Minha aparência é muito repugnante e minha feiúra impede que as pessoas permitem que me aproxime delas ! Replicou a ave.
-Tua feiúra exterior nada é, comparada com tua beleza interior. Aproxima-te mais e, como recompensa pela tua bondade, modificarei um pouco a tua aparência!
Pegando pó de efun, o velho que outro não era que o próprio Obatalá, soprou sobre o corpo de Etu, deixando-o, a partir de então, todo pintado. Reunindo alguns elementos sagrados, modelou um cone que colocou no alto de sua cabeça dizendo: A partir de hoje, serás o animal mais importante na religião dos Orixás, Nada poderá ser feito sem tua colaboração e como sinal desta importância, serás o único dentre os seres vivos a portar o oshu, símbolo da aliança formalizada entre o iniciado e seu Orixá. Possuirás além disto, tantas fêmeas quantas quiseres e tua prole será numerosa e se espalhará sobre a Terra.
FARSA DESCOBERTA
O rei Metolôfi não gosta da mosca porque não conseguia ocultar nada dela.
Um dia, resolveu coloca-la a prova, sob pena de morrer se acaso falhasse no teste. Certo dia, a Mosca teve um sonho, através do qual foi avisada para manter-se em guarda, pois a menor distração poderia representar sua morte.
Pela manhã, logo ao despertar, Mosca foi consultar Ifá, que lhe mandou oferecer um sacrifício de quatro galinhas, quatro pombos e farinha.
A Mosca ofereceu os bichos, más preferiu entregar a farinha a sua mãe, para ser por ela vendida.
Enquanto isto, Metolôfi mandou preparar duas grandes esteiras em forma de sacos.
Numa das esteiras, pintada de fuligem negra, colocou um Xlá, na outra, pintada de branco e vermelho, enfiou um Kpô, sendo que os dois animais estavam vivos.
Dois carregadores foram encarregados pelo rei de levarem as esteiras, com seus perigosos conteúdos, até a casa de Mosca, para que esta adivinhasse o que havia dentro, sobe pena de, em caso de erro, ser punida com a morte.

Chegando a cidade, os carregadores encontraram uma mulher que vendia mingau de farinha e arriando seus pesados fardos, comeram do mingau ali vendido, sem saber que a mulher era a mãe de Mosca.
Tendo acabado de comer, o primeiro carregador dirigiu-se à sua carga e perguntou em voz alta: Xla! Queres comer um pouco de mingau de farinha? e como a hiena aceitasse, entregou-lhe uma porção do alimento.
O segundo carregador, seguindo o exemplo de seu companheiro, dirigiu-se a sua carga e perguntou: Kpo! Kpo! Queres mingau de farinha? e o leopardo aceitou. Descobrindo a armadilha, a mãe da mosca tratou de arquitetar um plano para deter os carregadores, enquanto ia avisar à sua filha e dirigindo-se a eles, falou: Tomem conta de minhas coisas enquanto vou em casa buscar água fresca para beberem. Chegando em casa, avisou a mosca que na esteira pintada de preto, havia uma hiena e que na outra de branco e vermelho, havia um leopardo, retornando em seguida com a água para os homens. Depois de saciarem a sede, os homens perguntaram à mulher onde ficava a casa de Mosca.
-Estão vendo aquela casa ali a frente? é de lá que vejo sair todas as manhãs. Vão até lá e a encontrarão. Chegando a casa da Mosca, os carregadores bateram e foram atendidos pela própria. Somos mensageiros do rei Metolôfi que nos mandou procura-la.
-Procurar por mim? E com estas feras sobre as cabeças? Tu carregas um Xla, um Xla vivo! Trate de deixa-lo bem longe de mim! E tu... tu trazes um kpo vivo e não o quero aqui em minha casa! Tratem de levar esta feras para o local de onde as trouxeram!
FERTILIDADE
As mulheres consultaram Ifá queixando-se de jamais haver tido filhos e Ifá prescreveu-lhes um sacrifício que foi feito somente por Uutin.
Ajrorun negou-se a fazer o sacrifício sob a alegação de que, quando fosse chegado o momento, Deus saberia providenciar sua prole.
Um mês depois, Ajronun ficou grávida e disse:
Está vendo? Terei muitos filhos que se reunirão ao meu redor!
No dia do parto, deu a luz algumas bolas que logo começaram a arrebentar e de seus interiores só saíram pequenos flocos brancos, sem forma, que foram dispersados pelo vento.
Este foi o fim de seus filhos.
Uutin, que havia ofertado o sacrifício, também engravidou e seus filhos caíram aos seus pés e logo que vieram as chuvas germinaram, ficando pra sempre, ao seu redor.
FIOS DA VIDA
Quando Olodumarê criou o mundo, a primeira árvore que plantou foi o algodoeiro.
A árvore deu frutos e os frutos produziram algodão. Deus confiou a guarda da árvore e de seus frutos aos pássaros, mas estes, resolveram comê-los, sob a alegação de que tinham fome e não podiam resistir a tão delicioso alimento.
Convocando os dezesseis Odús, o Criador lhes falou:
Eu confiei a guarda do algodoeiro aos pássaros e eles devoraram todos os seus frutos. Desta forma, resolvi que doravante, vocês serão os responsaveis pela segurança deste vegetal.
Os Odús Mejis, no entanto, recusaram a missão, com excessão de Osa Meji que, apesar de ser mais novo de todos, aceitou a atribuição, dizendo a Deus: Tu és meu pai e eu sou teu filho. Tudo o que me mandares fazer, devo executar.
Estando sozinho, Osa Meji pôs-se a pensar :
Assumi um compromisso muito sério diante de meu pai. Não será fácil proteger o algodoeiro da voracidade dos pássaros. Se não cumprir o prometido, meu pai, com toda certeza, haverá de me castigar.

Preocupado, consultou Ifá que lhe aconselhou pedir ajuda a Oye, na dificil missão que lhe fora confiada. Imediatamente Osa Meji procurou Oye que, para sua tranqüilidade falou: Não tenhas medo, estou contigo. Diga-me apenas do que se trata.
-Meu pai me confiou a guarda do algodoeiro, não creio que possa fazê-lo sozinho. De que forma poderás ajudar-me a protegê-lo dos pássaros?
-Primeiro mostra-me o lugar onde fica este bendito algodoeiro.
Osa Meji conduziu Oye até o local onde se encontrava a árvore e a aranha, imediatamente construiu uma forte teia ao redor do vegetal. No dia seguinte, bem cedo, Osa Meji chegou ao local para examinar a árvore e encontrou os passarinhos todos presos na teia tramada por Oye. Munindo-se de um grande saco, colocou-os todos, um por um, em seu interior e, com muita pressa, dirigiu-se a casa de seu pai.
-Eis aqui o resultado do trabalho que me confiastes. Veja os pássaros que capturei e que destruíam tua árvore. Felicitando Osa Meji, Deus lhe disse: De hoje em diante terás o comando sobre a terra.
FORQUILHA
Nukon era o nome da mulher da águia que foi possuída pelo Vodun pela primeira vez, encontrando-se por isto, recolhida no local da iniciação. A Águia fez uma investigação para saber onde o Vodun iria fazer suas vodunsis dançarem no dia da saída da iniciação de acordo com as cerimônias habituais.
Descoberto o local e o dia, pousou no galho de uma árvore em frente a casa do Vodun, esperando ver sua mulher.
As vodunsis saíram do convento em direção ao rio para recolherem água destinada a purificação e na frente da fila, ia a mulher de Águia.
Recolhida a água, as mulheres voltaram cantando e dançando cadenciadamente quando, repentinamente, a Águia saltou de seu abrigo, levando consigo sua mulher, enquanto as outras neófitas escapavam, escondendo-se no interior da casa. Naquele dia o Vodun passou uma grande vergonha.
No dia seguinte, o Vodun reunido com seus amigos, tramou uma conspiração para novamente, tomar a mulher de águia, o que efetivamente logrou fazer.
Outra vez Águia repetiu o feito anterior, escondido na copa da árvore, aguardando que as vodunsis voltassem no rio para novamente resgatar sua mulher.
Todas as vodunsis tiveram que se recolher novamente ao Hunko e a cerimônia de saída teve que ser adiada mais uma vez.
Acabrunhado o Vodun perguntava:
Que fazer? Todos estão zombando de mim... preciso consultar Ifá.
Ifá recomendou então que o Vodun procurasse dois galhos em forma de forquilha.
Indignado o Vodun disse a Ifá: Estou falando sério. Que estória é essa de forquilha?
Ifá respondeu simplesmente: Faça o que estou mandando. Quando o Vodun trouxe as forquilhas, Ifá exigiu: Agora tu me entregarás uma galinha, um pombo, uma galinha d’Angola, uma cabra e cinco moedas.
Feito o sacrifico, Ifá inscreveu o signo Osa Meji sobre o yerosun e, entregando as forquilhas ao Vodun, ensinou de que forma deveriam ser utilizadas. Pela terceira vez Vodun tomou a mulher, conduzindo-a a sua casa e, novamente, Águia ficou à espreita, aguardando o momento adequado para levar sua mulher de volta.
No dia seguinte, as mulheres foram ao rio para pegarem água, na volta, a mulher de Águia, na frente da fila, dançava com as duas forquilhas nas mãos.
Águia lançou-se sobre ela na intenção de carregá-la, sendo desta vez, recebido com as duas forquilhas no peito. Atordoado e ferido, caiu no chão e todas as Vodunsis caíram sobre ele, aplicando-lhe uma grande surra de vara com forquilhas.
FUNDO DO POSSO
Tela Oko era o nome de um príncipe que, apesar de ser um dos pretendentes ao trono de Arara, era muito pobre, sendo por este motivo, muito humilhado e desprezado pelos demais pretendentes a coroa.
Para poder sobreviver, Tela Oko tinha que trabalhar na roça como qualquer lavrador humilde, apesar de sua descendência nobre.
Certo dia, foi procurar o Oluô do local, para fazer uma consulta, durante a qual surgiu Ejioko, pedindo, para Bará, um ebó com galinhas, orogbo, um avental e uma enxada usada.
Feito o ebó, passaram-se alguns dias, até que, ao roçar perto do local onde havia oferecido o sacrifício, Tela encontrou um poço muito fundo.
Imediatamente convocou os companheiros que trabalhavam nas cercanias, que o ajudaram a descer ao fundo do poço. Ao chegar no fundo, qual foi sua alegria ao deparar com uma imensa fortuna.
Voltando a superfície e indagado pelos colegas, Tela Oko, muito excitado, afirmou haver encontrado muito owô .
Motivo pelo qual foi dado como louco por seus companheiros, que imediatamente voltaram aos seus afazeres, deixando-o sozinho.
Tela Oko amarrou a corda em sua cintura e novamente desceu ao fundo do poço, de onde voltou carregado de muitas moedas de prata, tornando-se então imensamente rico.
IMPORTÂNCIA
O Guarda-Chuvas e a Bandeira, surgiram no mundo simultaneamente.
Os dois ao chegarem, foram consultar Ifá, para saberem se seriam honrados em suas vidas.
Na consulta, surgiu Obará Meji e Ifá ordenou um sacrifício, que somente Bandeira se dignou a fazer.
Para justificar sua negligência, Guarda-Chuvas dizia:
-Por que razão tenho que oferecer sacrifício, se sei muito bem que minha posição neste mundo será a de permanecer constantemente, acima das cabeças dos homens, até dos mais poderosos reis?
Um dia, estourou uma guerra e os dois foram levados, junto com seus donos, para o campo de batalha.
Guarda-Chuvas, aberto sobre a cabeça do rei, enquanto Bandeira, seguia na frente, conduzida por um simples escravo.
Por arte de Elégbara, a batalha foi desfavorável ao rei, que para salvar a própria vida, teve que refugiar-se numa floresta de árvores baixas e repletas de ramificações. No decorrer da fuga, dentro da floresta, bastava baixar a Bandeira, para que ela passasse incólume entre os galhos, enquanto que Guarda-Chuvas, atingido por
ramos incontáveis, terminou todo rasgado, tornando-se completamente inútil.
Quando chegaram do outro lado da floresta, o rei vendo o estado deplorável em que se encontrava Guarda-Chuvas, jogou-o fora, pois não mais servia para protege-lo da chuva ou do Sol.
Depois disto, Guarda-Chuvas passou a ser um instrumento utilizado somente quando há conveniência para tal, ao passo que Bandeira é usada permanentemente.
INDISCRETO
Um filho do rei de Ayo, chamado Tela, encontrava-se certa ocasião, muito endividado.
Querendo se casar, pegou emprestado, dinheiro para o dote, comprometendo-se a efetuar o pagamento com seu trabalho no campo. Seu credor, que era um homem muito ganancioso, explorava terrivelmente o pobre rapaz, exigindo dele, cada dia mais e mais trabalho no campo. Desesperado, Tela foi consultar os pássaros Leke-leke e agbogbo que, entre os pássaros, eram conhecidos como excelentes Babalaô.
Como fazer?- perguntou ele - Para livrar-se desta dívida e voltar novamente a ser livre?.
Os pássaros prescreveram sacrifícios e disseram que depois de oferecidos os ebó, a pessoa que o escravizava seria duramente castigada e para ele, adviria uma grande riqueza e muita felicidade, só não podendo revelar a ninguém o que seria feito.
Tela teria que comprar dois cabritos para serem oferecidos a Ifá. O que não foi possível, devido a extrema miséria em que se encontrava.
Voltando ao campo de seu amo, enquanto trabalhava a terra, Tela encontrou um buraco onde havia esquecida um grande quantidade de dinheiro.
Feliz com o achado, o jovem pagou a divida e passou a viver como um nababo, organizando banquetes onde, em companhia de seus amigos, consumia muita comida, bebida, dinheiro e conversa.
Numa destas reuniões, já tendo bebido e comido demais, Tela contou a seus amigos tudo o que se passara entre ele e os pássaros advinhos, quebrando a promessa de manter segredo sobre o que acontecera.
Os amigos e as farras levaram Tela novamente a ruína.
Se tivesse oferecido os cabritos, o segredo não teria sido revelado e nada de mal poderia lhe acontecer.
Ao saber do acontecido, Agbogbo disse a Tela:
Olhe só, todo mundo sabe do nosso segredo, da mesma forma que todo mundo sabe quando levanto vôo.
Os teus azares surgiram de tua indiscrição, nada temos com isso!.
INFORTUNIO
Dizem ter existido um senhor que, depois de ter estado muito bem, ficara num estado tão precário que, devido à extrema miséria em que se achava, viu-se forçado a procurar todos os meios para não pôr termo à própria existência.
Mas, tendo feito o que lhe determinaram fazer e tendo esperado a melhoria das suas coisas da vida sem ter algum resultado benéfico, foi-se para o mato com uma corda, afim de se enforcar.
Foi quando, de súbito, viu um pobre leproso que estava pelejando para botar a água de um igbin na cabeça.
O homem que estava prestes a cometer a ação de suicidar-se, com grande admiração e louvor, levantou as mãos para o céu, agradecendo a Olorum.
Ele, que se julgava muito melhor do que aquele indigente leproso em semelhante estado de saúde, voltou para casa bastante satisfeito e confortado com o que vira.
Em pouco tempo, foi chamado para ocupar o trono de seu pai, que falecera.
INíCIO DO MUNDO
Dizem que no principio do mundo, 15 dos 16 odús seguiram todos à casa do oluô, afim de procurar os meios que os fizessem mudar de sorte, mas nenhum deles fez o que foi determinado pelo oluô.
Obará um dos dezesseis odús existentes, não se encontrava no grupo na ocasião em que os demais foram consultar o oluô.
Sendo ele, porém, sabedor do ocorrido, apressou-se em fazer o que o oluô determinara.
E que os demais odús não fizeram por simples capricho da sorte.
Obará com afinco fez o máximo que pode para conseguir seu desejo, dada a sua condição de pobreza.
Como era de costume, os 15 odús de cinco em cinco dias iam à casa de Olofim, e nunca convidavam Obará, por ser ele muito pobre, tanto que olhavam para ele sempre com menosprezo.
Pois, então, foram a casa de Olofim, jogaram e até altas horas do dia não acertaram o que queriam que Olofim Predissesse e, com isso, acabou que todos eles se retiraram sem ter sido satisfeita sua curiosidade. Olofim, com desprezo, ofereceu uma abóbora a cada um deles, e eles, para não serem indelicados levaram consigo as abóboras ofertadas.
No caminho, porém, alguém se lembrou apontando para a casa de Obará, de fazer ali uma parada, embora alguns fossem contra, dizendo que não adiantaria dar semelhante honra a Obará, pois ele era um homem simples que nunca influía em nada.
Mas um deles, mais liberal, atreveu-se a cumprimentar Obara-meji com estas palavras:
Obará, bom dia! Como vais de saúde? Será que hás de comer com estes companheiros de viajem?
Imediatamente respondeu ele que entrassem e se servissem da comida que quisessem.
Dito isso, foram entrando todos, eles que já vinham com muita fome, pois estavam desde a manhã sem comer nada na casa de Olofim.
A dona da casa foi ao mercado comprar carne para reforçar a comida que tinha em casa e, em poucas horas, todos almoçaram à vontade.
Depois, Obará convidou todos para que se deitassem para uma madorna, pois estavam todos cansados e o sol estava ardente.
Mais tarde, eles se despediram do colega e lhe disseram:
-fica com estas abóboras para ti.
E lá se foram satisfeitos com a gentileza e a delicadeza do colega pobre e, até então, sem valia.

Mais tarde, quando Obará procurou por comida, sua mulher o censurou por sua fraqueza e liberalidade, dizendo que ele tinha querido mostrar ter o que não tinha, agradando a eles que nunca olharam para ele, e nunca ligaram nem deram importância ao colega.
Porém as palavras de Obará eram simples e decisivas.
-eu não faço mais do que ser delicado aos meus pares, estou cumprindo ordens e sei que fazendo estes obséquios, virá à nossa casa prosperidade instantânea.
Finda explicação, Obará pegou uma faca e cortou uma abóbora, surpreendendo-se com a quantidade de ouro e pedras preciosas que haviam dentro dela.
Surpreso, e com muita felicidade, viu que em uma abóbora havia lhe dado o título de odú mais rico, porém logo percebeu que haviam mais outras 14 abóboras a serem abertas e em cada uma delas haviam outras riquezas em igual quantidade.
Obará comprou tudo que precisava, palácio e até cavalos de várias cores.
Daí que estava marcado o dia para todos os odús irem novamente à conferência no palácio de Olofin, como era de costume, já muito cedo, achavam-se todos no palácio, cada um no seu posto junto a Olofim.
Quando Obará veio vindo de sua casa com uma multidão que o acompanhava, até mesmo os músicos de uma enorme charanga.
Enfim, todos numa alegria sem par.
De vez em quando, Obará mudava de um cavalo para outro em sinal à nobreza.
Os invejosos começaram a tremer e esbravejar, chamando a atenção de Olofim que indagou o que era aquilo.
Foi então que lhe informaram que era Obará. Então perguntou Olofim aos demais odús o que tinham feito com as abóboras que presenteara a eles.
Responderam todos que haviam jogado no quintal de Obará. Disse então Olofim que a sorte estava destinada a ser do rico e próspero Obará.
O mais rico de todos os odús.
INÍCIO e FIM
Owo, filho de Obatalá, querendo provar o seu poder, resolveu aprisionar Ikú, que era por todos temido e respeitado.
Resolvido a cumprir sua determinação, deitou-se no chão de uma encruzilhada e ficou observando o que diziam as pessoas que o viam ali.
Foi desta forma que ouviu de um ancião do lugar, a seguinte pergunta: O que faz este homem assim estendido, com a cabeça para a casa da morte, os pés para o lado da doença e os lados do corpo para o lugar da desavença?
Ouvindo estas palavras, Owo levantou-se e afirmou vitorioso: Já sei tudo o que precisava saber.
E em seguida encaminhou-se para a fazenda de Ikú. Lá chegando, entrou sorrateiramente e pôs-se a tocar o ilu que a Morte fazia soar sempre que saia para buscar alguém.
Ao ouvir o som do tambor, Ikú saiu indignado com a intenção de punir o atrevido que ousava tocar seu instrumento ritualístico e na pressa, não viu a rede que Owo havia estendido no caminho, embaraçando-se e sendo facilmente capturado.
Com a ajuda de uma corda, Owo amarrou Ikú bem amarrado e levou-o em seguida a presença de seu Pai, dizendo-lhe que, conforme havia prometido, estava trazendo a sua presença Ikú como prisioneiro.
Assustado com tal atitude, Obatalá sentenciou:
Vá embora de minha presença e leva contigo tudo o que, de bom e de mal possa existir na face da Terra, inclusive a própria Morte. Parte agora pois te é dado o poder de conquistar tudo o que de material existir no universo.
Foi a partir deste dia que Owo e Ikú passaram a caminhar lado a lado, o primeiro ensejando sempre o surgimento do segundo.
INVERSÃO
Quando Wori’ogbe estava indo para a terra, ele fez um pedido, que queria modificar a face da terra, eliminando todo mal e elementos viciosos.
Para ser capaz de executar sua tarefa, ele solicitou de Olodumarê um poder especial sobre a vida e a morte. Olodumarê respondeu que seu pedido estava concedido. Envolvido pelo poder concedido a ele por Olodumarê, partiu rapidamente em sua jornada para o aiè.
Seu Eledá o relembrou da necessidade de assegurar seus pedidos com Elenini a mais poderosa divindade, mas ele disse ao seu anjo que não havia força maior que Olodumarê e desde que ele tinha obtido autorização divina, não via porque se justificar com alguma divindade inferior.
Assim que deixou o palácio divino, Elenini inverteu os desejos de Wori ógbe.
Na chegada ao aiê ele descobriu que ao contrário de seus pedidos, estava se encontrando em dificuldades.
Veio, a saber, que tudo aquilo que ele pediu estava acontecendo sempre ao contrário.
Quando ele rezava para pessoas viverem, eles morriam, enquanto aqueles que ele desejava mortos viviam.
Ele se tornou muito amargurado e desiludido, por que ninguém se atrevia a ir até ele para consultar o Oráculo, ou pedir auxílio, desde aquilo que havia feito, pagava muito caro por isso.
Após passar fome dentro de sua frustração por algum tempo, ele decidiu retornar ao Òrun .
Chegando ao Òrun, ele foi ao seu Eledá que o relembrou do aviso dado a ele antes da partida do Òrun.
Foi neste ponto que ele concordou em ir ao Oráculo, aonde foi informado a fazer sacrifícios elaborados para Elenini, a mais velha das divindades. Ele fez o sacrifício e retornou para o Aiê.
LÁGRIMAS PROVIDENCIAIS
Macaco encontrava-se em sérias dificuldades, resolvendo por isto, consultar seu Oluô.
Na consulta, o advinho encontrou Irosun Meji, que prescreveu um sacrifício de edie funfun, adie dudu, etú, Igbi, epo pupa, obé e um braseiro cheio de brasas vivas, onde deverão ser depositadas, depois do sacrifício dos animais, bogbo ata pupa.
Quando o Macaco estava colocando as pimentas no braseiro, desprendeu-se uma fumaça que penetrando em seus olhos, provocou-se grande irritação, seguida de um forte lacrimejamento.
O herdeiro do trono, que neste exato momento passava pelo local, ao ver o Macaco banhado de lagrimas, penalizado quis saber o motivo de tanto choro.
Astucioso, o Macaco descreveu sua desdita, exagerando bastante em suas necessidades.
O nobre príncipe, condoído com a triste história, ordenou que os guardas conduzissem o Macaco até o palácio, onde passou a residir, cercado de muito conforto e fartura.
MAL ENTENDIDO
Os reis de Ibadan e de Olowu mantinham entre si, um relacionamento de sincera amizade.
O rei de Oluwu era casado com Nde, filha do rei de Ibadan.
Certo dia, o rei de Olowo partiu em missão de guerra para o pais do Gboho. No caminho, teve sua passagem e de suas tropas impedidas por um rio muito caudaloso. Pediu ao rio que lhe desse passagem, prometendo pra isso, oferecer-lhe um belo presente quando voltasse vitorioso da batalha.
O rio cedeu passagem e o rei prosseguiu viagem em busca de seu destino.
Algum tempo depois o rei retornou vitorioso, trazendo muitos cativos, muito gado e toda a riqueza capturada no pais de Gboho.
Ao chegar diante do rio, resolveu pagar o prometido oferecendo-lhe dezesseis carneiros, dezesseis cabritos, dezesseis bois, dezesseis homens e dezesseis mulheres, que foram lançados às águas revoltas.
O rio, para surpresa de todos, não aceitou nada do sacrifício oferecido, devolvendo intactos, cada carneiro, cada cabrito, cada boi, cada homem e cada mulher.
O rei, assustado com o ocorrido, procurou o adivinho para saber por que razão Odo não aceitara sua oferenda.
Na consulta surgiu Oshe Meji que informou que o rio queria Nde como sacrifício e nada poderia substituí-la. Apavorado, o pobre monarca lembrou-se que ao assumir compromisso com o rio, havia dito em idioma Fon: “Nu dagbe n’de”,eu te darei belas coisas, e o rio teria interpretado como Nu dagbe Nde eu te darei Nde , nome de sua esposa.
Nde era o nome de sua esposa... o rei não pagara o prometido! A partir deste dia a terra começou a secar, as mulheres não tinham filhos, as fêmeas não davam crias. Preocupado, o rei voltou a presença do Bokono para saber o motivo de tanta miséria.
Após a consulta o adivinho disse:
Tu não entregastes ao rio o que lhe prometeste. Tu deixastes que o rio ouvisse o nome de Nde. Tu não lhe falastes de escravos e animais... para acabar com esta maldição terás que lançar tua mulher ao rio.
Obrigado a cumprir sua promessa, o rei mandou lançar ao rio sua mulher que estava grávida.
No dia seguinte Nde deu a luz, dentro das águas do rio, a um menino e o rio falou: Ele não me prometeu nenhuma criança, foi só Nde o que me foi prometido!
... e devolveu a criança que não lhe pertencia.
O rei de Ibadan tomou conhecimento do acontecido e mandou dizer ao rei de Olowu que não havia dado sua filha para que fosse lançada as águas de um rio, mas para que fosse transformada em sua esposa, respeitada e amada como tal. Este fato gerou uma guerra entre os dois reis, que teve a duração de trinta anos, terminando com a vitória de Ibadan e a total destruição do país de Olowu.
MOSAICO NA FLORESTA
O antílope Agbãli, lançava seu brado em Ifé e as pessoas morriam.
O mocho Agbigbi, lança seu brado nesta vida e as pessoas morrem.
Ifá foi consultado por Odé e recomendou-lhe que fizesse um sacrifício porque, mesmo fazendo o bem aos outros, nunca conseguia tirar disso o menor proveito, ficando sem ter sequer o que comer.
O sacrifício constava de vasos quebrados, flechas, duas galinhas e um cabrito, mais Odé, negou-se a oferecer o ebó.
Como a cada grito do antílope Agbãli as pessoas morressem, o rei Metolõfin, não sabia o que fazer para caçá-lo.
Sabendo disto, Odé se apresentou ao rei, dizendo que, se lhe construíssem uma casa em forma de círculo e o colocassem dentro e lhe desse uma flecha e se todo o povo do país se reunisse ao redor, lançaria a flecha que iría atingir a marca branca, existente no pelo do antílope e que ficava justamente na direção de seu coração.
Tudo foi feito de acordo com a orientação do caçador e no dia que o animal surgiu, uma flecha foi atirada, indo atingir a marca branca que ficava na altura de seu coração.
Odé gritava feliz: Eu o matei! - E o povo, olhando na direção Agbãli, via que era verdade.
Quando o mocho Agbigbi se aproximou, Odé disse: É na garganta que devo atingi-lo e lançando sua flecha, atravessou com ela o pescoço do animal.
Todos reunidos foram ver o que estava acontecendo e assustados comentaram: Aquele que prendemos na choupana onde não existem portas nem janelas consegue abater qualquer tipo de caça! Quando não mais existirem animais para serem caçados no país, sem dúvida caçará o próprio rei!.
Mais havia muita caça na região e Odé construiu sua casa no interior da floresta, reforçando as paredes com os cacos de muitos vasos quebrados.
O caçador recusara-se a oferecer o sacrifício determinado pelo Odú e por isto, todo o bem que fizesse aos homens não lhe resultaria em nenhum proveito. Mesmo assim, Elégbara fez dele o caçador do país.
NÃO ROLOU
Naquele tempo, as aves foram consultar Ifá, para saberem de que forma poderiam se livrar das armadilhas que lhes faziam os homens e nas quais, invariavelmente acabavam caindo. Na consulta, surgiu Obará Meji, determinando que fosse feito um sacrifício que iria livrá-las de tal perigo.
As aves, com exceção da pomba-rola, negligenciaram a recomendação e por este motivo, continuaram a cair nas armadilhas que os homens lhes preparavam.
Certo dia, os caçadores organizaram uma grande festa e para obterem alimento para o evento, prepararam uma grande armadilha, próximo a fonte onde as aves constumavam beber água, impregnando de visgo todos os galhos das arvores vizinhas. Como resultado, todas as aves foram capturadas, com exceção da pomba-rola que fora anteriormente orientada por Elégba, para que não se aproximasse da fonte naquele dia e que fosse beber água em outro local bem distante. Desta forma, por ter seguido a orientação de Ifá e oferecido o sacrifício indicado, a pomba-rola livrou-se de ser transformada em alimento para os caçadores.
NAS ALTURAS
Naquele tempo, os macacos não sabiam trepar em árvores e por este motivo viviam assustados e inseguros, pois eram presas fácil dos outros animais.
Resolveram consultar um Babalaô e na consulta surgiu Ejioko, que lhes determinou um ebó, composto de dois preás e comidas caseiras de vários tipos.
No mesmo dia, os macacos ofereceram o sacrifício e logo começou a chover copiosamente.
O rio que passava perto do local onde se encontravam, avolumou-se e transbordando, inundou toda aquela região. Apavorados, os animais corriam de um lado para outro, sendo irremediavelmente apanhados e arrastados pelas águas revoltas. Foi então que os macacos, pela primeira vez, escalaram as árvores para não serem arrastados pelas águas e a partir deste dia, sempre que se sentem em perigo, é nos galhos mais altos dos arvoredos que encontram refúgio e segurança.
OFERECER O QUE NÃO TEM
Odi Meji foi o signo que as mulheres encontraram, no tempo em que não tinham nádegas e desejavam ter.
Para resolver o problema, as mulheres foram consultar Azwi a lebre, que adivinhava por intermédio das folhas Kwelekun.
A própria Azwi, quando chegou a este mundo, consultou Ifá, que lhe determinou um sacrifício com uma galinha, um edun ara, um bastão de caça e um ofa.
No entanto, mesmo tendo negligenciado seu próprio sacrifício, a lebre metia-se a dar consulta com as folhas, como se para isso tivesse permissão.
Na consulta das mulheres, Azwi pediu em sacrifício, duas galinhas e duas grandes porções de farinha e quando as mulheres trouxeram os ingredientes, ele fez o ebó.
Légba no entanto, recusou o sacrifício dizendo:
Quem mandou fazer este ebó?
E Azwi respondeu:Foram as mulheres que consultaram para adquirirem nádega:
E Légba exasperado: Agbo afa kan me ji te ka sin? Esin do Azwiji ! Quem é que está consultando sem ter feito seu sacrifício? É a lebre! .
Como Azwiji, tu não fizestes teu próprio sacrifício e te permites prescrever coisas aos outros? isto não ficará assim!
Légba convocou todos os caçadores do país e fazendo-os entrar entre as folhagens de kwelekun, falou: Os grãos de Angola que vocês tanto apreciam, estão sendo guardados por um animal, para seu próprio consumo.
Os caçadores, com suas armas de caça, saíram em perseguição a lebre, gritando: Matem! Matem! Morta a lebre, sua carme foi comida e só então descobriram o quanto é deliciosa. Foi então que Légba sentenciou: Aquele que pretende oferecer uma cadeira a outrem, deve cuidar antes, que ele mesmo tenha uma. A lebre que nada tinha e quis dar alguma coisa aos outros, está morta!
OFERENDAS
Em épocas remotas os Orixás passaram fome. Às vezes, por longos períodos, eles não recebiam bastante comida de seus filhos que viviam na Terra.
Os Orixás cada vez mais se indispunham uns com os outros e lutavam entre si guerras assombrosas.
Os descendentes dos Orixás não pensavam mais neles e os Orixás se perguntavam o que poderiam fazer.
Como ser novamente alimentados pelos homens ?
Os homens não faziam mais oferendas e os Orixás tinham fome.
Sem a proteção dos Orixás , a desgraça tinha se abatido sobre a Terra e os homens viviam doentes, pobres, infelizes.

Um dia Bará pegou a estrada e foi em busca de solução. Bará foi até Iemanjá em busca de algo que pudesse recuperar a boa vontade dos homens.
Iemanjá lhe disse: Nada conseguirás.
Xapanã já tentou afligir os homens com doenças, mas eles não vieram lhe oferecer sacrifícios.
Iemanjá disse: Bará matará todos os homens, mas eles não lhe darão o que comer.
Xangô já lançou muitos raios e já matou muitos homens, mas eles nem se preocupam com ele. Então é melhor que procures solução em outra direção. Os homens não tem medo de morrer. Em vez de ameaçá-los com a morte, mostra a eles alguma coisa que seja tão boa que eles sintam vontade de tê-la. E que, para tanto, desejem continuar vivos.
Bará retornou o seu caminho e foi procurar Orungã.
Orungã lhe disse:Eu sei por que vieste. Os dezesseis Orixás tem fome. É preciso dar aos homens alguma coisa de que eles gostem, alguma coisa que os satisfaça.
Eu conheço algo que pode fazer isso. É uma grande coisa que é feita com dezesseis caroços de dendê. Arranja os cocos da palmeira e entenda seu significado. Assim poderás conquistar os homens.
Bará foi ao local onde havia palmeiras e conseguiu ganhar dos Macacos dezesseis cocos.
Bará pensou e pensou, mas não atinava no que fazer com eles.

Os Macacos então lhe disseram: Bará, não sabes o que fazer com os dezesseis cocos de palmeira? Vai andando pelo mundo e em cada lugar pergunta o que significam esses cocos de palmeira. Deves ir a dezesseis lugares para saber o que significam esses cocos de palmeira. Em cada um desses lugares recolheras dezesseis Odús. Recolherás dezesseis histórias, dezesseis oráculos. Cada história tem a sua sabedoria, conselhos que podem ajudar os homens. Vai juntando os Odús e ao final de um ano terás aprendido o suficiente.
Aprenderás dezesseis vezes dezesseis Odús. Então volta para onde moram os Orixás .
Ensina aos homens o que terás aprendido e os homens irão cuidar de Bará.
Bará fez o que lhe foi dito e retornou ao Orun, o Céu dos Orixás .
Bará mostrou aos deuses os Odús que havia aprendido e os Orixás disseram:Isso é muito bom.
Os Orixás , então, ensinaram o novo saber aos seus descendentes, os homens.
Os homens então puderam saber todos os dias os desígnios dos Orixás e os acontecimentos do porvir. Quando jogavam os dezesseis cocos de dendê e interpretavam o Odú que eles indicavam, sabiam da grande quantidade de mal que havia no futuro. Eles aprenderam a fazer sacrifícios aos Orixás para afastar os males que os ameaçavam.
Eles recomeçavam a sacrificar animais e a cozinhar suas carnes para os deuses. Os Orixás estavam satisfeitos e felizes.
Foi assim que Bará trouxe aos homens o Ifá.
PEGA LADRÃO
Foi para roubar nos campos de Ifá, que os abíwos vieram à Terra. Ifá possuía campos imenso, de onde retirava abundantes colheitas. Certo dia, descobriu que muitos ladrões andavam visitando suas terras e praticando grandes roubos, que causavam enormes prejuízos. Procurou imediatamente os conselhos de Elégbara, sobre uma maneira de prender os larápios.
Dirigindo-se aos campos na companhia de Ifá, Légba esticou uma corda que do solo, alcançava o céu.
Pouco depois, inúmeros seres começaram a descer pela corda e sem que Légba tomasse qualquer atitude, puseram-se a roubar tudo o que podiam alcançar.
Foi só então que Légba, munido de três pedaços de carvão, que havia recebido de Ifá em pagamento aos seus serviços, produziu uma fogueira, ateando fogo á corda que havia estendido.
Destruída a corda, os ladrões não puderam voltar, tornando-se assim, escravos de Ifá.
O desespero entre os abíwos foi de tal ordem, que se debatiam desordenadamente, em busca de uma saída e com tal violência, que a maioria deles morreu, sobrando somente treze.
PEQUENA E GRANDE LUZ
Ifá havia esquecido suas roupas em Ifé e não conseguia encontra-las, porque não havia luz. Sentindo-se por demais inquieto, consultou seu Kpoli, surgindo Irosun Meji.
O Fogo, para vir ao mundo, utilizou-se do mesmo signo, mas foi impedido pela Chuva.
O Bokono que consultava para o Fogo,chamava-se Bedezo.
O Odu ordenou que fosse oferecido por Ifá, dezessete insetos diversos, um cabrito e um carneiro.
Fogo recusou-se, sob a alegação de que um simples pedaço de pano o protegeria melhor de Chuva, que um cabrito e um carneiro.
Zõfloñeñe, consultando por causa da Chuva que apagava o seu fogo, encontrou o mesmo signo.
Toda vez que a Chuva apagava o seu fogo, Zofloñeñe ficava sem ter o que comer, pois era seu fogo que clareava sua caça.
O advinho prescreveu o mesmo sacrifício: um carneiro e um cabrito. Como o Vagalume não dispunha de meios para fazer o ebó, suplicou a Ifá: Eu nada tenho, não sei ao menos onde poderei encontrar estas coisas....
Naquela noite Zofloñeñe se encontrava na beira do rio, quando surgiu Légba que vinha pegar água. Como estivesse muito escuro, Légba murmurou:Onde poderei encontrar um pouco de luz para poder colocar minha cabaça na água?.
E direcionando-se aos insetos: Vocês têm luz?. Ouvindo aquilo, Zofloñeñe gritou. Eu tenho luz!.
Légba respondeu:Empresta-me tua luz para que eu encontre água e te darei os componentes para o teu sacrifício!.
Zofloñeñe imediatamente forneceu luz a Légba e, depois de recolhida a água, acompanhou-o até sua casa, onde ficou com ele.
Na manhã seguinte, Légba entregou-lhe um carneiro e um cabrito, para que pudesse oferecer em sacrifício. Enquanto isso, Ifá reunia os dezessete insetos exigidos para o seu sacrifício e dentre eles estava o Vaga-lume, que de sua parte, já havia feito o ebó.
Depois disto, Ifá ordenou a Zofloñeñe, que se dirigisse a Ifé e utilizando sua luminosidade, trouxesse a quinta folha que encontrasse. Não poderia ser a primeira, nem a segunda, nem a terceira ou a quarta folha, mas somente a quinta folha encontrada. Tu colherás a quinta folha que encontrares e a trarás para mim!
A quinta folha encontrada pelo Vaga-lume era um ewe Kpaklesi, que recolheu e levou para Ifá.
No caminho de volta, a Chuva caiu com muita intensidade, mas desta vez não conseguiu apagar o fogo do Vaga-lume. Ifá, muito grato, não hesitou em recompensar regiamente o inseto, pelo valioso serviço prestado.
Naquela época, o rei Metolôfin possuía uma filha muito bela, que rejeitava tantos quantos se apresentassem como candidatos a desposá-la.
Fogo e Zofloñeñe, conduzidos por Ifá, apresentaram-se como candidatos a mão da princesa e disseram ao rei: Nós viemos nos apresentar pra que sua filha escolha um de nós como esposo.
A princesa encantada com o brilho e as cores de Fogo, não hesitou em escolhê-lo recusando assim, as pretensões do Vaga-lume. Diante disto, Metolofin ordenou que os candidatos voltassem dali a nove dias, para que se realizasse o casamento e todos os súditos foram convidados para comparecerem e presentearem os nubentes. Ao saber da novidade, Elégbara perguntou: Agbo afa kan Meji te ko si?-Qual dos dois candidatos não ofereceu o sacrifício?.
E lhes reponderam que o Grande Fogo não havia feito o ebó.
Como pretende então, desposar a filha do rei Metolofin? Jamais permitirei que isto aconteça!. E enviou uma mensagem ao orun:
-A mulher que Xevioso pretende tomar como esposa aqui na Terra, está prestes a casar-se com Fogo. Ao receber a mensagem, Xevioso encolerizado, rasgou os céus com seus raios, clareando a Terra, para que pudesse ver quem era o atrevido chamado Fogo, que pretendia desposar sua amada. Foi somente a partir deste dia que os raios puderam ser vistos aqui da Terra. Em seguida, o Vodun preparou-se para descer à Terra. Todo o céu tornou-se negro. Fogo, cheio de pavor perguntava: Como posso ir ao encontro de minha noiva, se não para de chover?.
E procurou seu Bokono, para saber o que fazer. Na consulta, Ifá cobrou o sacrifício que havia sido determinado e que Fogo negligenciara.
-Se é por isso!. Disse Fogo,...vou faze-lo imediatamente. Primeiro vou pegar minha noiva e farei o sacrifício logo em seguida. No dia das núpcias, Ifá foi o primeiro a chegar ao palácio, em seguida, chegou Xevioso acompanhado de Légbara.
Fogo, chegando ao local, colocou-se de lado e tocando seu tambor cantava: Ajuba Gegezõ.... E tudo brilhava a sua passagem e as folhas, mesmo as menores, dançavam ao som de seu tantã.
Xevioso, desejando estragar a festa trovejou: Búuu!, e a Chuva caiu com tanta intensidade, que Fogo se extinguiu. Xevioso, penetrando no palácio, queixou-se por ter Fogo como rival. Zofloñeñe, aproveitando-se da confusão, penetrou também no palácio, fazendo com que sua luz iluminasse o ambiente, enquanto cantava: Afete naun! Able ñaun! Afete naun! Able ñaun!,Meu fogo é branco mas pode ficar vermelho subitamente!
Metolofin defendendo-se: Foi minha filha quem quis desposar Fogo. Para evitar qualquer demanda, fica decidido que nenhum de vocês a terá como esposa. A partir de agora, sempre que qualquer um se habilite a tirar uma jovem da casa de seus pais para com ela se casar, se neste momento a Chuva começar a cair, o casamento não deverá ser realizado.
PERSEGUIDO
Havia um homem que sofria demasiadamente em sua vida mas que nunca se dignara a oferecer qualquer sacrifico. Onde quer que fosse morar, era perseguido por alguém de poder ou prestígio e, invariavelmente tinha que se transferir para algum lugar distante.
Cansado de viver assim sem paradeiro certo, o homem resolveu internar-se na floresta onde, longe do contato dos seres humanos, julgou poder viver em paz.
Na floresta, encontrou uma caverna onde resolveu habitar, transformando-a em moradia.
Depois de arrumar seus pertences, o homen dimensionou-se a uma fonte próxima dali, com a intenção de abastecer-se de água e, ao regressar, deparou com um bando de corujas que, postadas à entrada da caverna, impediam o seu acesso.
Repentinamente, as aves alçaram vôo, investindo furiosamente contra ele que, apavorado, fugiu mata adentro, sempre perseguido pelas corujas.
Mais adiante, o homem encontrou uma cabana e para fugir do ataque das aves, adentrou-a, deparando com seu dono que outro não era se não o próprio Orunmilá. Narrada sua desdita, Orunmilá ordenou-lhe que oferecesse um ebó que o livraria para sempre de todo e qualquer tipo de perseguição.
Feito o ebó, pode o homem escolher o lugar onde viver, encontrando paz para o resto de sua vida.
PREVILÉGIOS
Ifá chegou a este mundo antes de seus mensageiros Légba, Miñona e Abi, que estão sob suas ordens, ao contrário de Igbadu que esta acima dele.
Criado por Mawu, Ifá desceu do céu trazendo para a terra todas as árvores, todas as plantas, todos os animais, todos os pássaros e todas as pedras.
Naquela época, existia sobre a terra somente um protótipo de ser humano, muito pequeno, negro e muito parecido com o homem.
Ao chegar ao Aye, Ifá transmitiu todo o seu conhecimento a este estranho ser, a que, deu o nome de Koto.
Logo que Mawu criou os seres humanos, Koto transmitiu-lhes toda a ciência que havia recebido de Ifá: o conhecimento de todas as coisas e principalmente, o conhecimento do próprio Ifá.
Koto, que sabia o nome de tudo quanto existia, ensinou-os aos homens, esquecendo-se, no entanto, de transmitir o nome de uma única árvore, a qual os homens chamaram de Kotoble e depois de Wugo.
Assim, foi apenas a uma única árvore, dentre as coisas que existem no mundo, que os homens deram nome.
PRODÍGIO
Certo dia, quando Ifá encontrava-se ainda no ventre de sua mãe, estando ela ocupada em recolher lenha no interior de uma floresta, foi surpreendida por uma voz que dizia:
“Mãe! Eu vou dizer uma coisa. Trata-se de um segredo que jamais deverá ser revelado!
Espantada, a mulher começou a procurar no meio da floresta, pela pessoa que lhe falava, sem encontrar ninguém.
Novamente a voz se fez ouvir:
O que estás procurando? Sou eu, teu filho quem está falando! Quero prevenir-te que no décimo sexto dia, a partir de hoje, me darás a luz! neste mesmo dia haverá uma guerra em nossa vila e meu pai será morto pelo inimigo... Tu, minha mãe, será capturada e separada de mim...
No dia seguinte, ao raiar do sol, o menino novamente fez contato com sua mãe, dizendo-lhe:
Compreendeu bem o que te disse ontem? Faltam somente quinze dias para o acontecimento!
E todos os dias de manhã ele falava com a mãe e no décimo sexto dia depois do primeiro contato, disse:
Eis que é chegado o dia!
E imediatamente iniciou-se o parto. No exato momento em que a criança vinha ao mundo, iniciou-se um ataque contra a cidade. Durante a batalha, o pai do menino foi morto e a mulher foi capturada e levada como escrava. Ifá, escondido em lugar seguro, viu quando um homem se aproximava e dirigindo-se a ele, implorou:
Leva-me contigo! Estou só no mundo.
Meu pai está morto e minha mãe reduzida a condição de escrava! Leva-me contigo e não te arrependerás por fazeres esta caridade!
Comovido, o homem pegou o recém-nascido e levou-o consigo em total segurança, para sua própria casa.
Ifá imediatamente começou a realizar curas miraculosas.
Sempre que alguém adoecia, o menino após identificar o tipo de doenças, receitava ervas que traziam a cura imediata.
Todos os doentes recuperados faziam questão de pagar muito bem pela cura e desta forma, o homem que recolheu a criança tornou-se muito rico e poderoso. Naquele tempo, o país era governado por um rei chamado Lõfin, que logo que soube dos milagres, chamou a sua presença o responsável pela criança, que ali chegando, narrou de que forma encontrara o pequenino, o pedido de ajuda e seus maravilhosos poderes sobrenaturais.
O rei, entre espantado e descrente, afirmou:
Se isto é verdade, se este menino for realmente dotado de tantos poderes, ocupará ao meu lado, um lugar no reino deste pais !
Logo o menino foi transferido para o palácio e sempre que um familiar do rei adoecia, era por ele curado.
Nada mais se fazia no reino sem uma prévia consulta a Ifá e suas orientações eram seguidas no mínimos detalhes.
Com o passar do tempo, o menino cresceu e logo que se tornou adolescente, recebeu de Lõfin uma cidade onde foi coroado rei.
Seu milagres se multiplicavam, todos aqueles que sofriam vinham atrás dele em busca de auxílio.
Sua fortuna aumentava a cada dia, possuía muitas mulheres e muitos servos, além de todas as coisas que representam riqueza para os seres humanos.
Ifá na esperança de um dia encontrar sua mãe, adquiria escravas na mão de um mercador.
Era chegado o dia em que se deveria comemorar a festa chamada Fanuwiwa que todos os anos se faz em honra a Ifá.

As mulheres de Ifá, junto com suas escravas, ficaram encarregadas de pilar milho para produzir a farinha que seria usada na festa. Entre as escravas estava a mãe de Ifá, que devido a situação miserável em que se encontrava, tinha medo de identificar-se e não ser aceita pelo filho.
Enquanto realizava sua tarefa, a mulher entoava uma triste canção, na qual dizia:
Ifa DiMeji, Tu não me conheces mais?
Ao ouvir a canção, Ifá ordenou que a mulher fosse levada a sua presença, interpelando-a da seguinte forma:
Então tu me conheces? E a mulher respondeu: Mas não fostes tu mesmo quem me anunciastes o dia do teu nascimento?
Tu me dissestes que no décimo sexto dia viria ao mundo e que no mesmo dia teu pai seria morto e eu feita escrava. -És tu minha mãe! Gritou Ifá e ordenou que a banhassem e oferecessem muitos e belíssimos vestidos, além de um torso branco para adornar a cabeça.
Em seguida, Ifá fez com que a mulher se assentasse ao seu lado, sobre uma grande almofada branca denominada akpakpo e pegando uma cabra, ordenou que a imolasse em honra de sua mãe, que passou desde então, a viver ao seu lado, cercada de todas as honrarias e reverências reservadas a mãe de um rei.
PROTEGIDA
Certa mulher, que possuía um pequeno negócio em que fornecia mingau de acaça e de inhame, estava passando por sérias dificuldades e por isto, foi orientada, por seu advinho a oferecer um ebó com galos, pombos, acaçá e inhame assado.
Feito o ebó, encontrava-se a mulher em seu pequeno negócio quando chegou o Balogun do país, acompanhado de toda a sua tropa de guerreiros.

Os homens, que regressavam de uma campanha, estavam famintos e embora não possuíssem dinheiro, foram servidos pela mulher, que confiando na palavra do General, serviu-lhes toda a comida de que dispunha, tendo mesmo que pegar emprestado com seus vizinhos, para poder atender a todos os soldados.
Sete dias depois, o General retornou ao mercado e dividiu com a mulher o produto do saque obtido em sua campanha, o que representava uma fortuna capaz de assegurar a bondosa comerciante, uma vida de muito conforto.
Quando procurou seus vizinhos para pagar-lhes o que devia, estes se negaram a receber, alegando que não lhes devia nada, uma pessoa que vivia sob a proteção de um guerreiro tão poderoso como Balogun.
PROTESTOS
Certo homem, encontrando-se doente e na mais absoluta miséria, resolveu consultar Ifá, em busca de solução para seus males, Irosun Meji apareceu na consulta, determinando que fosse oferecido um sacrifício e que depois disto, o homem deveria partir pra Savalu, onde deveria, aos pés de um araba, protestar publicamente contra a situação de miséria em que se encontrava. Oferecido o ebó o homem dirigiu-se a Savalu e ali, na praça principal, pôs-se a esbravejar, com um obi em cada mão, atribuindo ao rei do lugar, toda a sua miséria.
Ao tomar conhecimento do escândalo que estava sendo promovido, o rei ordenou que o infeliz fosse conduzido a sua presença, com o objetivo de fazer alguma coisa pelo homem e desta forma, calar a sua boca.
Chegando ao palácio, o doente disse que não tinha descanso nem saúde e que tudo o que desejava era uma vida normal e confortável.
Penalizado, o rei mandou que lhe fosse dispensado tratamento e meios de subsistir com dignidade, até o final de seus dias, recebendo do pobre enfermo, como sinal de agradecimento, os dois boi que trouxera consigo.
QUEM PLANTA COLHE
Naquele tempo, Odi era considerado como um grande Babalaô, muito respeitado por sua competência de prever o futuro.
Sabedores de sua fama, dois sujeitos foram procura-lo, em diferentes oportunidades, para saberem como deveriam proceder para que tudo lhes corresse bem nesta vida.
Ao primeiro consulente, Odi determinou um sacrifício com um carneiro e ao segundo que era cego, um sacrifício com um galo.
Odi, no entanto, não havia cumprido com o seu próprio preceito, que era o de fazer um certo ebó sempre que consultasse qualquer pessoa.
O homem a quem fora determinado o sacrifício do carneiro, padecia de uma moléstia nas pernas, que lhe trazia sofrimento.
Na hora do ebó, o homem segurou o carneiro e pediu com muita devoção que o Egun de seu pai aceitasse o sacrifício e aliviasse seus males.
Repentinamente o carneiro atacou-o com violenta cabeçada, que atingiu em cheio seus testículos.
Uma dor insuportável fez com que o pobre homem rolasse no chão desesperado, enquanto uma grande quantidade de liquido maligno, que durante muitos anos havia se acumulado em seus órgãos ocasionando todo o sofrimento, era expelido completamente.
Desta forma, assim que passou a dor, o homem pode observar que estava completamente curado.
No dia seguinte, chegou o cego com o galo pra ser oferecido ao Egun de seu próprio pai.
Na hora do sacrifício, o galo debateu-se furiosamente e suas unhas, atingindo as vistas do homem, retiraram delas, não sem muita dor, uma pele que impedia sua visão. Depois de estancada a hemorragia, o homem descobriu que já podia enxergar com perfeição.
Dias depois, os dois homens resolveram regressar a casa de Odi para agradecerem pelas graças recebidas e coincidentemente encontraram-se no caminho.
Ao chegarem ao seu destino, encontraram Odi acorrentado a uma cadeira e souberam que aquilo era um castigo que deveria ser cumprido, porque Odi havia negligenciado seu próprio sacrifício.
Em agradecimento pelas curas em que haviam sido submetidos, os dois homens propuseram-se a comprar os ingredientes para que Odi pudesse oferecer o seu ebó e assim fizeram eles mesmos o sacrifico em favor de Odi. No mesmo dia, a filha do rei daquele país, foi acometida de um desmaio que a deixou fora de si por muito tempo. Conhecedor dos poderes curativos de Odi, o rei ordenou que ele fosse solto imediatamente e levado a sua presença, implorando-lhe que curasse sua filha.
Sem perda de tempo, Odi providenciou uma medicina que curou a menina imediatamente e o rei, como prova de gratidão, fez com que Odi desposasse sua filha.
A partir de então, Odi passou a residir no palácio real, com honras de príncipe e nunca mais conheceu dificuldades.
REALEZA AO DOBRO
Certo dia, Olofin convocou a sua presença, todos os Odús que havia colocado no mundo.
Obará consultou Ifá, recebendo a orientação de não partir, sem antes oferecer um sacrifício a Egun.
Obará faz o que lhe foi determinado e além disso, preparou comida para seus irmãos, os quinze outros Odús, que já haviam partido para a audiência com o Criador. Olofin, dando pela falta de Obará, indagou aos seus irmãos o que era feito dele e ao saber que se atrasará porque estivera cultuando Egun, ficou plenamente satisfeito.
Nada tenho para oferecer-lhes como presente, senão um inhame para cada um. Quando chegarem em suas casas, preparem cada um, o inhame recebido e comam sozinhos. Disse Olofin aos Odús.

Sem que ninguém soubesse, Olofin havia introduzido em cada inhame todas as riquezas da vida: dinheiro, filhos, terras, casas, etc... Quando voltaram para casa, os quinze encontraram Obará que os aguardava, pra oferecer-lhes as comidas que havia preparado para eles.
Satisfeitos com a atenção, os Odús tomaram dos alimentos que lhes eram oferecidos e em sinal de agradecimento, deram a Obará os inhames que lhes havia presenteado Olofin.
No dia seguinte, Obará pediu a sua mulher que lhe preparasse um dos inhames recebidos.
Ao cortar o tubérculo, a mulher sentiu que alguma coisa dura impedia que a faca dividisse-o e depois de muito tentar, pediu auxílio a seu marido.
Obará , usando de toda a sua força, consegui dividir o inhame em duas partes, foi então que deparou maravilhado, com a riqueza contida no seu interior. Ansioso, passou a abrir a todos os inhames que havia ganho e desta forma, com tudo o que neles encontrou, tornou-se a pessoa mais rica do país.
Três dias depois por ordem de Olofin, todos os Odús voltaram a se reunir no palácio e qual não foi a surpresa, ao verem Obará aproximando-se, montado num belíssimo cavalo, vestindo trajes riquíssimos, acompanhado de inúmeras esposas e escravos e guardado por muitos soldados, numa ostentação de riqueza sem precedentes. Diante da surpresa dos quinze Odús, Olofin perguntou-lhes:Que fizeram dos inhames que lhes dei?
-Nós os demos a Obará, já que nenhum de nós gosta de inhame!
-Ignorantes!Obará, que já era rei, tornou-se muito mais rico e poderoso com o que eu coloquei dentro dos inhames! Ele será agora, “oba di Meji”” (ele é duas vezes rei). Sua realeza é dupla.
REI POR ACASO
Havia naquele tempo, uma tribo de selvagens que costumava atacar as aldeias circunvizinhas, onde faziam prisioneiros pra serem transformados em escravos.
Foi assim que Olatunde foi transformado em escravo e penava sob maltratos e a mais absoluta miséria.
Certo dia, o pobre escravo retornava de sua labuta diária, quando encontrou caído no chão um pedaço de obi.
Cheio de fome, pegou o achado e tratou imediatamente de come-lo, no que foi pilhado por seu cruel senhor, que sem hesitar, acusou-o de haver roubado o obi de seu celeiro.
Levado a julgamento, o infeliz foi condenado a morte, embora protestasse por sua inocência.
Era costume daquele povo, encerrarem os condenados a morte em uma grande caixa de madeira, que depois de devidamente lacrada, era atirada do alto de um penhasco às águas revoltas do rio que por ali passava, cabendo ao condenado a chance de realizar sua última vontade. Indagado sobre o que gostaria de fazer antes de ser executado, o prisioneiro expressou o desejo de oferecer um sacrifico em louvor de seus ancestrais, para que quando chegasse em Ló pudesse ser recebido de maneira satisfatória.
Concedida a permissão, recebeu de seus algozes o material necessário para o sacrifício.
Dentro de um jacá , sacrificou uma cabra, duas galinhas, um preá e dois galos, que foram depositados dentro do cesto. Por cima dos animais sacrificados, colocou dois peixes assados, aguardente, epô e todas as coisas que agradam a Egun.
O jacá foi então fechado e muito bem amarrado com cordas sem uso anterior, sendo em seguida atirado às águas do rio. Logo que terminou seu ritual, o homem foi amarrado e encerrado na caixa, que depois de bem fechada, foi atirada do alto do abismo, nas águas do rio. Ao chocar-se com a superfície das águas, a caixa não se quebrou e flutuando, foi arrastada até uma localidade muito distante, onde foi resgatada por pescadores que ficaram estarrecidos com seu achado.
Verificando que o condenado ainda estava vivo, conduziram-no até a cidade para apresenta-lo as autoridades locais.
Ora, os pescadores estavam longe da cidade há muitos dias e desconheciam o fato de que, depois de sua partida, o rei havia falecido e seus funerais estavam sendo realizados.
Segundo as leis do país, quando morria um rei sem deixar filho varão, o primeiro estrangeiro que surgisse na cidade, seria coroado rei e desta forma, Olatunde, que por força do sacrifício que oferecera a seus ancestrais, fora salvo da morte, tornou-se rei daquele pais, livrando-se para sempre da miséria e do sofrimento.
REINOS DISTINTOS
Ofun Meji criou o mundo e todos os demais Odús. Ninguém pode gabar-se de ser seu pai. Depois de haver criado o mundo, Ofun Meji começou a ter filhos.
Muitos afirmam que Ejiogbe seria seu primeiro filho, mas isto não é verdade, pois Oyeku Meji nasceu primeiro, embora os dois tenham nascido no mesmo dia.
Quando o mundo foi criado, tudo era trevas.
O Criador chamando Oyeku Meji entregou-lhe uma chave com a ordem de com ela abrir a porta da luz.
Logo que tal porta fosse aberta, a luz se espalharia pelo mundo iluminando todos .
Recomendou ainda, a Oyeku Meji, que jamais se embriagasse e que jamais bebesse qualquer bebida fermentada.
Oyeku Meji que já era guardião das criaturas, ficou também com a chave dos dias.
Certo dia, Oyeku, depois de haver voltado de duas ocupações com o auxilio de seu irmão Ejiogbe, encontrou um grupo de pessoas que haviam preparado uma grande quantidade de emu .
Esquecendo-se da recomendação, de Ofun Meji, Oyeku pôs-se a beber em companhia das pessoas, não tardando em adormecer de tão embriagado. Ejiogbe, que a tudo assistia, sentou-se ao lado do irmão adormecido, aguardando que despertasse.
Já passava da hora de voltar pra casa com a chave do dia. Oyeku era muito grande e pesado para que Ejiogbe pudesse carrega-lo em suas costas. Depois de tentar inutilmente desperta-lo Ejiogbe recolheu a chave do dia e voltou pra casa onde eram esperados por Ofun.
Onde esta teu irmão, o guardião da chave que conduzes? Perguntou Ofun Meji.
Ele bebeu muito vinho de palma e embriagado adormeceu. Tentei acorda-lo, mas foi em vão. Como já era hora de guardar
a chave do dia, resolvi trazê-la eu mesmo e entregá-la a minha mãe.
-Tu não bebestes?
-Não!
-E Teu irmão bebeu sozinho?
-Não! Bebeu, na companhia de muitas pessoas!
-Sendo assim, confiarei a ti a guarda desta chave. Tu substituirás teu irmão.
Quando Oyeku chegou, foi interpelado por Ofun Meji: -Por que desobedecestes minhas ordens bebendo bebidas fermentadas e te embriagando?
-Não resisti a tentação diante do vinho. O pior é que perdi a chave que me confiastes.
-Felizmente ela não está perdida, teu irmão Ejiogbe recolheu-a, enquanto dormia e a trouxe para casa. Não mereces mais a minha confiança. De hoje em diante obedecerás as ordens de teu irmão mais novo.
Foi depois disto que Ejiogbe passou a ocupar o primeiro lugar entre seus irmãos. Destituído de suas funções, Oyeku Meji resignou-se em servir fielmente a seu irmão, o que despertou a piedade de Ejiogbe, que um dia, disse a sua mãe : Oyeku é meu irmão mais velho. Em decorrência de sua falha foi reduzido a meu servo. Não poderias tu, dar-lhe uma nova ocupação? Não é muito agradável para mim ter que dar ordens a meu irmão mais velho. Uma vez que me confiastes a guarda do dia e da luz, por que não confias a ele, a guarda da noite e das trevas?
Ofun aceitou a sugestão e, depois disto, Oyeku passou a ser responsável pela noite.
Dele dependem os kuvito , o sono dos homens e tudo o que acontece durante a noite, seja na terra, seja no ar, seja sob as águas.
Tempos depois, Ejiogbe pediu a Ofun que criasse, para iluminar a terra, o Sol, uma lua e várias estrelas. Ofun Meji confiou-lhe então, esta delicada missão, dando-lhe, como auxiliar, nada menos que Elégba, com ordem de reunir todos os pássaros existentes no mundo, de os matar e lhe entregar o seu sangue pra que pudesse fazer alguma coisa.
O mesmo deveria ser feito com todos os animais e com todos os homens.
Egiogbe, auxiliado por Elégba, fez todo o possível pra reunir todos os pássaros e, matando-os recolheu o seu sangue, fazendo o mesmo com todos os animais e com todos os homens.
Apesar dos esforços, muitos pássaros, animais e homens, conseguiram escapar. É por isto que, ainda hoje, Elégba percorre os quatro cantos do mundo em busca de pássaros, animais e homens, na tentativa de captura-los. Os sangue recolhidos foram depositados em três grandes jarras e cozidos no fogo.
Do sangue dos homens foi fito o Sol.
Do sangue dos animais foi feita a Lua.
Do sangue dos pássaros foram feitas as estrelas.
Obtida a transformação desejada, Elégba apresentou o resultado a Ofun Meji e então Oduduá ordenou: Levanta-te Sol e lá do alto reina sobre o dia ! Lua levanta-te! Tu reinarás sobre a noite ! Estrelas, subam ao céu, Vocês reinarão sobre a madrugada!
REVELAÇÃO
Quando Ifá estava ainda no ventre de sua mãe, pediu que seu pai pegasse um boi malhado de branco e oferecesse em sacrifício, a fim de evitar que dentro de três anos, uma guerra viesse dizimar o seu reino.
Seu pai negligenciou o sacrifício e no dia do nascimento de Ifá, seu pai morreu e sua mãe foi capturada como escrava.
Três anos depois, a guerra arrasou o país e Ifá mandou que Ajinoto, a parteira, o encerrasse dentro de uma cabaça, de forma que ninguém o pudesse ver.
A parteira foi encarregada também, de avisá-lo logo que alguém passasse por perto, para que ele revelasse ao passante, a causa de seus sofrimentos e os remédios e sacrifícios que resolveriam todos os seus problemas. Tudo ocorreu da forma como Ifá planejara e o homem que passou naquele local, não hesitou em levar para sua casa, a cabaça onde Ifá havia sido encerrado.
Para deslumbramento de todos, Ifá, de dentro da cabaça, dava conselhos, receitava medicamentos e resolvia os mais difíceis problemas.
Um dia, Ifá ordenou que alguém se dirigisse ao mercado onde, pelo preço de quarenta e um cauris, deveria comprar sua mãe que estava sendo vendida junto com outras escravas.
-A primeira mulher que for oferecida deve ser comprada, pois esta é minha mãe.
Naquela época, Ifá costumava aceitar sacrifícios humanos no festival de Fanuwiwa.
Quando a escrava adquirida no mercado foi trazida, Ifá ordenou que lhe fosse entregue certa quantidade de milho, para que pilasse e transformasse em farinha destinada a preparação do amiwo.
Enquanto pilava o milho, a mulher ouvia os consultantes invocando Ifá, Orunmila! Akefoye! Agbo wi dudu nu do fe to! Orunmila! Akefoye! Se teu nome é Ifá, jamais esquecerás de mim!. Reconhecendo em Ifá o seu próprio filho, a pobre mulher pôs-se a cantar em voz alta a saudação que ouvia: -Orunmila! Akefoye! Agbo wi dudu nu do fe to!
As pessoas contaram a Ifá sobre a mulher que cantava aquela saudação enquanto pilava o milho e Ifá ordenou que ela largasse aquele trabalho e que, no dia seguinte pela manhã, chamasse por ele, junto com seus fiéis, para que pudesse mostrar a todos de que forma deveria ser corretamente alimentado.
Ordenou ainda, que fosse preparado um akpakpo e dois panos brancos de cabeça denominados kpokun abuta, proibindo a todos de olharem para aqueles objetos.
Como Ifá vivera até então, fechado dentro de sua cabaça, jamais havia sido visto por ninguém. Quando todos se afastaram, Ifá saiu de sua cabaça coberto por um grande chapéu, vestindo um avental de pérolas e calçando sandálias, indo sentar-se no alto de um tripé de onde gritou:
-Olhem bem, sou eu Ifá! que ninguém viu jamais.A mulher que mandei comprar no mercado de escravos, deve ser trazida até aqui!
A mulher foi trazida a sua presença e Ifá mostrou-a a todo mundo, dizendo: Olhem bem, esta é minha mãe! Quando eu estava no seu ventre, determinei que meu pai deveria sacrificar um boi malhado de branco, para evitar malefícios que já estava previstos, más meu pai não atendeu minha orientação e todo mal acabou por se concretizar. Tanto tempo se passou e eu comprei esta escrava para ser sacrificada em minha honra. Entretanto não sacrificarei, não poderia trair minha própria mãe, mesmo que ela me tenha traído.
Dito isto, ordenou que cortassem os longos cabelos de sua mãe, que envolvessem sua cabeça com um belo torso branco e que a instalassem sobre a almofada akpakpo. Depois pediu um boi e um cabrito para serem sacrificados. Com a farinha moída por sua mãe, mandou preparar um amiwo para ela, que não poderia ser comido em sua presença. Desta forma, assentada sobre um akpakpo, transformou-se ela em Nã, mãe de um rei.
Aos jovens que prepararam as carnes do boi e do cabrito, assim como o amiwo, ordenou que fosse dado uma parte de cada coisa, para que comessem depois da cerimônia. Depois das cerimônias de Nã, aqueles que prepararam os alimentos a ela oferecidos, recebem uma pequena parte destes alimentos, parte esta que recebe o nome de kle ou kele e que só pode ser consumido depois que o Vodun for servido.
SALVAÇÃO
Em um certo tempo um homem que se achava em situação tão precária e em tal aperto, que não via de lado algum qualquer milagre que pudesse salvá-lo.
Ele resolveu ir até a casa de um oluô fazer o ebó indicado.
Feito tudo...lá se foi ele para um lugar reservado, acendeu o fogo, em seguida colocou as pimentas maduras no lume e pôs-se a receber fumaça nos olhos.
Em um dado momento, ia passando um príncipe reinante e herdeiro do trono. Observando aquela cena de sofrimento espontâneo, admirou-se do tal sujeito,que, no dizer dele, estava procurando o meio mais curto possível para pôr termo à existência.
O príncipe, condoído com aquilo, o fez chegar aos seus pés e indagou dele o que havia ou o que queria dizer aquilo.
Sem demora, o homem historiou a razão daquele ato de castigar a si próprio.
Tratava-se de compromissos inadiáveis, que ele não podia cumprir. Disse o príncipe que, tendo pena dele, não consentiria tal cena. Também sem hesitação, o príncipe mandou-lhe uma verdadeira fortuna, com o qual o homem poderia viver toda a sua vida, sem o menor vexame.
SEJA BENVINDA
A mãe de Ifá disse então a seu filho que sentia-se muito envergonhada pois não merecia tantas honrarias e que naquela dia iria encontrar-se em Lõ , com seu finado esposo.
-A partir de hoje, quando fizerem uma cerimônia em minha honra, digam:Nã Kuagba!- e virei receber as oferendas. Disse a mulher.
Nã disse ainda, que faria o Sol tornar-se mais brando ou mais quente, comandando-o de cima de seu akpakpo. A partir de então, realiza-se sempre o ritual de Xe Nã , quando terminam os festivais Fanuwiwa.
SEM TETO
Naquele tempo, o céu e a terra estavam tão perto um do outro, como o teto do chão sendo que a terra era habitada por homens muito pequenos, muitíssimo menores do que os de hoje existem.
Céu e Terra eram então muito amigos e costumavam ir juntos a caça de animais, que sempre dividiam de maneira igual entre si.
Sempre que Céu capturava alguma caça, oferecia uma parte a Terra, que agia da mesma maneira quando abatia qualquer animal.
Certo dia durante a caçada Terra capturou um emon.
Na hora de repartir o animal, Terra falou:Como Sou mais velha, ficarei com a parte da cabeça.

Ao que Céu retrucou: Sabes muito bem que sou maior e portanto a parte da cabeça deste animal, cabe a mim por direito. Dá-me logo essa parte e não se fala mais nisso! Como não chegasse a nenhum acordo, Céu furioso, resolveu afastar-se de Terra, indo morar muito distante de seu ex-amigo.
Com o distanciamento de Céu, Terra ficou muito árida, por falta de chuva, o que provocou um total desequilíbrio no ciclo de vida. As sementes deixaram de germinar, as fêmeas deixaram de gerar filhos e desta forma, tudo estava condenado a desaparecer.
Diante do problema, os homens e, dirigindo-se a Terra, recomendaram:Para apaziguar a ira de Céu, deves caçar outro emon e enviá-lo a seu ex-amigo.
Terra tratou então, de abater outro emon, que foi transportado pelos pássaros, a nova morada de Céu.
Foi o pássaro Aklãsu, o encarregado de fazer o transporte, sob a promessa de lhe ser construída uma casa, em pagamento.
Quando Aklãsu voltava de sua missão, foi apanhado a meio caminho, por uma forte chuva, que Céu enviara em agradecimento a gentileza recebida. Ao chegar à Terra, Aklasu percebeu que a casa que lhe haviam prometido não fôra sequer construída, tendo que permanecer ao desabrigo. Diante disto, disse aborrecido:
-Vocês não foram fiéis ao que me prometeram, más não faz mal, minhas grandes asas são mais que suficientes para me protegerem da chuva!.
É por isto, até hoje, não se vê o Aklasu se esconder da chuva por mais forte que ela seja. Pousado nos galhos das mais altas árvores, protege a cabeça com as próprias asas e pensa:
-Amanhã, logo que esta chuva passar, construirei uma casa para mim!
A chuva passa ele diz: Para que preciso de uma casa? Não existem inúmeras casas para mim, entre todas as árvores?
E voa feliz sob os raios do Sol, agitando suas imensas asas para seca-las.
SURPRESA
Kpo,era, por sua força e astúcia, o animal mais temido e odiado da floresta. Um dia, todos os bichos reuniram-se para arquitetar uma maneira de se livrar definitivamente do tão indesejável vizinho.
Informado do que estava ocorrendo, Kpo consultou o Bokonõ, surgindo Irosun Meji na consulta, que lhe determinou ser oferecido um sacrifício composto de dois galos, um etu, epo pupá, mel, oti e bastante algodão.
No dia do ebó, depois de oferecer o sacrifício, o Bokonõ envolveu cuidadosamente, as patas do Kpo com o algodão, libertando-o em seguida. Ao aproximar-se da praça onde todos os bichos estavam reunidos, o leopardo caiu num grande buraco, que haviam preparado como armadilha para ele e no fundo do qual haviam colocado muitos espinhos, com a intenção de provocar-lhe sérios ferimentos nas patas, o que o deixaria indefeso diante de seus inimigos. O algodão colocado ao redor de suas patas, serviu de defesa contra os espinhos e Kpo incólume, saltou do interior do buraco, colocando em fuga aqueles que pretendiam fazerlhe mal.
TAMANHO NÃO É DOCUMENTO
Titigotin, passarinho muito pequeno e malvado, de penas acinzentadas, afirmou um dia ao elefante Ajinaku, que poderia vencê-lo em combate singular.
Espantando com tamanha ousadia, Ajinaku indagou:
Como poderás, pequeno como és, ocasionar-me algum dano para derrotar-me?
O pássaro no entanto, continuava a afirmar que podia derrotar o elefante que, para não ficar desmoralizado, teve que aceitar o desafio. No dia marcado, Titigotin, antes do combate, aconselhou ao elefante que se alimentasse bem, para que não viesse atribuir a derrota a algum estado de fraqueza, por encontrar-se mau alimentado.
Antes da luta, Titigotin reunira algumas pedras vermelhas chamadas zen, que depois de transformadas em pó, foram misturadas com água, produzindo um líquido pastoso, muito parecido com sangue, tendo em seguida, guardado o líquido numa pequena cabaça chamada atukungwe. Do fundo do rio, recolheu pedaços de calcário, com os quais produziu uma pasta branca ainda mais espessa, que guardou noutra cabaça. O mesmo foi feito com pó de carvão vegetal que, depois de misturado com água e transformado numa pasta negra, foi guardado numa terceira cabaça.
Naquela época, reinava no país um rei muito bondoso, cujo nome era Dada She. Curioso em saber de que forma o valente passarinho tencionava derrotar seu enorme adversário, Dada She dirigiu-se a floresta para, em companhia dos animais selvagens, assistir à curiosa luta. Em dado momento, Titigotin declarou-se pronto para o combate e solicitou ao rei que autorizasse o inicio da luta. Ao sinal, munido de suas três cabaças, pousou na cabeça do elefante que pôs-se a rir, sacudindo a tromba, na tentativa inútil de afugentar Titigotin que, dotado de grande agilidade, mudava sempre de lugar.
Da orelha do elefante, voava rápidamente para a testa e dali para o alto da cabeça, evitando as violentas pancadas que o elefante desferia com a tromba, na intenção de atingi-lo.

Agora, o elefante já estava realmente irritado, vários golpes desferidos com sua própria tromba haviam martelado violentamente sua própria cabeça e o passarinho continuava firme.
Em determinado momento, Titigotin derramou, sobre a cabeça do elefante, o liquido vermelho que armazenara na primeira cabaça, voando em seguida até Dada She, a quem solicitou um médico para examinar Ajinaku que, segundo ele, estava acometido de forte hemorragia, proveniente de um grande ferimento no alto da cabeça. Ao ver o que julgou ser sangue, Dada Shé admoestou Ajinaku:
-Como pudestes ser tão gravemente ferido por um passarinho tão pequeno?
Ajinaku, como não sentisse nenhuma dor, passou a tromba sobre a cabeça e ao vê-la suja do líquido vermelho, que também pensou ser sangue, tomou-se de grande fúria e resolveu acabar com a brincadeira.
-Ao combate!Bradou irado e o passarinho pôs-se novamente a voltear sua cabeça.
Dada Shé que a tudo assistia, exclamava indignado:
-Que vergonha! E todos os animais repetiam em coro: Que vergonha!
Titigotin gritava:Renda-se Ajinaku, ou racharei seu crânio e seu cérebro será espalhado pelo chão!
-Jamais! ...bradava cada vez mais irritado o elefante, chocando a própria tromba contra a cabeça, cada vez mais violentamente, tentando desta forma, atingir o adversário.
E a luta prosseguia cada vez mais acirrada.
Em dado momento, Titigotin derramou sobre a cabeça de Ajinaku, a pasta branca da segunda cabaça e gritou pra Dada Shé:
-Veja! Ajinaku teima em continuar a luta apesar do meu aviso e agora seu cérebro já começa a escorrer através de seu ferimento!
Dada She, vendo a pasta branca escorrendo da cabeça do elefante, pede-lhe que se renda e este, cada vez mais furioso, afirma que seu crânio não pode estar fraturado, uma vez que não sente nenhuma dor, absolutamente nenhuma! Com a visão prejudicada pela pasta que já lhe penetra os olhos, Ajinaku continua a castigar-se, com golpes cada vez mais violentos de sua própria tromba, enquanto Titigotin voa agilmente ao redor de sua cabeça e de seu imenso corpo.
Decidido a acabar com a luta, a avezinha derrama o conteúdo negro da terceira cabaça, sobre a cabeça de seu contedor e chamando o rei, mostra-lhe o que considera uma verdadeira catrastrofe:
-Veja, ele não agüenta mais! Seu sangue, seus miolos e tudo o que escorre do seu crânio estão completamente negros! É gangrena, sem dúvida! Isto é sinal evidente de morte e eu me nego a continuar a dar combate a um moribundo!
Todos viram a pasta negra escorrendo da cabeça do elefante, mas ninguém, nem de longe, desconfiou do artifício utilizado pelo passarinho.
Desolado, Ajinaku lamentava:Sim... ele me matou...
E muito envergonhado, pôs-se a bater a cabeça contra as árvores, até ferir-se mortalmente.
VIRADA NA SORTE
Um certo príncipe, tendo ficado na mais absoluta miséria e não agüentando as privações às quais estava sendo submetido,resolveu dar fim a própria vida.
Munido de uma corda, internou-se na floresta em busca de uma árvore onde pudesse enforcar-se.
Já no interior da floresta, encontrou um pobre leproso coberto de chagas, sem roupas nem comida, que apesar de tanta infelicidade, lutava para sobreviver, procurando naquele lugar, folhas e raízes, que pudesse matar sua fome e amenizar suas dores. No desespero de seu sofrimento, o leproso tentava colocar a água de um igbi sobre sua própria cabeça, com a intenção de refrescá-la e alivia-la do terrível calor que a tudo castigava.
Chocado com o que viu, o príncipe retornou a sua aldeia e lá chagando, ofereceu um ebó que lhe determinou o Oluô.
Poucos dias depois de haver oferecido o sacrifício, chegou a noticia de que o rei do pais havia falecido e ele, como parente mais próximo, fora indicado para substituí-lo no trono.
Em sinal de agradecimento, o novo rei mandou buscar o pobre leproso que vivia internado na floresta, oferecendo-lhe conforto e tratamento para sua doença.
VÔMITO PRECIOSO
Quando se encontrava no céu perto de Mawu, o caramujo Aje se chamava Aina e era do sexo feminino.
Naquela época, Fa Ayedogun passava por sérias dificuldades financeiras e, por ser muito pobre, não era convidado a participar de qualquer festa ou reunião social.
Aina, recém nascida, era muito feia.
Sua aparência terrível fazia com que todos evitassem sua companhia e ninguém aceitava tê-la em casa.
Depois de ser rejeitada em todas as casas, Aina bateu na porta de Fa Ayidogun, que apesar do estado de miséria em que se encontrava, acolheu a menina.
Uma bela noite, Aina acordou Fa, anunciando que estava prestes a vomitar.
O hospedeiro apresentou-lhe uma tigela para que vomitasse, mas ela recusou-se.
Uma cabaça foi trazida e também recusada e depois, uma jarra foi objeto de nova recusa.
Fá perguntou então, o que poderia fazer para ajudá-la e Aina disse:
-Lá no lugar de onde venho, costuma-se vomitar todos os dias, no quarto.
Conduzida ao quarto, Aina começou a vomitar todos os tipos de pedras preciosas, brancas, azuis, vermelhas, verdes, etc.
Naquele momento, um marabu que passava, penetrou na casa de Fá e perguntou por Aina.
Ela está no quarto, acometida por uma crise de vômitos. Respondeu Fá.
O estrangeiro foi ver o que se passava e ao deparar com Aina vomitando pedras preciosas, exclamou:
-Ha! Nós não conhecíamos os poderes de Aina, hoje revelados!
Disposto a serví-la, colocou-lhe o nome de Anabi ou Ainayi.
SORTE
Conta-se a história de um homem que era escravo e um dia se viu abraçado em um eminente perigo.
Este homem foi amarrado por dele terem dito que cometera um crime.
Segundo as leis daquela terra, botaram o homem num caixão grande todo pregado e deitaram a caixa rio abaixo.
Por uma dessas coincidências que sempre acontecem no destino das criaturas, a correnteza lançou o caixão na praia duma cidade cujo o rei estava morto e enterrado, e onde os súditos ainda estavam guardando luto.
Acontece que ali haviam muitos príncipes com direito a sucessão imediata, mas sobre todos pesava alguma grave acusação, de forma que não se sabia como haviam de decidir o complicadíssimo problema da sucessão do rei morto, como nunca jamais acontecera na história do dito povo.
Depois de muito cogitar do assunto, foi decidido que marcassem um prazo para surgisse uma pessoa estranha àquela nação que assumiria o governo e seria o rei daquela terra daí em diante.
Dito e feito, esse homem, que tinha antes do cativeiro feito uma oferenda que o babalaô determinara, veio ele se esbarrar, dentro do caixão, na praia de ibim, onde o acolheram e imediatamente o elegeram rei daquele povo. Assim ficou ele sendo o venturoso rei de uma nação. Onde só o destino ODÚ poderia dar tamanha sorte.



pai vim deixar minha marquinhaaaaaaaaa em seu blog! ESTA COMO SEMPRE MUITO ORGANIZADO E CHEIO de NOVIDADESSSSSSSS! beijo lu
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